Paciência

 Por Renata Estevam de Brito

Imagem: @no.retrovisor

Sim! Não é fim! Do túnel, da apatia, da angústia, da aflição. Mas, se tudo é consequência, o que dizer da paciência que anda apenas em latência e que não chega de antemão?

1, 2, 3... Conte até 10. A gente não ganha nenhum “mirréis” em resolver os problemas do mundo. O negócio é mais profundo, e não para nenhum segundo.

A máquina tem engrenagem forte e nem a própria morte é capaz de implodir. O que nos resta é fingir, fechar os olhos e ir, com nossa pedra diária nos ombros procurar o aleatório e camuflado norte, que não alcançamos nem por sorte, mas que em Sísifo, aprendemos a “perseguir”.

É por isso que me pergunto: ser ou não ser? E a reposta continuo sem ter. Em devaneios busco soluções para esse mistério existencial.

Em um vislumbre surge um pensamento: e si, em um devaneio epicurista nos refugiássemos em um jardim? Então vem...Cola aí. Para a gente tentar ser feliz. Para deixarmos a loucura por um triz. Para subirmos uma escada, rumo ao nada. Para encontramos uma nuvem, ou um clarão, e de lá darmos um salto como se não houvesse chão.

Apenas o abraço do todo... apenas o cosmos, sem engodo.

Um salto para o ar respirar, para a vida em nossas veias pulsar. Como em uma boa dose de adrenalina. Palpitações e emoções. Sentir o calor e seu movimento. Energia! Alta entropia. Liberdade que aguça e também assusta. Prazer sem medo ter.

E ponto final. 

Por segundos, apenas.

Findada a alucinação, percebo que a liberdade, na verdade, é algo imaterial. Então, talvez, aquele refúgio não se formalize, não se eternize. E só nos reste as palavras amigas que consolem e suavizem nossas vidas. Uma ideia, uma forma ideal. 

E, quem sabe, o sentido esteja em escrever. Ato doce como mel necessitando somente caneta e papel... 

Porém, mais um fantasma logo vem: “escrever para quê? Se na verdade ninguém lê as estrelinhas da solidão”. Mas tenho por resolução: “escrever para não morrer de tédio em meio a imensidão”.

Escrever para ouvir... escrever para sentir o porquê do bater do meu coração. Escrever para sonhar... escrever para amar o que realmente há em mim.

Escrever, talvez, só para um leitor, que na surdina, lança sussurro.

Que se admira com a letra em traço. Que vê no verso seu próprio desabafo e na estrofe, um forte abraço. Um alento pra desolação.

Escrever para a mente expandir. Escrever para talvez abrir as minhas portas da percepção. E, desta vez, sem enganação.

Renata Estevam de Brito é professora, poetisa e ativista cultural em Patos de Minas. Integra o movimento Slam Phatos, o ponto de cultura Zagaia, o grupo de teatro Vitruviano e ajudou a organizar o livro Phatos Poéticos em 2024.

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7 Comentários

  1. Perfeito 👏👏👏👏👏👏

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  2. Escrever é preciso, viver não é preciso! Avante pelo mar das letras! Parabéns!

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    1. Exatamente! E por a vida não ter precisão, buscamos fazer sentido!

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  3. Renatinha, eu sou sua fã!

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  4. 👏🏻👏🏻👏🏻

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  5. Parabéns pelo texto! Profundo e sensível!

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  6. Que sensível Renatinha. Vc arrasa! 🤍

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