Por Caio Machado
A história do músico Bertone Gomes começa com o nascimento do mesmo em Patos de Minas, no Hospital Imaculada Conceição. Ele residiu com a família até os três anos de idade numa roça no povoado de Bom Sucesso, mudando-se para a cidade quando as irmãs mais velhas atingiram a idade de começar a estudar.
Logo na primeira semana, enfrentaram um alagamento na casa que alugaram nas proximidades da Avenida Fátima Porto, após uma chuva. Não demorou para que se mudassem para o Bairro Morada do Sol, onde o músico relata ter vivido uma infância saudável, antes mesmo do bairro modernizar e abrigar algumas fábricas.
“A Avenida Patrício Filho ainda não era duplicada, não havia muita coisa e costumávamos a chamar o bairro de terreirão”, contou Bertone. As atividades dele se resumiam em brincar de bola na rua e vez ou outra ir até a lan house do bairro para jogar ou acessar a internet.
Foi neste bairro que Bertone, aos oito anos, teve o primeiro e decisivo contato com a música. Com a chegada do novo vizinho chamado Hilário, descrito por ele como uma alma viajante e progressista, pôde aprender os primeiros acordes no violão e a tocar a música “Pra não dizer que eu não falei das flores”, de Geraldo Vandré.
Uma de suas irmãs possuía um violão, mas havia o deixado de lado. Foi a deixa para que Bertone levasse o violão ao vizinho, que afinou o instrumento para que ele aprendesse a tocar. Logo nos primeiros dias, o cavalete do violão arrancou e o pai dele teve de leva-lo para consertar em um luthier.
Hilário permaneceu nas redondezas por apenas três meses, mudando-se novamente e deixando o garoto às minguas e sedento por novos aprendizados. Ele aproximou-se de Seu Jair, um vizinho que morava em frente e tocava músicas de sertanejo raiz no violão. Ele estava determinado a aprender, independente do gênero musical.
Outro contato marcante com a música, surgiu devido a uma banda que tocava covers de Pink Floyd em uma casa do bairro. Bertone não se lembra do nome do grupo, mas recorda claramente que ao término de cada ensaio dos rapazes, ia para a porta de casa tocar violão para tentar chamar a atenção dos músicos.
Numa destas tentativas, um dos integrantes da banda chamou o garoto para conversar e ensinou-lhe um riff no violão. Bertone perguntou se o rapaz era guitarrista e ele negou, dizendo-lhe que ele era baterista. Naquele momento, ele percebeu que a música poderia ser algo repleto de muitas possibilidades.
Os anos se passaram e aos 14 anos, Bertone ingressou para o Conservatório Municipal Galdina Corrêa da Costa Rodrigues, onde estudou um pouco de teoria musical e pelo período de um ano, fez aulas de violão popular com o professor Eduardo Barcelos “Dunga”, do qual afirmar nutrir admiração.
Ele não permaneceu o bastante no conservatório, porém aos 16 anos, decidiu que deveria fazer algo da vida em relação à música. Nesta época ele frequentava todo tipo de bar que promovesse música ao vivo, acompanhando cantores de pop rock nacional e internacional, além de grupos de pagode e samba.
Um destes grupos de samba se apresentava aos domingos no extinto Alibapatos. Bertone decidiu quebrar a rotina e ir ao local num sábado, deparando-se com o músico Cláudio Rockstar, de Carmo do Paranaíba, que apresentava canções acústicas dos Beatles e Engenheiros do Hawaii.
O jovem fascinado com o show pedia que ele tocasse algumas canções com insistência. Ao invés de executá-las, Cláudio convidou Bertone para tocar enquanto tirava um intervalo. Bertone cantou algumas músicas de Zé Ramalho, gostou da experiência e da interação com o público e percebeu que aquilo poderia ser uma possibilidade.
Motivado a seguir a trajetória musical, Bertone entrou no site “Forme sua banda”, da plataforma Cifra Club e se inscreveu como vocalista. Em poucos meses ele foi contatado por e-mail pelo guitarrista Antonelly Ricardo, que também estava à procura de montar uma banda.
“Eu abri o jogo com o Antonelly e disse que nunca havia tocado em outra banda antes, mas que estava bastante disposto. Ele confiou em mim e montamos a banda “Sete por Um”, com o baixista Luis, que ainda nem sabia tocar e o Geraldão da bateria”, relatou Bertone, que na ocasião estava com 17 anos.
Com a banda Sete por um, Bertone conseguiu participar de festivais em Patos de Minas e região, e teve contato com o pessoal do Coletivo Peleja, que organizava eventos como as Noites Fora do Eixo e o Festival Marreco, evento que a partir da quarta edição passou a ser apresentado pelo músico.
“Comecei a morar na antiga sede do Coletivo Peleja e fui convidado para fazer algumas inserções durante o Festival Marreco, anunciando as bandas e agradecendo apoiadores e patrocinadores”, disse o músico, que desde então se tornou o porta-voz do Festival Marreco.
A banda de Bertone se desfez e em 2017, o artista selecionou algumas canções e decidiu se arriscar em carreira solo. Ele lançou o EP “Ainda não falei nada”, produzido por Alan Girardeli no Estúdio DaumRec, altamente influenciado pela soul music, funk e música popular brasileira.
O trabalho rendeu a gravação de um clipe em Belo Horizonte para o single “Ah Mulher”, no ano de 2018. O vídeo rodado em locais como a Serra da Moeda e o Bairro Savassi, foi dirigido por Fred Chamone e contou com a participação da Miss Minas Gerais 2017 Pâmella Soull e de dançarinos dos grupos BH Soul Power e Axtral.
No mesmo ano, Bertone se apresentou no Festival Balaio de Arte e Cultura, com um espetáculo que contava a história da cidade por meio de nove canções. A banda dele contava com os músicos Cidy Santos (bateria), Giordano Bruno (saxofone),
Junio César (teclado) e Marcelo Martins (baixo).
Devido à pandemia, o músico segue isolado produzindo sozinho em casa as 13 canções que farão parte do primeiro álbum solo da carreira. Segundo Bertone, será um disco de rock totalmente independente com influências de gêneros musicais diversos como reggae, soul e funk.
“Não quero me prender à rótulos, mas já adianto que será um rock com bastante suingue. Escrevo minhas músicas para que as pessoas possam curti-las, dança-las e senti-las”, finalizou o músico, que pretende concluir e lançar o álbum ainda no ano de 2020.
Apoie o jornalismo independente e colabore com doações mensais de a partir de R$1,99 no nosso financiamento coletivo do Padrim: https://padrim.com.br/jornaldepatos
0 Comentários
Obrigado por comentar!