Minotauro

Texto e imagens por Agostine Braga


Postos à mesa chegou a hora de compartilhamos os segredos do pai

O ancião-touro devidamente amarrado diante de pratos e talheres
Meu irmão mais velho pegou a faca e abriu levemente o peito do pai
Um corte que foi do pescoço ao esterno

Levantamos todos das cadeiras e olhamos com respeito o coração que ainda
batia
Meu pai me olhou, depois olhou minha irmã, meu irmão e minha mãe
Meu irmão então arrancou com a mão o coração de meu pai
Colocou-o em um prato e minha mãe o cortou em quatro fatias

Meu pai então começou seu discurso: falava alto, grosso e indecifrável
Porém não forçava seus músculos, sabia que era seu fim
Enquanto falava, seus olhos miravam o nada na luz do teto
Que para ele poderia ser seu céu sonhado

Não lembro das suas palavras, o seu maior segredo

Depois o desamarramos e ele ainda teve forças para rondar a casa
O sangue que escorria dos seus pés fez espirais na casa
Foi o seu último momento de fúria e eu temi pela última vez

Enquanto eu comia um pedaço do seu coração
O segredo da sua vida.

Agostine Braga é um poeta situado em Patos de Minas.

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