Construção

Por Elza Maia

Imagem: Ling B.

A mente do poeta se traduz pelo olhar em seu caminhar incerto,
debruça sobre as cores do mundo
derrama-se no mais singelo detalhe que preenche a vida
encara de frente a loucura, toca-lhe a face

Sorri para a morte e para os anjos que guardam seu modo gauche de ser
como se ao nascer houvessem-lhe dito em sussurro o seu fardo predestinado
de divagar pela solidão e solitude do caos terno e calmo
um andarilho que desenha em letras tortas a impossível beleza canhestra,
o bardo que torna melodia o precioso gesto despercebido que quase ninguém vê

Mas a mente do poeta transcende os caminhos sólidos e se prende em inseguranças vaidosas
do medo de que te vejam e te descubram nesse mundo fantasioso e o tornem insensível
como a pura realidade da qual escapa sem deixar vestígios
então se esconde como um animal assustado, sussurra receios feridos, duvida de si e do que faz

Quem um dia poderia dizer que seus anseios e ímpetos condensados em um oceano adentro
derramados em carvão sobre papel
não são por efeito
uma forma de se arte-dizer?

Devagar seus grandes olhos reluzentes aparecem no breu,
conquistam espaço, em pequenos passos sobre folhas ao chão
farfalhando o aconchego de encontrar-te no canto cálido do peito
convidando-o a imergir no sonho compartilhado que lhe fazer sentir a imensidão

Palavras doces em noites serenas
os lábios arqueiam em um tácito sorriso
os pés descalços deslizam pelo piso
sentindo o frio penetrando os ossos e subir aos dedos da mão
Abraço e sinto
afago a pele gélida
acolho em meu olhar
me deixo levar
pelo infinito de tudo
e o preço do nada.


Elza Maia é uma amante da escrita e aprecia colocar no papel os sentimentos da vida cotidiana. Futura psicóloga, pretende mesclar as duas paixões em uma.

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