O par de sandálias

Texto e imagem por Isadora Tavares

Sentei-me na cama. Distraidamente olhando as cortinas e reconhecendo aquele ambiente. Meu quarto. Deslizei o olhar para o chão e ele recaiu sobre um objeto diferente. Não fazia parte daquele imaginário de quarto. Sandálias. Havia um par de sandálias pretas com correias brancas parado no meu tapete. Relegados ali, quase sobrepujando o branco encardido de minhas próprias sandálias no meu quarto branco. Não, não eram minhas aquele par de ousadia que se instalara ali embaixo. Continuei observando até me perder da conexão tempo-espaço. Não sabia mais se aquela cena era como uma recordação, no futuro, ou se de fato estava acontecendo. Não me lembro de ver aqueles chinelos ali antes, sozinhos, sem dono. Mas senti que olhai-os-ia muitas vezes ainda. E gostaria deles. Passaram-se alguns dias e os chinelos ainda não se camuflaram. Querem demonstrar presença. Meu quarto é tão pequeno e claro. Um dia será grande e, ainda, claro. Os chinelos continuarão lá, destoando de tudo. Meus tênis estão solitários. Meus tênis são brancos e não têm sandálias.


Isadora Tavares é jornalista e escritora nas horas vagas

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