Responsável pela produção musical da maioria dos artistas independentes de Patos de Minas na última década, o multi-instrumentista Alan Guilherme Prado Girardeli coleciona trunfos e causos envolvendo a cena artística na região.
Nascido em Gurupi no Tocantins, Alan passou por vários estados e cidades antes de vir parar em Patos de Minas, décima quinta localidade em que o músico residiu. Citando algumas, ele morou em Porto Murtinho/MS, Andirá/PR e Jales/SP.
A influência musical na vida de Alan é algo praticamente genético, pois o avô paterno João Girardeli era luthier e tocava em rádios durante os anos 50. Entretanto, ele só começou a tocar violão aos 16 anos.
Após ser observado por um amigo enquanto tocava, Alan teve a sina mudada ao lhe ser sugerido que ele seria um bom contrabaixista. Sugestão que ele levou a sério e logo migrou para o instrumento grave que o acompanha desde então.
Alan passou por vários projetos musicais até se encontrar na banda Festim Circense, formada com amigos quando ele residida em Maringá, no Paraná. E foi justamente nessa cidade que o destino do músico e Patos de Minas se cruzaria.
Durante uma jam que ocorria em 2005 no campus da Universidade Estadual de Maringá, a performance de Alan chamou a atenção do músico patense Vinícius Faria, apelidado de “Bocão”, que na ocasião cursava Filosofia por lá.
Bocão convidou Alan para fazer parte da gravação do primeiro álbum do projeto Genial Alarde. Com cerca de 24 anos na ocasião, Alan não só topou como decidiu produzir o disco, sem ao menos saber como se fazia isso.
Pela experiência anterior em várias bandas, o músico já possuía ideias abrangentes de criação de arranjos, o que lhe facilitaria o trabalho. Eles entraram em estúdio para começar a gravar, porém Vinícius precisou voltar para Patos de Minas.
O trabalho só seria finalizado três anos depois, em 2007, quando Bocão ligou para Alan o convidando para finalizar o disco do Genial Alarde em Patos de Minas. “Naquele momento que eu percebi que Maringá não tinha mais nada para oferecer”, disse.
Ele chutou o balde e veio para Patos de Minas, se instalando na casa de Bocão com um contrabaixo, um amplificador, três livros, alguns CD’s e uma quantidade de roupas que duraria apenas uma semana.
Durante o processo de gravação do disco da banda Genial Alarde, Alan Delay (como acabou sendo apelidado por Bocão) conheceu músicos da cena musical patense, que na época efervescia por meio de eventos no Hello Bar, do finado Domingão.
As gravações duraram três meses e ocorreram no extinto Ride Audio Design, dos músicos Alysson Luoli e Ciro Nunes. Junto de Ciro, Murilo Fonseca, Cassim Peres e Vane Pimental, Alan formaria a eufórica banda Vandaluz.
Dois membros da banda uberlandense Porcas Borboletas possuíam família em Patos de Minas: os irmãos Danislau e Moita. A banda iria se apresentar no Hello Bar e a convite da dupla, um grupo foi formado as pressas para fazer a abertura do show.
Nascia ali a banda Vandaluz, que misturava poesia, psicodelia e regionalismo mineiro. E em um mês, o grupo criou dozes músicas, gravou um EP com 5 músicas para se inscrever no Festival Jambolada, que acontecia em Uberlândia.
Nesta icônica primeira apresentação, a banda teve a oportunidade de tocar ao lado de nomes como Tom Zé, Vanguart e Nação Zumbi, fazendo com que Alan tivesse a certeza de que havia vindo para o lugar certo.
Isso tudo ocorria em paralelo à gravação do disco do Genial Alarde, que no fim das contas, também se apresentou na Seletiva do Festival Jambolada, com Bocão cantando junto aos músicos do Vandaluz, subtraindo apenas os vocalistas Vane e Cassim.
O grupo Vandaluz foi fundado quase simultaneamente ao Circuito Fora do Eixo, movimento cultural massivo que durante o fim dos anos 2000, fez com que inúmeras bandas circulassem em festivais de música em todo o país.
Não foi diferente para o Vandaluz, que em 2008 tocou por oito estados brasileiros. Tudo aconteceu de uma vez, a banda deslanchava, gravava o primeiro disco e ainda fundava o Festival Marreco de Cultura Independente e a Associação Peleja.
O disco de estreia da banda também foi produzido por Alan Delay. “Ascende” colocou o músico em bastante visibilidade na cidade e logo em seguida diversos artistas patenses o procuraram para serem produzidos musicalmente.
O primeiro deles foi o Eduardo Moe da banda Erbert Richard. A parceria resultou no lançamento do disco “The Lucid Amp”, que teve destaque regional e emplacou uma apresentação do grupo no Festival Triângulo Music e no Festival Jambolada de 2009.
Nesse meio tempo, Alysson vendeu a parte do Ride Audio Design para Ciro e no fim da história, Alan comprou de Ciro o que agora se chama Estúdio DaumRec. A partir disto, a cena patense quase em sua totalidade, gravou algum trabalho por ali.
Para citar alguns artistas: R Loco, Lizandra, Pieit, The Bullet, Pato Junkie, Roxxy, Bertone, Hebreu Brazuca, Phillpie Vaz e até os carmenses Blenio Blues e as bandas Laranja Sonora e Zoia Entrerprises Inc. passaram pelo Estúdio DaumRec.
Alan também assinou trabalhos de músicos que precedem a própria geração musical, como o álbum “Cais Mineiro” do professor patense Eduardo Barcellos, vulgo “Dunga”, e “Era Uma Vez”, do veterano Roberto Dalla.
A banda Vandaluz acabou após alguns anos e parte dos remanescentes se juntaram ao reçém-formado grupo O Berço, do qual Alan Delay havia produzido o primeiro EP e agora recrutava como contrabaixista.
O grupo de sonoridade folk que misturava elementos da música mineira fez um burburinho e chegou a repercutir nacionalmente, porém acabou após o lançamento do primeiro álbum “Alto do Vale”, de 2014, que Alan coproduziu ao lado de Phil Brant.
D’o Berço surgiu o novo grupo musical Pássaro Vivo, com uma proposta sonora totalmente diferente, da qual Alan toca baixo e sintetizador e também produziu o álbum de estreia “Sobre Asas e Raízes”, em 2019.
O Pássaro Vivo trabalha no segundo álbum e já conquistou feitos grandes no cenário independente brasileiro, como por exemplo ser contemplada pelo Edital Natura Musical que patrocina a gravação do novo disco.
Em 2020, Alan também se juntou ao grupo Flavy e os Espelhos de Okê, que já se consolida na cena musical independente e frequentemente é selecionado para festivais importantes como Prêmio de Música das Minas Gerais e Festival da Canção.
Desde o início da pandemia, Alan trabalha produzindo remotamente artistas de todo o país, como por exemplo o músico Valter Rosini de Maringá, do qual ele já assinou a produção do EP “Valter e Cambojam”, no início de 2020.
Alan acredita que os festivais de música e toda a movimentação cultural que existia antes da Covid-19 pode acabar ou mudar drasticamente ao ponto de ser tornar apenas uma lembrança de que ele iria contar ao filho Ian, de 12 anos.
“O mercado mudou e o própria maneira de olhar para arte também mudou. Ninguém acredita mais que as coisas irão a voltar a ser como eram e é preciso se adaptar”, profetizou o produtor musical.
Por outro lado, Alan Girardeli já colhe os frutos dessa convergência midiática se apresentando em diversos festivais online. “Não há mais contato corporal, porém as músicas abrangem muito mais pessoas”, concluiu.
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1 Comentários
Tenho orgulho de este ser meu pai, te amo meu carecão
ResponderExcluirObrigado por comentar!