Fome

Por Rubens Alves Veríssimo


O homem criou o mal para o semelhante,
Assim o bem lhe seria possível.

Tornou-se paisagem a velha que vasculha o lixo.
As mãos sôfregas e famintas,
Os olhos pesados pelo desalento,
Uma carcaça em movimento.

- O sentimento de pesar que te possa ocorrer
Não surge em ti.
A miséria está aí. A tristeza está aí.
Não te furtes a achar que o sentimento é teu.

Deve haver algum jeito de equalizar a balança.
Penso que eu poderia ser esse herói,
Não fosse também um covarde segurando a própria pança.

Também penso:
Toda noite, quem regurgita, come

O meu desejo é que o mundo inteiro morra de fome.


Rubens Alves Veríssimo é funcionário público, músico e estudante de Biotecnologia pela Universidade Federal de Uberlândia

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2 Comentários

  1. Sem contar que quando nossa fome cessa, a fome insaciável dos vermes tem um breve intervalo e o repasto de restos humanos, mesmo esquálidos e encarniçados são um banquete, ainda que esteja frio e virulento e amarelo...

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