A maioria de nós vêm de um modelo educacional que tentava, e na maioria dos casos ainda tenta não parecer autoritário. Dessa forma, nós fomos ensinados a pensar dentro do quadrado, este delimitado por aqueles que “detinham” o conhecimento, por sua vez inquestionável.
Seguindo essa linha, me peguei refletindo sobre outra coisa: a maioria de nós não foi ensinado, ou melhor, motivado , a gostar de ler. Páginas eram determinadas para a aula seguinte e quem não lesse perderia pontos. Na verdade, a questão que deveria ter sido colocada na mesa era a de que quem não lesse não aprenderia sobre o que estava naqueles textos, mas isso não seria um fator determinante. Haviam e sempre haverão outros textos, livros, caminhos.
Todos sabemos que uma leitura forçada é desprazerosa e tem como resultado um entendimento superficial ou mesmo nulo do assunto que se lê sobre. Como efeito colateral, muitos não veem entretenimento em ler e consequentemente temos poucos leitores espontâneos. O problema é que os efeitos vão muito além disso. Dificuldade de interpretação, de discernimento de conteúdo, de análise crítica também ficam mais evidentes quando não se tem o hábito da leitura.
Mário Quintana disse uma vez: “Os verdadeiros analfabetos são os que aprendem a ler mas leem pouco”. A frase de Quintana me lembra de como é triste ver amigos graduados e pós-graduados compartilhando conteúdos evidentemente falsos e tendenciosos sem nenhum questionamento. Isso mostra também uma falha no ensino superior: somos ensinados a consumir conteúdo sem pensamento crítico. O que me faz lembrar de um questionamento importante feito por aqueles que seguem o estoicismo: estamos dispostas a aceitar as opiniões dos outros sem crítica apenas para nos encaixar ou estamos dispostos a desvendar os nossos próprios caminhos?
Um exemplo claro que me ocorreu é a frase “geração Paulo Freire”. Perguntei a pelo menos cinco pessoas de quem ouvi a expressão se já haviam lido algo do autor e a resposta de todos foi que não porque alguém disse que era ruim. A questão não é gostar do trabalho de Freire, mas aceitar a opinião do outro como autoridade e isso vale para qualquer outro conteúdo: uma notícia no WhatsApp, um vídeo no Youtube, as falas de um político, líder religioso, artista, etc.
Fato é que quanto mais se lê, mais bagagem se acumula para exercer o direito, senão dever, de duvidar. Ler torna esse caminho mais fácil. Para mim a leitura não é questão de gosto mas sim de necessidade. Vejamos nos dias atuais o quanto a falta de pensamento crítico é perigosa. Olhemos para os políticos que enganam seguidores com discursos vazios e inconscientes. Não é preciso ir longe para ver pessoas que acreditam em mitos e não percebem que a própria realidade não melhora. É preciso bagagem para questionar. Como disse Albert Einstein: “A mente que se abre a uma nova ideia jamais voltará ao seu tamanho original.”.
Você deve estar pensando que me acho a sabichona, mas pelo contrário: quanto mais leio, mais descubro que tenho muito a aprender e, por este motivo, sigo lendo. Por isso amigos, leiam! Afinal, se não aprendermos a duvidar para achar respostas, damos o direito do outro afirmar por nós e isso pode ser, literalmente, fatal.
Renata Bastos é formada em Jornalismo pelo Centro Universitário do Triângulo. Passou por veículos como G1, TV Integração, TV Paranaíba e hoje integra um programa para 12 jornalistas estrangeiros na Suécia. No tempo livre ama ler, cantar e tocar violão.
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1 Comentários
Belo texto Renata!!! No meu ver a leitura preencher os nossos vazios.
ResponderExcluirObrigado por comentar!