Arthur Marins: um oboísta patense nas orquestras paulistas

Por Caio Machado

Imagem: Essi Ruokonen

Desde 2017, o patense Arthur Sousa Kontio Marins reside em São Paulo e já atuou como oboísta em orquestras nos municípios de Mogi das Cruzes e Guarulhos. Aos 25 anos, o músico encontrou refúgio no oboé, um instrumento de sopro de madeira desconhecido por muitos, porém vastamente presente em obras de música clássica atemporais.

Em entrevista ao Jornal de Patos concedida via WhatsApp, Arthur Marins narra fatos da trajetória musical que teve início durante a infância, das passagens pelo Conservatório Municipal Galdina Corrêa da Costa Rodrigues, da decisão de cursar música em Uberlândia e sobre a mudança para o estado paulista. Leia na íntegra a seguir:

Jornal de Patos: Quando o interesse pela música despertou em sua vida?
Arthur Marins: Na minha infância mesmo eu já tinha interesse em música, tendo começado meus estudos na primeira série, no Colégio Marista, com a professora Inês Oliveira. Na época estava com seis anos e as aulas na escola eram de flauta doce. Eu lembro que era muito legal ficar estudando as músicas da aula e especificamente de sempre tocar nos sábados de manhã. Acredito que dois anos depois, por volta de 2004, foi quando entrei no conservatório pela primeira vez. Lembro que sob a tutela da Inês havia o grupo de flautas, e junto com o grupo me lembro de ter apresentado em alguns locais de Patos de Minas. Comecei a cursar o teclado no conservatório nessa época também, mas não levei muito em frente. Alguns anos depois, por volta de 2008, na minha sétima série no Colégio Nossa Senhora das Graças, comecei a estudar baixo numa aula de música da escola. No fim do ano, um amigo que também estudava piano no conservatório na mesma ocasião, me passou algumas pastas de músicas clássicas baixadas por ele e com isso comecei a ter maior interesse nessa área da música. No ano seguinte, com esse mesmo amigo, comecei a frequentar os concertos do Terra Sem Sombra e, mesmo tocando baixo, comecei a estudar peças do repertório clássico no instrumento. Daí, logo depois, voltei para o conservatório e em 2010 estava estudando violino com o professor Paulo Machado.

JP: Falando no Projeto Terra Sem Sombra, algum concerto foi marcante para sua trajetória musical?
AM: Dos vários concertos do Terra Sem Sombra que frequentei, um deles se destaca bastante na minha memória e na importância na minha vida: O concerto do Quinteto Brasilia em setembro de 2011. Foi nesse concerto que vi e ouvi pessoalmente um oboé pela primeira vez na vida, com o José Medeiros, oboísta da orquestra nacional do teatro Cláudio Santoro, que toca no Quinteto Brasília. Foi bastante marcante porque mesmo ouvindo oboés em gravações e vídeos na internet, ouvir pessoalmente é bastante diferente, ainda mais que gravar o som do oboé é muito complicado e normalmente o som fica muito ruim em gravações não-profissionais. O som do instrumento despertou meu desejo de tocar oboé, principalmente depois de ouvir pessoalmente, mas morando em Patos não seria possível porque não existia o curso do instrumento no conservatório e acho que, nessa época, nem instrumentistas também. Mas a semente oboística havia sido plantada. Aí continuei participando de grupos no conservatório e aulas também, até sair de Patos em 2014. Nesse último ano teve um dos melhores cursos de música que eu participei, o curso de linguagem e estruturalização da música do professor Mário Reilli. Foram aulas muito divertidas exatamente por aprofundar na teoria da música combinando com aulas práticas, tanto tocando com os colegas quanto ouvindo músicas e trazendo materiais para as aulas. Essas aulas culminaram no concerto de fim do ano onde tive a oportunidade de tocar um concerto do compositor Georg Philipp Telemann (1681-1767) para flauta doce e flauta transversal, junto com o professor Holmes Molinari na flauta transversal e acompanhado dos professores Stênio Garcia, no violão, Mario Reilli, tocando cello, Paulo Machado e Tiago Borges (Na época aluno do conservatório e hoje é professor lá!), ambos tocando violino.

Arthur se apresentando com a turma de flautas de Inês Oliveira em meados de 2004, na Decorfest.

JP: Quando foi que você começou a cursar música?
AM: Nesse mesmo ano eu havia começado a faculdade de engenharia ambiental, mas por mais que eu gostasse da área, foi uma dicotomia muito estranha entre o "mundo normal" e o "mundo da música", aí acabei decidindo seguir na música mesmo e entrar na faculdade de música. Meus pais incentivaram essa a decisão e não lembro de sentir nenhuma resistência da parte deles. Aí em 2014 iniciei o curso de licenciatura em flauta doce da Universidade Federal de Uberlândia. Cursei boa parte do curso, conheci grandes musicistas e toquei ótimos repertórios, mas logo no segundo ano lá já tinha ideia que o curso de licenciatura não era o foco certo para mim na música. Entrei no PIBID (Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência) e com isso consegui comprar meu primeiro oboé e começar a estudar oboé com o oboísta Washington Santos, da banda sinfônica de Uberlândia.

JP: Fale um pouco sobre o oboé.
AM: O oboé é um instrumento muito peculiar por que ele é conhecido no mundo da música clássica mas ao mesmo tempo não se acha muitos instrumentistas, mesmo em grandes centros como São Paulo e Brasília. No interior então é mais complicado ainda achar músicos. Não ajuda nem um pouco que o oboé, junto com os outros instrumentos de palheta dupla da orquestra, é um instrumento bem caro que requer muito treino e estudo pra tocar coisas relativamente básicas ou mesmo conseguir fazer um som no instrumento. Isso porque, pra tocar os instrumentos de palheta dupla, é necessário vibrar, soprando, dois pedaços de uma cana flexível (arundo donax). Aí tem um todo trabalho artesanal de processar a cana, cortar, moldar, goivar, amarrar e raspar ela pra conseguir tocar o instrumento. É um longo processo pra aprender isso e conseguir estudar o instrumento ao mesmo tempo, tanto que normalmente o professor de oboé é quem faz as palhetas para o aluno no início.

JP: Seguir pelo oboé parece ter sido uma escolha natural para você, certo?
AM: Logo no meu segundo ano na UFU tive um vislumbre de qual realmente seria a área da música clássica que eu queria seguir atuando, pois, mesmo com pouca experiência com o oboé me, aventurei a tocar na orquestra do conservatório Cora Pavan Capparelli. Daí virou uma grande bola de neve: tocar na orquestra me motivava a estudar e eu estudava bastante para conseguir tocar o repertório e melhorar no oboé. Em 2015 também participei do CIVEBRA (Curso Internacional de Verão da Escola de Música de Brasília) tendo aulas com o professor Joel Gisiger, primeiro oboé da OSESP (Orquestra Sinfônica do Estado De São Paulo). Infelizmente Uberlândia (ou Patos de Minas) não tem uma orquestra no corpo de funcionários da cidade, e uma orquestra na cidade é parte fundamental da vida cultural de um lugar. Essa acabou sendo uma das razões que influenciaram bastante minha decisão de ingressar no curso de bacharelado em oboé, na Universidade Estadual Paulista (UNESP) em São Paulo.

Com a Sinfônica Jovem de Mogi das Cruzes, em 2019 no Theatro Vasques.

JP: Como foi sua ida para a capital paulista?
AM: Em 2017 me mudei para São Paulo e comecei a estudar com o professor da UNESP, Arcádio Minczuk, também primeiro oboé da OSESP (Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo). E é interessante que, estando em São Paulo, estudando oboé, podendo escolher quais concertos assistir no fim de semana, em várias orquestras e várias séries de música de câmara, começa a fechar o ciclo da vida cultura/estudante de música clássica. Não só há oportunidades de estudo e aprendizagem, mas também existem oportunidades de exercer o apreendido nas várias orquestras profissionalizantes que existem na região metropolitana de São Paulo. Exatamente em uma dessas orquestras, a Orquestra Jovem De Mogi das Cruzes, eu consegui uma vaga em junho de 2018. Em 2019, logo em fevereiro, consegui passar na minha segunda orquestra profissionalizante, a Orquestra Jovem Municipal de Guarulhos e também comecei a estudar na Escola Municipal de Música de São Paulo com o Joel Gisiger. Foi um ano muito intenso estudando com dois professores e tocando em duas orquestras jovens, mas com toda certeza valeu muito a pena, pois em dezembro de 2019 foi criada a GRU Sinfônica. A GRU é a orquestra que em toco atualmente como segundo oboé e corne-inglês, é uma orquestra profissional, e foi muita sorte estar em uma orquestra profissional alguns meses antes da pandemia começar.

JP: E como tem sido para um oboísta lidar com a pandemia do Coronavírus?
AM: Me sinto verdadeiramente privilegiado, pois a pandemia provoca muito estrago na área da cultura e eu tenho a segurança de ter um emprego no meio disso tudo. Sobre estar tocando em orquestra durante a pandemia creio eu que o mais estranho é não haver público no teatro. No fim parece só um ensaio que está sendo gravado (ou transmitido) onde todos os músicos estão com suas roupas de concerto e existe só um silêncio depois da música, é muito estranho. Mas no fim é um privilégio gigantesco se comparado com outros tipos de músicos e musicistas, por que no fim o funcionamento da instituição das orquestras é mantido por um município ou estado. De forma muito parecida com o conservatório, onde o fim dele é prover a educação musical para sociedade patense, uma orquestra proveria cultura (e dependendo de como é organizada, aulas de música também) à sociedade. Assim como também as apresentações da orquestra e dos concertos de música de câmara são um grande norte para os músicos em formação. Por hora nesse momento da pandemia a GRU Sinfônica está fazendo lives, mas espero que as atividades possam voltar normalmente com o público no teatro em breve, e que mesmo com o público os concertos continuem sendo transmitidos.

O músico no primeiro concerto da GRU Sinfônica, em 2019.

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7 Comentários

  1. Parabéns Arthur pela sua trajetória!!!! 👏👏👏👏

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  2. Parabéns Arthur! 👏🏼👏🏼👏🏼

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  3. Parabéns pela dedicação e foco, você merece 👏👏👏

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  4. Parabéns e parabéns Artur. Em frente sempre

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  5. Parabéns pela sua escolha no Oboé .
    Sua presença desde criança nos concertos do Projeto Terra sem Sombra era sempre motivo de orgulho.

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