O Clássico do Milho

 Por Luís Felipe Nunes

Imagem: Juan Azevedo

No Brasil, já se nasce dentro do futebol. Ainda bebês ganhamos nosso primeiro uniforme, seja do pai, da mãe ou de algum parente, sem sequer termos noção do que é aquilo. O futebol pode ser a única sensação de pertencimento de uma pessoa. Se você anda pela rua e à sua frente passa uma pessoa desconhecida com a camisa do seu time, ao menos um sorriso escapa, é inevitável. É cultural. Você não conhece aquela pessoa, mas ela torce pro seu time, automaticamente se sente empatia por ela. 

Os times são movidos pelas torcidas, sem torcida não existe futebol. Não é pelo dinheiro, não são pelos patrocinadores, não é pela diretoria, não são pelos jogadores, e sim pela torcida. Ela faz com que aquele time exista. Mas também, não existe futebol sem um time adversário, sem um rival.

Uma rivalidade pode nascer contra qualquer time de qualquer cidade, basta que a história de confrontos entre esses dois times seja marcada por algum fator, sejam encontros em finais de campeonato, sejam disputas políticas entre os dirigentes, seja a rivalidade na arquibancada.

Porém, existe uma rivalidade que é natural, que não há possibilidade de não existir, que Patos de Minas, como poucas cidades do interior do Brasil, possui. A rivalidade municipal, da União Recreativa dos Trabalhadores e do Esporte Clube Mamoré.

Quando existem dois times numa mesma cidade a rivalidade existe independente de qualquer coisa, porém no caso de Patos de Minas, essa rivalidade ainda tem origem na das famílias que por muitos anos disputaram a influência na cidade, Borges e Maciel, das quais cada time está ligado a uma delas.

A grande verdade é que a rivalidade move um povo, um time que tem um rival do outro lado da cidade, tem isso como um grande incentivo, um combustível para ser melhor. O primeiro objetivo sempre será, ser melhor que seu rival, ganhar os clássicos, se mostrar mais poderoso financeiramente. Mas pro torcedor, é a vaidade, o ego, a “zoeira” com o amigo ou parente torcedor do rival, a alegria de ir ao Zama Maciel ou ao Bernardo Rubinger, e ver seu time ganhar do rival. Num país como o Brasil, onde a vida se torna mais difícil a cada dia, isso pode ser a única alegria de uma pessoa, durante a semana.

Um fato curioso, também é, como um clássico municipal, desperta o interesse ao futebol local. O futebol é a paixão do povo brasileiro, é muito comum, quando Cruzeiro, Atlético Mineiro entre outros gigantes do Brasil, jogam em Uberlândia, torcedores até de outros times irem ao Parque do Sabiá, apenas pelo futebol, por amar assistir o esporte. Por outro lado, é muito comum passagens de estádio praticamente vazio, em jogos do Uberlândia Esporte Clube. 

Existem diversas fotos aéreas dos estádios de Patos de Minas, tão lotados em jogos da URT contra o Mamoré, quanto em vezes que os times de Belo Horizonte jogaram em Patos de Minas. Talvez falte a Uberlândia, e a maioria das cidades do interior de Minas Gerais, uma rivalidade municipal, para que o futebol local ganhe força na cultura da cidade.

Uma coisa é fato, a cultura de futebol em Patos de Minas, gira em torno desses dois times, dessa rivalidade. Isso faz com que uma cidade comum no Alto Paranaíba, coloque mais gente num estádio do que a segunda maior cidade do Estado. Faz com que a cidade respire futebol. Faz com que a cidade seja digna de um povo apaixonado por esse esporte.

Vida longa ao clássico do Milho, à União Recreativa dos Trabalhadores e ao Esporte Clube Mamoré.


Luís Felipe Nunes é um engenheiro de software de 25 anos, apaixonado por matemática e arte, que se expressa culturalmente pela banda Tangara e por alguns textos aqui e ali.
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