Anônimos: entre a vida e a bebida, histórias interrompidas pelo álcool - Parte 9

Por Gustavo Rubim*


WALTER

WALTER DA SILVA SENTOU-SE PRÓXIMO DE MIM NA ASSEMBLEIA, ao lado do seu Alexsandro, e imitava seus movimentos.

Nasceu em Cruzeiro da Fortaleza – MG, há 70 quilômetros daqui (Patos de Minas). Um dos brasileiros que vai se aposentar, começou a trabalhar aos seis anos de idade: capinar pasto, plantar arroz e feijão, “vinha com a enxada fazendo as covas e outro enterrando”, era algumas das atividades que realizava com a família. Levantar às três e meia, quatro da manhã, para sair às cinco, fazia parte da rotina. Hora de colher o café, entrava debaixo do pé e tirava o café para fora, a função cabia aos mais jovens, pequenos e ágeis, os adultos “banavam” o café na peneira, jogavam-o para trás e as folhas caiam para frente, diferente do arroz, que fazem o movimento contrário.

Na roça viveu até os 18 anos. Depois trabalhou de lateiro, uma espécie de chapa, encarregado de colocar as latas no caminhão, que no princípio eram de ferro, com o tempo passou para alumínio, deixando uns quilos a menos nos ombros dos lateiros, que dentro levam leite para Nestlé. Quem diria que o iogurte do seu filho na geladeira, passou pelos ombros de Walter. Andavam algumas léguas com esse leite e retornava para roça, à beira da cidade, onde viam seus onze irmãos.

Voltou a “panhar” café, passou a puxar queijo e assim foi por seis anos, até tirar carteira de motorista. Com a carteira, não puxava mais queijo, sim boia-fria, a maioria vinha do norte e nordeste, para trabalhar nas plantações, iam de Patrocínio à Araxá. Arrumava um toldo e uns bancos até a metade da carroceria do caminhão, o resto ia com Deus quiser, um em cima do outro. Os do norte eram melhores de mexida que os mineiros e trabalhavam mais.

Com o fim da colheita, passou a trabalhar na prefeitura de Cruzeiro da Fortaleza, motorista, começou em um pipa d’água e na ambulância do município. Dirigiu para três prefeitos, João Silva, Zé Ricardo e Luiz. Antes bebia apenas em fim de semana, porém, as bebedeiras agora eram mais frequentes, até que um dia foi parado pela polícia rodoviária, uma denúncia de funcionários de um posto em que havia encostado minutos antes. Saiu da prefeitura, com vergonha da atitude, não queriam deixá-lo ir. Walter, um negro de quase dois metros de altura, trabalhava como uma máquina, “a melhor coisa que achava era quando me ligavam, ‘vamos sair daqui meia-noite, uma da manhã’, amava dirigir à noite, só eu e a estrada”.


Apesar do tamanho é uma pessoa dócil, pálpebras caídas e lábios grossos, sempre com aquele semblante desatento. Ficou oito anos sem beber. Nesse período trabalhou em uma usina asfáltica, até ser dispensado do serviço e alojamento. Aí bebeu pelos oito anos de inércia. Foi parar em Uberaba-MG, onde ficou internado por um tempo, 45 dias para ser mais exato. Enfim chegou a Patos de Minas.

Puxou silagem por um tempo. Logo encontrou trabalho no Expresso Leãozinho, empresa de transporte de pessoas, a rota tinha três destinos: Coromandel – MG, Vassouras – RJ e Maceió – AL. As coisas pareciam ir bem, até voltar a beber. Em uma das viagens, uma passageira acionou a polícia, pois Walter dirigia devagar e suspeitou que estava embriagado. Montaram um cerco na saída da ponte para Rio Paranaíba – onde trabalhou seu Cleto – não apenas a polícia, também a imprensa, Walter se recusou a soprar o bafômetro, além disso, partiu para cima do repórter que insistia com as perguntas, repórter da NTV (tevê local). Quem era o repórter? “Um baixo, gordo de 35,40 anos”, será o primo do seu Israel, Maurício Rocha?!

Ficou preso 45 dias, como os três meses e quinze dias do seu Aujamiro. Já estava com depressão, piorou, era 2012. Foi casado, teve dois filhos, Walter Júnior, tem 26 anos, é casado, formou-se em agronomia. Eduarda, a filha mais nova, tem 19 anos, arrumou um namorado há pouco tempo, “agora não fala mais comigo, ligo e não me atende”. O fim do relacionamento, veio pela descoberta de uma traição, que acarretou a volta ao álcool e a depressão. A ex-esposa morreu de beber. Depois ficou um tempo com outra mulher, mas não deu certo.

Não bebe há cinco anos, abandonou o corote de vinte e nove na boleia do caminhão, desde então frequenta o Caps de segunda a sexta, sempre com uma pochete atravessa na vertical, como a linha branca na camisa do Vasco da Gama, onde leva os últimos trinta reais do mês, “era acostumado a andar com dinheiro, bolso cheio de nota de cem, trabalhava muito, nunca dormi na rua, sempre pagava o aluguel em dia”, agora fala com tristeza dos 30 reais. Hoje, além da casinha que conquistou, no Minha Casa Minha Vida, programa de financiamento da Caixa Econômica Federal, tem diabetes, gota e colesterol alto. “Hoje moro sozinho, gosto de ficar sozinho, para pessoa que tem de- pressão, como eu, é melhor ficar sozinho, né?!”


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DESFAZ O CIGARRO, com as pontas grossas dos dedos enrola- -o novamente, agora firme a Bruna.

Que se orgulha de ter largado o craque, “foi minha única vitória na vida”, teve contato com a droga por dois anos e meio, tempo suficiente para destruir qualquer destino, a fase da rua, dormir na rua não, “na rua passa-se a noite”, para mulher é ainda mais difícil.

– Como você acha que as pessoas te vêem?

Rompo o silêncio depois, com a pergunta. Foi a que restou no gatilho, o que dizer mais? Anestesiado por aquela história.

– Uma gorda feia. É o que vejo ao me olhar no espelho.

O que diria mais, aquele espelho, trincado e sujo, o que diria aqueles rostos deprimidos, o que diria a Bruna, com aquele golpe de resposta?

Disse, com um nó na garganta e o coração comprimido por uma mão que esmaga, talvez por empatia, essa palavra que nunca uso, ou por pensar o mesmo que ela, disse, disse o oposto, o que enxerguei nas lágrimas que corriam densas pelos cantos dos olhos miúdos, não japoneses. Deslizei a mão direita sob seu cabelo, que fazia cócegas na palma de tão lisos e disse com a sinceridade que nunca usei com nenhuma outra mulher.

– Bruna, você é linda.

Ela ergueu o queixo, a gota salgada despencou do rosto e sorriu, sorriu profundamente, com os olhos, boca e alma.

– Já fui muito bonita, muito bonita, mesmo. Ganhei um concurso no ano 2000, chamava-se Miss Sapata, quem organizava era o Carlinhos, tem uma loja ali, na galeria da Eletrosom.

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TINHA DUAS INFORMAÇÕES NA CADERNETA e uma terrível dor de cabeça naquela manhã: CARLINHOS, GALERIA DA ELETROSOM, foi o que a Bruna me deu.

Durmo mal há três noites, sem pesadelos, nem sonhos, fecho os olhos e já é outro dia, dia que também parece ter dormido mal. A Avenida estressada, o barulho dos carros e o coletivo a mil por hora. Puta merda! Quase atropelou o ciclista. Ser ciclista em Patos, melhor, em qualquer lugar do mundo – exceto capitais do futuro, com ar ambientalista – é difícil, todo dia um meio/quase atropelamento. Não entendem que existe a porra de uma faixa de ciclista. A rua é para os carros e motos, a calçada para os pedestres, mas a faixa de ciclista é a putaria de sempre, vai quem quer.

Enfim, hoje cheguei inteiro ao local indicado. Galeria Daniela Cristina, popular galeria da Eletrosom, pois, o trajeto dá para loja, minhas pupilas encolheram pelo contraste da luz, ao entrar no corredor escuro e úmido, logo recuperei a visão. Primeiro umas manchas nítidas na escuridão, depois por completo. Levemente tonto, leio a placa: proibido a entrada de bicicleta. Obviamente que não cogitei entrar com a magrela aqui, óbvio. Com as mãos apoiadas nas alças da mochila e passos rastejantes percorri todo corredor há observar as fachadas apagadas das lojinhas, a maioria de roupas, quando não, bugigangas tecnológicas. Cogito entrar em uma delas, mas a atendente é muito nova – não será aqui. Vou ao lado, lá está uma senhora de aproximadamente 45 anos, sobrancelhas desenhadas em tom negro – rena, é assim que fala, né?! – e um loiro falso no cabelo, pensa no contraste.

– Bom dia, – digo ainda ofegante das peladas frenéticas.

– Bom dia, em que posso ajudar, – responde a senhora com uma voz de ex-fumante e cara de nojo.

– Busco pelo Carlinhos, tem alguma informação que possa me ajudar? Ele teve ou tem uma loja nesse corredor.

A velha me encheu de perguntas, quem sou, onde moro, onde estudo, qual meu objetivo com a procura, CPF, RG, estado civil, enfim, tudo e um pouco mais. Respondida às perguntas, veio a justificativa de tanta indagação.

– Sou evangélica. A gente que evangélico sabe um pouco de tudo e suspeita de tudo, – diz cabisbaixa enquanto dobra perfeitamente blusas estiradas no balcão branco.

– Então, como o encontro? – Até o momento não me dera nenhuma resposta contundente.

Ah! Havia contado sobre a Bruna, que vivia em um órgão de reabilitação e passou por vários percalços na vida, tentei comover a velha para me dar a informação. Porém, fiz mal.

– Sabe, meu irmão não mexe com drogas, nem esse tipo de coisa aí não!

– Irmão?!

Peguei a deixa no ar. Carlinhos abandonou a loja, onde não vai nem mosquito, não habita uma alma viva, a não ser aquela severa mulher evangélica, que agora veste os manequins de peitos arrebitados, que deixa ainda mais sexy a blusinha rosa alça-fina.

– Sim, é meu irmão, ele mexia com a loja, agora sou eu que coordeno, revelou apenas com uma virada de pescoço em minha direção.

Ligou para o Carlinhos.

– Tem um garoto aqui te procurando, DIZZZ que é jornalista, e soltou um extenso IZZ, sem perder a desconfiança ensinada pelo pastor, nos cultos semanais.

Logo passou o celular para mim, falei por alguns minutos com Carlinhos, que já pela voz deduzi, homossexual, e com agá maiúsculo. Confirmou-me a veracidade nos relatos de Bruna, mas eu queria mais detalhes, insisti para marcarmos um encontro, rendeu-se.

– Me procure na quarta-feira da semana que vem.

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TERÇA-FEIRA À NOITE. – Tudo certo para amanhã? Me passe o endereço, por favor.

NÃO É POSSÍVEL QUE VOU TOMAR UM BOLO, bem grande, daqueles de casamento de famosos. Pensei, até receber resposta no entrar da madrugada.

– Pode vir, rua João Gabriel, 148. Estarei aqui de 12h às 14h.

Na manhã seguinte não lembro bem o que fiz. Ainda assim recebi mensagem que iria atrasar meia-hora, chegaria às 12h30.

– Todo dia durmo de 13h às 15h. Já estou quase fechando os olhos, disse para me apressar, agora já em casa.

Peguei a magrela sem saber direito a localização. Ah! Lembrei. Durante a manhã pesquisei a rota, entretanto não foi motivo para que eu errasse o caminho, andei dois quilômetros sentido contrário. Puta merda! Vou chegar e o viado vai estar dormindo. Maldita Fátima Porto, nunca sei a direção correta, ao meio o córrego-esgoto, lhe cabe essa tradicional função das cidades brasileiras. Está repleta de semáforos.

– Dois semáforos aí para frente, na sua “mão”, você sai lá, orienta o primeiro borracheiro que encontrei na beira da pista.

Segui os comandos, perguntei ainda uma, duas pessoas que me confirmaram o sentido. Chegue! Não sem antes ir e voltar na João Gabriel a procura do número correto. É ali, bem no início da rua, um prédio antigo, de três ou quatro andares, mas charmoso. Agora qual o número do apartamento? Sorte que estava ali em uma placa metálica, como as que se colocam em praças para homenagear pessoas e exaltar toda a gestão governamental envolvida na construção ou em túmulos. A letra serifada, com escrita grossa e elegante respondia minha dúvida, 201 CARLOS. R. SOUSA.

Toquei o interfone, dei três respirações profundas para recuperar o ar. Nada de atender, toquei a segunda vez e veio aquela voz grossa, mas afeminada.

– Aí é você, entra, – disse com desprezo, quase um ato de piedade.


Realmente era um apartamento antigo, sem elevador, cor caramelo. Subi as escadas, observei as plantas, cheguei à porta de madeira rústica e bati duas vezes com o punho cerrado: toc-toc. E me abriu a porta, aquele senhor que já passa dos cinquenta, pouco acima do peso necessário para seus 1,70m. Olhou-me de cima para baixo e entramos. Em uma sala espaçosa com móveis-nudez, caso do sofá em que sentamos para conversar, fiquei no conjunto menor, ele entre almofadas na parte extensa, com os pés em cima. Me fazia perguntas e mexia em uma ferida no mindinho do pé direito, foi bicho-de-pé, uma tremenda batata. Mostrou-me a ferida, ainda avermelhada da cirurgia feita pelo próprio.

A tevê no último volume me obrigava a subir o tom de voz.

– Então, estou pelo caso da Bruna...

– Você nunca me viu na vida, filho? Questionou durante minha tentativa de explicação.

Carlinhos é uma espécie de subcelebridade local, além disso, a “bicha” mais “bafoneira” da região, ou seja, não o conhecia.

– Aí meninUU, esse bichinho não é nada. Já peguei gonorreia, verme... só Aids que não, fiz o teste esses dias com meu amigo enfermeiro, Miltinho, disse que bicha velha não pega, só essas bichas mais novas.

Falava... falava. Ora pulava entre um caso e outro, assim fomos até retornar à pauta. Sim, havia existido o concurso no ano 2000 e Bruna saiu vencedora. Logo fomos para um cômodo ao lado, antes passamos por um imenso quadro três por três metros, que pegava toda parede, isso me fez recordar o nome da loja na galeria, Dois por Dois, escrita em uma tipografia horrível que mal consegui ler no tapete laranja.

Era um quarto semi-vazio, apenas uma mesa com computador, bancos de cubos acolchoados de cores variadas e o retrato de Carlos. Tinha vinte e poucos anos, um cabelo negro, sem as marcas expressivas que descem em arco das extremidades do nariz até os cantos da boca.

– Aí, eu era tão lindo, né? Tudo acaba meninUU… Tudo acaba! Exclamava olhando fixamente o retrato, em uma mistura de tristeza e nostalgia.

Contou-me que havia jogado muita coisa fora, restou apenas uma caixa de sapatos cheias de fotografias e um saco preto com as faixas de miss. Abriu a caixa, como se abrisse o passado e assim adentramos, foto por foto, e nada de Bruna.

Foi Xuxa, por um dia, em uma de suas performances. Saiu de dentro de um milho, símbolo de Patos de Minas.

– Nem a Rainha do Milho teve essa ideia, sempre fui uma bicha criativa.

Não apenas saiu do milho, como o vestido era uma verdadeira espiga, grão em grão, amarelos e dourados, um espetáculo. Só superado pelo vestido de verduras, sim, acredite, verduras de verdade, couve, alface, cenoura e beterraba, parecia até colhidas da horta do seu Cleto. E Lady Gaga, pensando que “causou” com vestido de carne, bicha vegetariana, beeem!

– A Thammy esteve aqui, um dia inteiro, todinha para mim. Na época percebi que tinha um jeitinho para lésbica, mas era mulher ainda.

Sim, é a filha da Gretchen, musa dos presidiários, agora, um homem, com bolas e tudo mais.

Porém, nada superou a entrada triunfante. No aniversário de 55 anos, surgiu dentro de um caixão coberto pela bandeira americana. Até a morte, experimentou nessa vida.

– Fiz de tudo, casei com um bofe de aluguel, um homem lindo, nunca mais vi, nem procurei, respeito os profissionais.

A bandeira dos Estados Unidos é devido o caixão ter sido importado. Agora deixo registrados os desejos de Carlinhos, para que talvez esse livro sirva de alguma coisa.

– Meu retrato ficará na parte superior do túmulo, que também terá um aparelho para rodar as fitas com os maiores “bafões” que vou deixar gravadas, não quero calar nem morta. As faixas serão enroladas e colocadas uma por uma dentro do caixão, vão comigo.

Preparei-me para ir embora. Antes sentamos na cozinha. Ofereceu-me um pouco de refrigerante, que recusei, e perguntou sobre minha vida. Disse o que pouco acontece. Logo colocou em cheque minha opção sexual.

– São anos de experiência, conheço “uma bicha” pelo faro, – ironizou enquanto dava o gole derradeiro que sobrava no fundo do copo.

Até que tocou o celular, Rafael Lava-jato, deslizou o dedo sobre a tela em direção ao sinal vermelho. Insistiu o rapaz, e novamente o gesto.

– Brocha, meu filho, pau não sobe. Agora fica ligando, não, não quero, nem atendo para aprender. Pago 20 reais e dê por satisfeito. Sabia que tem até homens casados nesse ramo?

[CONTINUA]

Instagram: @gustavo_rubim
eugustavorubim@gmail.com

FICHA CATALOGRÁFICA

RUBIM, Gustavo Pereira. Anônimos; entre a vida e a bebida, histórias interrompidas pelo álcool/ Gustavo Rubim – Patos de Minas: EDITORA, 2019, 116 p.

Capa: Gustavo Oliveira
Diagramação: Gustavo Oliveira
Fotografia: Gustavo Rubim
Revisão: Profª Ms. Regina Macedo Boaventura/ Profª Sintia A. Pereira da Silva
Orientadora: Profª Ms. Regina Macedo Boaventura

1. Livro. 2. Livro-reportagem. 3. Alcoolismo. Jornalismo Especializado I - Centro Universitário de Patos de Minas. Fundação Educacional de Patos de Minas, Patos de Minas, 2019.


* Gustavo Rubim, 22 anos, brasileiro, jornalista pelo Centro Universitário de Patos de Minas, Unipam - Brasil. Mestrando em Integração Latino-americana pela Universidade Nacional de La Plata, UNLP - Argentina. Vive em La Plata - Argentina.

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