Escrevendo na solitária

Por Mikael de Melo

Imagem: Pedro Custódio

No fim do dia descobriu que estava só.
Sempre estivera.
Refletiu sobre os últimos sonhos que tivera.
Respirou e abriu um sorriso, lembrando-se das memórias que inventara.
Divertindo-se, contou a uma amiga das fantasias que criara.
Riram juntos.

Calou-se. Disse a ela:

- Na falta de companhia, na ausência de almas humanas, na escassez de presença, meu cérebro me entretém.
- Viver diz respeito a isto. A preencher o cálice com o próprio suor – respondeu.
Bebi. Me embriaguei. Cambaleei. E inundado de mim, pensei:

Quantas visitas são necessárias
Ao universo interno e conflituoso
Pra perceber que, apesar de pavoroso,
Só se escreve bem nas solitárias?


Mikael de Melo é professor, poeta e ator nos grupos Tupam e Dell'arte Teatro. Graduado em Jornalismo, é ex-repórter da Rádio Jovem Pan.

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