Vestido de noiva em tempos de pandemia

Por Lorranne Marins

Imagem: Jeremy Jones

Enquanto descia com a barra de rolagem vendo notícias aleatórias sobre venda de jogadores, críticas a séries, pouso de nave da China, me deparei com aquela que talvez fosse a chamada menos empolgante dentre todas aquelas “vestidos de noiva em tempos de pandemia".

A princípio dei um sorrisinho de pensar em como deve ter sido interessante escrever aquela matéria. Como deve ter sido o processo criativo de uma pessoa que escreve sobre casamentos e precisava encontrar uma forma de chamar atenção para seus textos no atual cenário onde casamentos não são nem de longe a maior preocupação da maioria. Me diverti um pouco com a ideia criativa e resolvi ler o texto.

No texto é narrado como o mercado de casamentos, em específico aquele focado em noivas teve de se reinventar dada a atual situação. Casamentos mais intimistas, segundo a matéria, em virtude da nova restrição de pessoas que podem presenciar o momento, os casamentos em cartórios aumentaram, mas também precisaram ser mais reservados, com menos testemunhas, diante disso, as noivas vêm optando por celebrar seu dia com roupas mais simples, mas não menos especiais.

Achei interessante uma colocação que em essência afirmava que agora que a pompa não estava mais em jogo, e o casamento não era mais um espetáculo a ser exibido para algumas centenas de pessoas, permanecia o que era realmente importante. Logo, não quer dizer que o minimalismo tomou conta, e todas as noivas passaram a vestir um mesmo vestido branco liso sem corte específico, mas se quisessem agora elas podiam. Agora que o casamento era sobre os noivos, sobre o amor, e a vontade de celebrar esse amor mesmo em tempos tão difíceis, elas podiam se vestir para esse celebrar como bem queriam, primando por aquilo que lhes era importante. Um véu longo e desconfortável não fazia mais sentido se não fosse algo que a noiva realmente sempre quisera, um smoking completo quente e fechado não era mais tão importante e necessário se o noivo não fizesse questão. A roupa para o grande dia, agora, era apenas uma roupa para celebrar o amor de ambos.

Fiquei pensando sobre isso e me veio à mente aquela história de que em um incêndio, você se lembra primeiro daquilo que é mais importante, e geralmente, nesse caso, não são as coisas materiais sem significado. Fiquei pensando em como diante desse caos que virou nossas vidas na pandemia realmente só fica aquilo que é importante pra gente. E claro, inevitavelmente parei pra pensar em como pra mim, apesar de achar supérfluo diante da atual conjuntura, o casamento seria algo importante sim. Sabe, sentir um amor desse que escancara a tampa, desses que dá vontade de declarar aos gritos. Deve ser uma sensação muito sublime amar alguém a ponto de, mesmo com uma pandemia rolando, achar que é importante tirar um dia para celebrar esse amor. Fiquei pensando que de certo modo, na minha vida, esse era meu vestido básico e intimista, conseguir sentir esse amor, recíproco, celebrativo, aconchegante e importante. O resto? Ah! Pra mim, é só pompa e circunstância.


Lorranne Marins tem 27 anos, curiosa, randômica e apaixonada, sempre teve a escrita como sua forma de expressão mais natural. Atualmente é estudante de Engenharia de Alimentos na UFU.

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