O 7 de setembro das ratazanas podres

Texto e imagem por José Eduardo de Oliveira


No Palácio do Crepúsculo das ratazanas mortas e fétidas/

Comemoram 200 anos de nossa independência.

 

Com cavalos/tanques/máquinas agrícolas/caminhões/corruptos de todas as espécies/cuidadores de rebanhos com Bíblias maculadas debaixo de sujos sovacos/portadores de armas de grosso calibre/curandeiros/fichas sujas/alguns comprados com o próprio dinheiro/de cujus diversos/os ludibriados por vontade própria e outros canalhas, machos e fêmeas, ratazanas e ratões com as pançonas cheias de dinheiro público ou de crentes famintos...amém.

 

Nos palácios governamentais das ratazanas mortas e fétidas/

Fazem a mesma coisa: o mestre mandou.

 

Nas prefeituras municipais, inclusive dos grotões, as ratazanas mortas e fétidas/

: Batem continências.

 

Nas câmaras municipais, inclusive das vilas submissas, as ratazanas mortas e fétidas/

: aplaudem.

 

[Enquanto isso, as outras ratazanas podres e fétidas das ruas esperam a noite...]

 

Há  200 anos um príncipe ratazana morta bradou às margens flácidas de sua moral e de sua ganância ancestral: Independência ou dependência?

Amanhecemos no dia 8 dependentes das mesmas ratazanas mortas desde 1500.

 

O auriverde pendão, usado hoje como auriverde ameaça

Símbolo hoje conspurcado e nauseabundo de ignomínia.

Tremula hoje numa baioneta de baixa patente ameaçador, mas roto, triste e sujo...e fétido.

 

E se estamos independentes, porque ainda ouvimos:

O som dos grilhões nas senzalas?

O som de agonia de índios?

O som de choro de crianças chorando nas favelas, becos e vielas?

/famintas...enfermas...febris...iletradas...

O som de mulheres aterrorizadas e ameaçadas?

O som da morte nos corredores do SUS?

[e a busca de “o que comer” em lixões?]  

E os impunes punindo inocentes?

Até quando?

 

Me lembrei do poeta que ousou “falar das flores”:

 

“Pelos campos há fome em grandes plantações

[...]

Há soldados armados, amados ou não
Quase todos perdidos de armas na mão
Nos quartéis lhes ensinam uma antiga lição
De morrer pela pátria e viver sem razão

[...]

Nas escolas, nas ruas, campos, construções
Somos todos soldados, armados ou não
[...]

Somos todos iguais, braços dados ou não

Os amores na mente, as flores no chão
A certeza na frente, a história na mão
Caminhando e cantando e seguindo a canção
Aprendendo e ensinando uma nova lição

Vem, vamos embora, que esperar não é saber
Quem sabe faz a hora, não espera acontecer.”


Enquanto isso:

As ratazanas mortas e fétidas não dormem/

Conspiram

E corroem tudo.

Corroem o patrimônio nacional.

O tesouro nacional.

A vergonha nacional.

A Bandeira Nacional.

A Pátria nacional.

A família nacional.

A religião nacional.

O território nacional.

A Constituição Nacional.

[nessa corroem e depois defecam nela, fétidos excrementos de ratazanas mortas e fétidas!]

 

As ratazanas mortas e fétidas defecam/

Ódio.

Caos.

Mentiras.

Medo.

Ameaças.

Esmolas.

 

No Palácio do Crepúsculo das ratazanas mortas e fétidas/

Comemoram 200 anos de nossa independência.

 

E em nome de Deus, Pátria, Família e da Democracia,

Roem e corroem vorazmente, como se fosse frango com farofa no meio da rua, Deus, a Pátria, a Família e a Democracia...



José Eduardo de Oliveira é licenciado em História pela Universidade Federal de Ouro Preto

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4 Comentários

  1. Um soco no estômago, bastante apropriado para data.
    Ainda há tempo de enterrar as ratazanas, sem muita pompa como tal estão fazendo com o coração do colonizador, somente jogar na vala da história mesmo, e seguir. Nós somos capazes. E é questão de vida ou ratazanas mortas fétidas.

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  2. Leia esse texto ouvindo a música CABEÇA DINOSSAURO DO TITÃS👏👏👏👏.

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  3. Pra variar, outro texto visceral e catártico que quase nos esbofeteia com tantas malditas verdades !

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  4. Texto primoroso que retrata a ninhada eterna de ratazanas que é o Brasil. País esse nunca livre e cada dia mais preso nos grilhões do ódio, da miséria, da fome e de todo tipo de desgraça advinda das ratazanas que corrompem e destroem tudo.

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