O palhaço e a menina

Por Vinícius Ferreira

Arte por José Eduardo de Oliveira

Todas as vezes em que a menina via o palhaço, ela perguntava o porquê de ele estar tão feliz. Tal encontro se dava no parque da cidade, onde o palhaço fazia apresentações quase que diárias, e a menina que por acaso, sempre passava pelo parque na volta de suas aulas. Após o expediente, (extremamente cansativo, de fato) o palhaço costumava se limpar lá mesmo, pois desde que sua amada se foi, ele não entrava mais em casa fantasiado, pelo motivo de não ter ninguém mais para alegrar. (Por acaso, ela era quem o ajudava com sua caracterização).

Como o palhaço também tem sua vida social, assim como a menina, aquela mesma, que sempre pergunta o porquê de ele estar tão feliz, seus afazeres sempre são solitários, quase como seu trabalho, mas nesse caso, sem plateia.

Certa vez, o palhaço foi ao supermercado para comprar doces, pois como de costume, os distribuía durante as suas apresentações. Talvez a escolha dos doces se devia ao fato de sua vida estar amargurada, azeda, ao contrário do que os doces podiam oferecer.

Diante do caixa, ele se deparou com uma funcionária radiante, sorridente e feliz. Mesmo que fosse tarde (horário no qual saia, pois era o mesmo em que sua amada o acompanhava antes da sua partida). Diante a atendente, ele ficou perplexo pois a única coisa que viera à cabeça era a voz da menina, com a fatídica pergunta: por que você está tão feliz? Assim, diante desse dilúvio de incertezas, ele a perguntou:

- Por que você está tão feliz?

A atendente de prontidão respondeu:

- Ora senhor, não há motivos para não estar. Meu expediente está acabando, e poderei voltar para casa em breve para descansar e aproveitar com minha família. E desde já, sempre estou bem-humorada.

Não contente com a resposta, o palhaço sorriu (ironicamente, é claro) pagou, pegou os doces e voltou para casa com uma pulga atrás da orelha. A incerteza se dava pois ele queria encontrar uma resposta para a pergunta, e não podia associar a sua com a da atendente, já que não havia ninguém em casa para compartilhar tal felicidade. Num outro dia, o palhaço voltava ao parque para mais uma de suas apresentações, que nessa hora já era mais angustiante que de costume. No final da apresentação, ele avistou a menina, que quase sempre comparecia, e que sempre fazia a mesma pergunta. Com a astúcia e desilusão do palhaço, apenas aguardou para que a menina se aproximasse e fizesse a pergunta de sempre: por que você está tão feliz?

Dessa vez, o intuito do palhaço era respondê-la, mesmo que com uma mentira, pois estava disposto a sanar de uma vez por todas, a dúvida da menina.

Como esperado, a menina se aproximou, com um olhar desconfiado, e finalmente a pergunta veio:

- Por que você está tão triste?

Vinícius Ferreira tem 25 anos e é professor de música em Patos de Minas. Faz parte dos projetos musicais LINGVINA e Banda Livre.

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