Texto e imagem por Isadora Tavares
Enquanto caminhamos, linearmente, há uma estrada paralela que, em algum ponto, convergirá com a sua. E enquanto anda no seu próprio caminho, observa o alheio. Por quê?
Certa tarde, para cortar a estrada, passei por dentro de uma universidade. Arborizada, com trilhos que lembravam o caminho das esmeraldas, porém terracota. Com a atenção voltada para frente, enxerguei naquele campo de visão periférica uma mulher. Vinha andando compenetrada, sem observar a sombra das árvores que se arrastavam pelo chão e quase formavam desenhos. Não olhou para o céu e viu aquela piscina com nuvens. Estava séria. Um passo após o outro.
Se nossa distância fosse medida, formaria um triângulo isósceles. Apontamos de cada lado ao mesmo tempo. Quem chegaria primeiro? Ela estava indo em direção ao meu encontro no nosso próximo ponto de convergência. E o que será que se passava em sua mente? Ela segurava dois cartões de plástico que eu não conseguia decifrar o significado. Uma corrida? Meu coração disparou. Vamos nos chocar? A mulher notou minha presença? Uma filosofia completa…acabada. O doce objeto da minha observação apertou o passo, foi até a placa, que era a nossa intersecção, colocou algo e saiu. Assim, tão rápido, que nos desencontramos, tal qual acontece na vida. Segundos depois cheguei até a placa, li “Estamos há 1 dia sem acontecer acidentes. Nosso recorde é de 458.” Esse era o motivo do semblante duro daquela jovem senhora. Passei pela placa tão rápido quanto meus olhos.
A vida é composta de caminhadas que se convergem em acidentes e esperanças de quebrar o recorde. A diferença é que há uma linha de partida e uma de chegada, que se dividem, lineares, formando mais uma vez um triângulo. Não vence quem se mantém intacto. Também não sei quem vence, mas tenho um palpite de que não são eles.
Isadora Tavares é jornalista e escritora nas horas vagas
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