Cigarros

Por Treta

Talvez a minha vida seja definitivamente um cigarro
Não daqueles caros com maços bonitos e bem empacotados
Não!
Volta e meia sou a bituca que está jogada na calçada
Esperando uma nova enchente me levar a outro plano
Também sou aquele filtro sujo de batom
Da mulher linda e desconfiada
Que fuma seu cigarro com a maior plenitude que eu já vi em minha vida
Sou de forma irônica, a fumaça que alegra
Mas que é ingerida diariamente para afins que já não podemos mais simplificar apenas com poesia
De forma demasiada
Se sujeitando a nunca poder sequer
Ser preenchida
Por nada, nem sentimento algum
Não!
Sou a fumaça que embaça os olhares de psicopatas
Sou a única esperança daquela senhora de seus dias se acabarem
Pois já não aguenta mais ver que sua morte se aproxima de forma lenta e insuportável...
Já fui o que eu mais temi
Sou o único ser que pode tirar meus feitos dessa terra
Trago e prezo tudo aquilo que eu quero não só a mim mas ao próximo satisfazer
Minha rotina é viver um colapso
Me indagando
A cada trago
Sem pressa, sem tirar de cara conclusões
Pois meu maior estrago é trazer o que me mata junto comigo
As vezes exposto
Outras vezes no bolso
Outras vezes estampado em meu rosto
Enfim
Ainda assim continuo grato pelo o que tento transmitir
O que penso
O que desejo
Amo a minha vontade de amar
Já que nada me resta dessa juventude deprimida e "sozinha"
Sigo plantando o que posso
Como posso
Como me ensinaram
Como aprendi
Ainda mal cresci
Mas sinto que já tenho em meu peito todos os sentimentos do mundo
Como posso ter tanta certeza
Sem ao menos tê-la vivido
Sem ao menos tê-los sentido
Ou até mesmo
Ascendido
Meu cigarro chega ao filtro
Como tudo na vida
Eu penso
Já tenho 21 e ainda 19 filtros no bolso pra terminar
Insisto neles como umas das poucas alternativas para me trazerem paz
Mas como poeta
Vivendo infernos e dádivas
Tudo o que a gente suga
Absorver
A gente herda.


Conhecido como "Treta", João Paulo Reis tem 21 anos e é poeta e slammer.

🦆

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