Vagantes Moribundos

Por Mércia Marques

Foto: Egor Myznik

Na sombra da noite, desenho meus passos miúdos.
Entre um cricrilar e outro, ouço o chacal uivar e não ser correspondido.

O corvo crocita morboso, sendo certo que está sozinho.
O curiango se mostra solitário, com seu pio triste e retraído.

A coruja disfarça seus anseios, mas trás no bico,
um sussurrar aflito, plangente e sinistro.

A cigarra parece em estágio de insulamento,
seu canto estardalhante é réprobo e sofrido.

A cobra assovia, chocalha, guisalha, ronca, síbila,
mas segue tiriúma seu destino.

O mocho imita a coruja...seu sussurrar tétrico, causa medo e arrepios.
O Morcego trissa voando em círculos, creio eu, que voa perdido.

O Jaguaré ladra remisso, com certeza está remoendo a ausência de um amigo.

A noite ulula intrigante, e os vagantes moribundos seguem com seus corações partidos,
ouvindo o eco de seus soluços chicoteando por entre as muralhas do vale esquecido.

E por entre a coligem sigo tácito, levando sobre meus passos desvelados,
um sentimento pungente, por um amor infindo.


Mércia Marques é um escritora nascida em março de 1970. Natural de Patos de Minas, viveu toda sua infância na fazenda, de onde tira - até hoje - inspiração para suas criações. Publicou seu primeiro livro intitulado “Rimando com a emoção” em 2009. Depois da estreia, decidiu respirar novos ares e mudou-se para a Bélgica, onde viveu durante alguns anos. A experiência acabou sendo um divisor de águas em sua vida. Ao retornar para o Brasil experimentou um breve hiato e então voltou a dedicar-se novamente à escrita, dividindo sua atenção artística entre poesias e romances.

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