Exílio

Por Lívio Soares de Medeiros


Meus país é aqui do lado,
é onde piso.
Meu país distante chama-se Brasil.
Caminho pelas ruas de sempre,
falo a mesma língua dos compatriotas.

Quem está de fora e não presta atenção
pode julgar haver um país onde há
putrefação nas ideias e mofo nos gestos.
Meu país estrangeiro é o Brasil.
Tiros ricocheteiam, a ignorância mata,
o descaso assassina, a cegueira não quer se vacinar.

O país xinga em nítido português,
mas esqueceu-se de que o idioma também
serve a lógica, a ciência, a literatura.
Meu país distante é o Brasil,
cujo chão pega fogo e cujos anfitriões
convidam a morte para suas festas.


Lívio Soares de Medeiros é autor de Leve Poesia, Algo de Sempre, Dislexias, Amor de Palavra, Anacrônicas, O Livro de João, Entrevista com o Professor e O Fim do Brasil. Dedica-se também à fotografia.

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2 Comentários

  1. Meu país também é o Brasil, mas não o reconheço mais, não reconheço os meus patrícios os que morreram e os que estão para morrer que vagam pela Av. Getúlio Vargas, um ex-ditador, alguns fedem, alguns ainda não sabem. Alguns estão se matando mas continuam vivos e desfilam ledos com suas mortalhas baby-look verde-amarelho-azul anil rumo ao abismo. "Homens ocos", mulheres ocas, preconizados por T.S. Eliot...será que todos nós teremos que pegar o convite para o bacante festim da amiga dos governantes empalhados?

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  2. extraordinário, carregou nesse poema a voz de todos

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