A Convenção dos Palhaços

Por Neto Moreira

Imagem: Ronaldo Schemidt/Getty Images

Marcou-se em data previamente estabelecida, a primeira convenção de palhaços destas terras tupiniquins. Queriam articular um sindicato ou coisa assim. Tratar dos direitos sociais e previdenciários que os palhaços não gozavam. Porque, de resto, gozar com os outros era só o que faziam. Trazia em suas mãos, o Palhaço Goiabada com Queijo, ou melhor, o sr. Celestino Silva, um projeto para levar à Câmara dos Deputados no intuito de categorizar a atividade palhaçal como “Agente Público de Saúde”, uma vez que os sorrisos que arrancavam, cientificamente comprovado foi, melhoravam a saúde daqueles homens e mulheres e crianças na plateia.

O sr. Celestino Silva, tendo pedido um adiantamento para a Mulher Barbada, comprou um terno de liquidação para a ocasião. Penteou o cabelo, não passou maquiagem, despediu-se de sua esposa anã e saiu com esperanças de um futuro melhor. Contudo, ao chegar na tenda armada para o evento, sua primeira decepção… todos estavam vestidos como palhaços! Considerou toda a situação, uma piada sem graça…

Sentou-se nas cadeiras plásticas e vermelhas. Dispensou o menino do algodão doce que fazia promoção para queimar o estoque das guloseimas. Aguardou o início. Então, o Palhaço Maisena, o mais velho entre eles, dando fim à sua impaciência, tomou o microfone em mãos:

- Bom dia, Senhores e Senhoras e Senhoritas e Plateia! O que é o que é que tem cabeça, mas não pensa tem dente, mas não morde e tem barba que nem bode? É o Alho! Deixo agora o microfone aberto para outras considerações...

Boquiaberto, o sr. Celestino Silva, solicitou o uso do microfone.

- O Goiabada com Queijo será o próximo! Venha pra cá irmão! Que roupas engraçadas as suas!

Atônito, subiu as escadas devagar. Internamente pensava em um discurso que pudesse fazer com que os colegas de profissão focassem em questões sérias e profícuas para classe. Logo chegando, estendeu-lhe a mão o Palhaço Catchup, sendo que quando foi apertá-la, não percebendo o pequeno dispositivo escondido, tomou tremendo choque, fazendo com que todos ali rissem até rolar no chão.

Tentando perceber o que aconteceu, e ainda tonto, puxou uma cadeira para sentar e recuperar os sentidos, entretanto, nesse exato momento, o Palhaço Chucrute tirou-a despercebidamente, projetando seu corpo de costas ao solo e fazendo explodir todos os outros palhaços em gaitadas de riso.

Ciente de que estavam fazendo dele uma grande piada, levantou-se com expressão de que poria a tenda abaixo, quando foi subitamente segurado por Maisena. Achou que seria acalmado por ele, no entanto, da flor fixada em seu terno listrado e colorido, saiu forte jato de água, molhando todo o seu rosto.

Saiu sem olhar pra trás. E tapando os ouvidos para as risadas histéricas. Levava amassada nas mãos, seu projeto de lei. Foi direto para rodoviária. E depois para Brasília. Entrou sem ser convidado no palanque da Câmara. Discursou com o rosto vermelho até ser retirado pelos seguranças. Não sem antes ver os poucos deputados presentes rindo de sua iniciativa, para depois retomarem a votação do aumento de seus próprios subsídios. Desejou de toda sua alma que morressem de rir. Mas, não tinha jeito… Era tudo uma palhaçada mesmo…

Neto Moreira é um poeta fajutinho, contista e compositor de rocks rurais

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