Resignação

Texto e imagem por Lívio Soares de Medeiros 


Suporto bem a ideia de minha morte

porque penso nela todo dia.

Não como quem a deseja,

mas como quem está ciente

de que ela pode acontecer

antes que eu termine este verso.


Não aconteceu.

O que não significa

que não possa acontecer

no próximo.


E por não ter acontecido

não quer dizer que não acontecerá

amanhã ou enquanto saboreio

um chope daqui a seis anos.

Pode ser que eu morra enquanto

você lê estes versos.


Suporto bem a ideia de minha morte

porque é típico das coisas deixarem de existir.

Criaturas há que demoram a morrer;

não há criatura que não tenha morrido.

Sou criatura como qualquer outra.


Não lamento a vida.

Há momentos em que a celebro.

Estou vivo.

Cabe a mim criar,

ciente de que,

ao fim e ao cabo,

nada meu restará.

Nada restará

nem de mim

nem de você

nem das estrelas.

Enquanto sou restante,

olho para o céu.


Lívio Soares de Medeiros é autor de Leve Poesia, Algo de Sempre, Dislexias, Amor de Palavra, Anacrônicas, O Livro de João, Entrevista com o Professor, O Fim do Brasil e Histórias Familiares. Dedica-se também à fotografia.

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