Por Natália Marins*
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Imagem: Freepik |
Estava lendo as linhas da mão
Vida: cigana oblíqua dissimulada
O seu tato molda sua vida toda?
Pediram pra me ler, mas arranquei algumas páginas
Eu tava pra desaparecer
Toquei o céu, falei com Deus
Ele me disse: abre essa porta!
Tentei abrir e tava fechada...
Cerrei os punhos de cara fechada
Olhei em volta e não via nada
Sentei no chão e foi então que escrevi essa carta:
Em oração
Meu coração na mão
Meu corpo, minha mente, minhas mãos cansadas
Sentindo tudo, entendendo quase nada
Uma multidão na calçada
Uma ideia trocada
Mãos que tocam a pele
Mãos que matam pela cor da pele
Mãos que dão flores de graça
Mãos que curam e também ferem
Mãos que sugerem ameaças
Mãos que servem, contas pagas
Nãos não servem, quero a prata
Nos dedos de uma mão conto os de verdade
Faltam dedos pra contar as vaidades
Faltam motivos pra encarar a realidade...
Manejo é com coração, as palavras só saem
Lave suas mãos da sujeira desse mundo moinho
Não me toque, eu não ando sozinho
Mãos pra cima, desceram da viatura
Mãos apalpando sua cintura
Com um cano pra própria cintura
Mãos que torturaram na ditadura
Escravidão acabou, vocês jura?
Mas olha só que loucura
Mãos também tem o poder de fazer música
Funk e rap e cultura
Mãos materializam uma pintura
Quanto vale a sua assinatura?
Analfabetismo existe no Brasil
Mãos apontam um clima hostil
Mãos que botam fogo em racista, machista, fascista
Mãos de quem já sofreu muito nessa vida
Mãos que constroem muros
Mãos criando o futuro
Nosso futuro tá nas mãos de quem?
Criolo escreveu: "Enquanto a elite aplaude seus heróis"
A classe média acha que alcança, a ignorância corrói
Calos me lembram porque dói por quem dói
Ele escreveu certo por linhas tortas
E depois foi crucificado
A justiça falha está em nossas mãos, todo um legado
Mãos escrevendo a história
Mãos pedindo esmola
Mãos assinando cheques, contratos
Contrate meu show ou terei que lavar todos esses pratos
Bença Mãe,
Aqui estou mais um dia na correria, vamos lá
Estendo minhas mãos como quem te chama pra dançar
Como quem reza pra Deus ajudar e a todos os orixás
A vida as vezes pesa, mal consigo segurar
Mãos secam lágrimas
Quando aperta quem te dá as mãos?
Se uma lava a outra, por que estamos tão individualistas?
Mãos que jogam lixo na rua
Mãos que catam lixo nas ruas
É uma via de mão dupla
O mal e o bem, qual você escuta?
Me oferecem uma caneta e um fone
Pra que eu não passasse fome
Escutei meus guias, eles me disseram que iam honrar meu nome
Pra eu confiar e segurar a bronca
Escrevi uma poesia de valor, mas ainda não paga minhas conta
Eles nos odeiam, pois, seus privilégios a gente confronta
Nessas mãos carrego as marcas de tantas gerações
Na pele alguns arranhões
Não dá pra passar nesse mundo sem frustrações
O tecido da vida tem várias camadas
Frágil, fértil, foda, dilacerada
Não vou mais dar murro em ponta de faca
"Nós vamos quebrando barreiras, derrubando muros e cravando as estacas"
Mãos educam nossas crianças
Mãos erradicam a pobreza e a segregação, levam esperança
Minhas mãos carregam marcas de tantas gerações
Essa é minha missão, vim pra tocar corações
Eu quero é mais, ver sua alma
tocar sua alma
E pra terminar essa carta
muita calma
Dê a mão pra pessoa do seu lado
O amor tem que ser compartilhado.
Busca pela verdade,fé nos passos: Slam Phatos!
Natalia Marins é uma jovem sonhadora que sempre encontrou nas palavras um abrigo e uma forma de mudar o mundo a sua volta e seu próprio universo. Escritora, slammer, cantora, compositora de rap e uma eterna aprendiz de ser humano. Fala sobre temas como amor, união, resistência, luta feminina e problemas sociais.
* Texto vencedor do voto popular na categoria SLAM do Festival Tecido de Artes, ocorrido entre os dias 30 de maio a 1º de junho de 2025 no Rancho Jatobá.
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1 Comentários
Obrigada pelo espaço Caio! O jornal é essencial na cultura de Patos e região ♥️♥️
ResponderExcluirObrigado por comentar!