*Texto redigido e publicado originalmente em 8 de maio de 2017 no Patos Notícias
Imagem: Agostine Braga/2016 |
A crônica a seguir é fortemente baseada em fatos reais e qualquer semelhança com o que você pretende fazer dentro de alguns dias, é mera coincidência. Fiquem alertados! Não estou motivando ninguém a agir igual, porém o fato já é tradição e acontece naturalmente na cidade.
Em menos de duas semanas a 58º Fenamilho começará e a rotina dos patenses se transformará radicalmente em um tipo de micareta sertaneja regada a rodeios, shows de duplas e cantores consagrados, muita cachaça e principalmente azaração.
Escolhi um personagem masculino para ilustrar a anedota típica de um comportamento perpetuado sazonalmente quando a festa começa a ser anunciada. Resumindo o enredo: o rapaz termina com a namorada, toca o terror na festa do milho e depois suplica para reatar o relacionamento. Claro, com êxito.
O episódio começa faltando poucos dias para o começo da festa, quando um colega da firma joga no ar que uma prima de Brasília (clichê, né?) e algumas amigas dela estão vindo para curtir a Fenamilho. A tentação tem início no ambiente de trabalho e nosso protagonista fica um tanto quanto mexido.
Na primeira oportunidade de desencadear uma briga, ele transforma um chuvisco manso num temporal, e rompe o namoro só porque a namorada criticou alguma série ou reclamou do frio. Sem pestanejar ele pula fora do relacionamento e avisa o colega de trabalho que está livre para o rolê.
Como um bom patense precavido, já adquiriu o passaporte para a festa e se endividou no varejo patense adquirindo botas, jaquetas e roupas de frio novas. O carro foi pra oficina, a folga reservada com as horas extras foi solicitada e até perfume novo o indivíduo comprou. Um tapinha no cabelo degradê e na barba estilizada, e ele estava pronto pra Fenamilho.
Logo no primeiro dia já saiu com as meninas de Brasília. Encheu a cara e cumpriu com eficácia o circuito Arena > Praça Park > Paiolão. Nem percebeu que meia dúzia de familiares da ex-namorada visualizaram enquanto ele dava uns amassos nervosos no meio do parque. Como previsto, ninguém sabia do término e foram avisando a pobre coitada recém-abandonada.
No segundo dia, as moças já sabiam o itinerário e deram uma despistada nos caras. Queriam aproveitar a festa por elas mesmas! Os dois foram jogados de lado, mas partiram pra outras. Sem muito custo os caras farrearam tudo de novo. Nosso personagem só não contava que ia trombar a ex-namorada justamente quando estava xavecando outra mulher.
O sangue subiu, o arrependimento bateu, e por sorte, o bom senso também. Ninguém teve coragem de fazer nada, ambos amoleceram... Mas segue o baile! Marília Mendonça nos altos falantes dava a impressão de que o cara estava em um baita filme e a trilha sonora regada de temáticas sobre infidelidade não poderia ser mais precisa.
Por um breve momento de reflexão, o rapaz percebeu que aquelas canções faziam todo o sentido devido ao contexto da festa. Deu uma olhada ao redor e teve plena convicção disto. Lembrou-se das dezenas de artistas e compositores patenses que escrevem e interpretam estas canções e pensou “poxa vida, eu estou servindo de inspiração para estas músicas”.
Durante o restante da festa, farreou e bebeu até não poder mais. Vociferou de raiva ao ter que pagar o estacionamento inflacionado das redondezas, fez barbeirada no trânsito enquanto voltava bêbado pra casa, e o rendimento nos dias em que não conseguiu folga no trabalho, foram no mínimo deploráveis.
O episódio mais lamentável foi ter encontrado um sobrinho da ex-namorada nos arredores da Praça Park. Sabe aquele guri que já te considera da família e até chama de tio? Sim, esse mesmo! O moleque teve o azar de encontrar com ele beijando outra e ficou travado olhando pros dois sem saber o que dizer. A menina percebeu e logo que pôde, pulou fora.
Depois dessa o caboclo percebeu a furada em que estava se metendo e sentiu uma saudade enorme da ex-companheira. Quando soube que ela estava no parque, encheu o tanque com a famosa pinga da Fazendinha do Adão Marins, criou coragem e fez uma cena dramática que tornou a vergonha com a família da moça ainda maior. Aquele vexame...
Resultado: depois de um barraco daqueles, nosso casal 20 reatou. Isso mesmo! Sim, leitor eu sei que você pratica ou pretende praticar esta proeza... E você não vai ser nem o primeiro e nem o último a cometer esta pseudo-infidelidade, ou mero desejo de aproveitar inconsequentemente a festa do milho.
Só não sei se ter a cara de pau de reatar, é um privilégio ou um sacrilégio. Sei mesmo que demanda muita cara de pau dos envolvidos. Tanto da pessoa que larga, trai e tenta reatar, quanto pelo bobão que aceita voltar depois de tanto papelão. Tem ainda aqueles que são abandonados, chutam o balde, aproveitam a festa pegando todo mundo e depois reatam. Vai entender...
Fico imaginando como as pessoas agem depois de tudo isto acontecer. Quando a poeira abaixa, a coisa deve ficar bastante feia com os familiares do (a) namorado (a). Tem gente que passa o ano reconquistando a confiança de todo mundo e putz... Lá vem a Fenamilho de novo. E o ciclo recomeça!
Caio Machado é bacharel em Jornalismo pela Universidade do Estado de Minas Gerais. Pós-graduado em Jornalismo Digital, além de editor-chefe do Jornal de Patos, também atua como repórter televisivo, produtor musical e artista independente.
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1 Comentários
Ameiiiii!!!! 😍
ResponderExcluirObrigado por comentar!