Posse

Texto e imagem por Igo Maia


Eu à tenho como tenho a vida,
E como tenho a vida, livre e dotada de sentidos externos, à tenho!
Como possuo a minha vida regida de uma predestinação, possuo também ela.
Autônoma e singular, “ela e sua vida”.
Na minha posse pouco tenho, tenho “a vida” e tenho “o amor dela”.
Seguro pretencioso no colo aqueles olhos.
Saboreio as rajas de sua íris.
Me imerso no que ela chama de oculto,
Pra mim é tão claro, tão solúvel, tão cômodo e macio.
Ela se aconchega nas minhas mãos, descansa as asas e logo voa
Amo à ver voar...
O que mais gosto nas minhas posses, é a sua ímpia liberdade, e seu feroz desejo de vive-la,
Tanto ela, quanto minha vida.
Longe ela me tem,
Me transporto em espírito para seus possíveis feitos
Gestos, pensamentos...
Ela me tem tanto que as vezes me preocupo em não me ter mais,
Mas não sou coisa divisível,
Não me parto.
Ambos, eu e ela, me possuem simultaneamente na mesma proporção,
Então a posse possui seu possuidor, se tornando o possuidor do seu possuidor.
Melhor que sejamos então abolidos da posse.
Abro mão de me ter,
De te ter,
De ter algo além de esperança,
Não sejamos os dançarinos,
Sejamos a dança.


Natural de Vazante, Igo Maia residente em Patos de Minas desde 2019, é músico e compositor e trata a poesia como uma religião.

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2 Comentários

  1. Montruosamente poético. Não espero nada menos do Igo, meu irmão, meu amIGO. Artista ímpar que vive o sentimento que sente. Sente o sentimento que vive.

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