Apoiar candidatos patenses é mais difícil do que parece

Por Caio Machado


Na última quarta-feira, candidatos decidiram se reunir para protestar contra o apoio do prefeito de Patos de Minas à reeleição de um deputado federal de Araguari. Um esforço até louvável, mas menos sábio do que se eles tivessem se unido antes e viabilizado menos candidaturas para não pulverizar o eleitorado patense.

Claro, é mais fácil sair pela Rua Major Gote com meia de dúzias de cabos eleitorais, bradando essas bandeiras horrorosas que se multiplicam por cada esquina da cidade, do que focar nas próprias propostas eleitorais e vociferar menos sobre o fato da cidade não ter deputados federais há uma década.

Antes de mais nada, acho engraçado quando um político já eleito chancela candidatos e coloca a cara na publicidade eleitoral alheia. Fica parecendo aqueles mandatos coletivos que popularizaram na última eleição, mas numa pegada mais preguiçosa. É como se o candidato não precisasse propor nada, só apropriar da imagem de outrem.

Mas vamos lá, se o prefeito prefere apoiar um candidato de fora, que estaria ávido no envio de verbas para a cidade, que seja. O que é estranho, novamente me referindo à pulverização de votos, é permitir que um vereador do próprio partido do mandatário da cidade, topasse se candidatar sabendo que não receberia apoio da própria sigla.

Fica parecendo até que a candidatura foi imposta apenas para atrapalhar a oposição de se eleger. Pois continuar dialogando e recebendo verba de um aliado, seria mais fácil do que se submeter a forçar alianças para conseguir recursos de um “rival”. Mas vai saber, apoiar candidatos patenses é mais difícil do que parece.

Pra começar temos o alpinismo partidário. Alguns nomes que pleiteiam cargos na Assembleia Legislativa de Minas Gerais ou na Câmara Federal, mudaram de sigla pela suposta facilidade de se eleger por alguns partidos que demandam menos legenda. Tem até vereador eleito massivamente, perdendo cargo por conta disso.

Para além da estratégia de reduzir a quantidade de votos necessárias para os candidatos conseguirem se eleger, surge um embate ideológico, que me incomoda mais do que esse tom de mercenarismo na troca de sigla, pois é como se a maioria nem ligasse para os valores defendidos por cada partido.

Longe de mim ser utópico a ponto de acreditar que os políticos estejam realmente interessados em melhorar a sociedade e não apenas buscando por conforto e em fazer carreira. Talvez dê pra justificar este racha ideológico após o colapso do PT x PMDB, mediante as manifestações de 2013, o impeachment de Dilma, etc.

Em Patos de Minas mesmo, um vereador de longa data preferiu se desvincular do petismo, se desfiliando e, ato contínuo, deixando a carreira política. Hoje, ser associado a alguma sigla traz o risco de a mesma ruir e os políticos a elas vinculadas se mancharem. Ninguém mais coloca o nome do partido na publicidade eleitoral.

A nível nacional também temos partidos sendo renomeados e até se fundindo para trazer um falso frescor. Afinal, quer sedução mais fácil e eleitoreira do que prometer renovação? O Partido Trabalhista Nacional agora é Podemos. O PMDB voltou a ser MDB. O PFL virou DEM, e depois se fundiu ao PSL, tornando-se União Brasil.

Com a mudança de posicionamento e marca do Democratas fica até estranho acompanhar as eleições em Patos de Minas sem o número 25 no páreo. Mas o que acreditam pelas vielas da comarca patense é que o coronelismo finalmente chegou ao fim e que as coisas mudaram, que houve a tão almejada “renovação”...

A meu ver, essa disputa de todos os candidatos contra o apoio do prefeito ao candidato forasteiro, nada mais é do que o perfeito retrato da velha política, tentando combater a velha política, travestida de nova política. Uma briga de egos em que ninguém sai perdendo além dos eleitores patenses.

No fim, são apenas políticos se rearranjando numa eterna dança das cadeiras, em que a música nunca para de tocar. Mas quem fica sem assento, são os contribuintes, os samaritanos, aqueles que ardem de sol a sol, carregando flâmulas superfaturadas de rostos que só veremos de dois em dois anos ou a cada quatro anos.

Ademais, Patos de Minas é apenas um dos 853 municípios que disputam por migalhas dos 53 deputados federais eleitos por Minas Gerais a cada quadriênio. Porém esse dilema nos leva de volta ao começo do artigo, em que sugeri que os políticos deveriam ser unir e pensar em menos candidatos para os próximos pleitos. É querer demais.

Num país perfeito, ideologia partidária deveria importar. O espectro político deveria ser devidamente compreendido e não apenas polarizar e ser usado politicamente. Chega a ser feio constatar a quantidade de candidatos patenses, com pautas progressistas inclusive, surfando no bolsonarismo conservador apenas para se eleger.

Não quero cantar a pedra, pois não faço ideia de como os candidatos locais estão se saindo nas campanhas Patos de Minas afora, mas a chance de apenas o político de Araguari se eleger e ficarmos sem nenhum deputado estadual ou federal eleito me parece o cenário mais plausível dessas eleições.

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3 Comentários

  1. Parabéns, Caio. Gostei de suas ponderações sobre a dança das cadeiras, sobre o alpinismo partidário, sobre os arranjos e colisões cujos objetivos nem sempre visam ao beneficiamento da sociedade e , finalmente, sobre a velha política travestida de nova para combater a si própria com diferente roupagem. Isso certamente não acontece apenas em Patos. Talvez seja um retrato político infinitamente mais abrangente. Segundo Tolstói, “se queres ser universal, fala sobre tua aldeia
    Jô Drumond

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