Poesia de guerra

Por Teófilo Arvelos

Imagem: Pixabay

Em guerras, é comum
queimar bibliotecas,
destruir livros,
proibir pensamentos,
grafite em muros,
poesia de paz.

Dos escombros,
novos muros (cinzas) são erguidos,
enquanto poetas caem
na rua, de repente,
e páginas são cremadas
em latas de alumínio,
e poemas são combatidos com uma
espécie de herbicida.

Mas em meio à guerra,
ainda se fabrica, às escondidas, uma poesia
na imprensa paralela, na sanfona que
toca no subterrâneo, entre uma bomba e outra,
no cartaz de “Procura-se criança desaparecida”,
na ponta da pá que enterra
o operário na vala comum.

Outrossim na rima perversa
que estoura aquela camisinha.
E assim, mesmo tímida,
há uma taxa de natalidade
no povo vivente,
a mostrar que os seres humanos ainda amam,
ou, ao menos, ainda sentem prazer,
ou dor.

Em geral,
parte da poesia de guerra
só é conhecida depois que a guerra finda,
quando se descobre, em tempos de paz,
um diário, uma anotação,
rabiscos, mesmo,
no quarto de um poeta
alegre, simpático, que
se suicidou um dia,
sem querer.

Ali, naquela espécie de testamento,
marcas fracas de uma escrita,
quase apagada, quase corroída, quase esquecida.
Restos de palavras que já mal formam frases,
de tão tolhidas do sentido.

Leva-se o papel à luz,
com a esperança de se poder lê-lo melhor.
Mas a luz o deteriora ainda mais,
e a poesia de guerra,
ora em paz,
é apenas uma folha amarelada de papel
que jaz em branco.


Teófilo Arvelos é autor dos livros de poesia Parnaso e Lágrima. Atualmente, estuda Geografia na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).

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