A composição musical prolífica de Eduardo Moe

Moe e Alan durante show da Erbert Richard no Baião de Dois / Lívio Soares

Composição musical é um procedimento místico e espiritual que requer disciplina para que algo fluido e consistente aconteça. Esta é a definição do termo para Eduardo Moreira, o músico patense por trás da banda Erbert Richard e de algumas músicas do grupo O Berço e de artistas diversos de Patos de Minas.

Também conhecido como “Moe”, Eduardo Moreira nasceu em Patos de Minas, mas viveu em Carmo do Paranaíba até os seis anos de idade. Foi lá que ele se deparou e encantou com música pela primeira vez na vida, ao ouvir uma fita cassete da Turma do Balão Mágico, grupo infantil que fez bastante sucesso nos anos 80.

Na mesma época, ele também teve acesso a discos de vinil de bandas como Pink Floyd e Scorpions, escutados pelas irmãs mais velhas. “Eu sempre ficava fascinado ouvindo estas canções e bastante intrigado ao querer entender como é que os músicos conseguiam escrevê-las e executá-las”, contou.

Ele voltou para Patos de Minas, e em meados de 1996, Eduardo se aventurou pela primeira vez no universo da composição por meio de um aparelho de som compacto que possuía uma entrada de microfone. Até hoje ele guarda as fitas cassetes originadas dessas experiências musicais embrionárias.

Infância Musical e a Geração MTV
Moe cresceu como uma criança comum dos anos 90 que ainda não usufruía da facilidade de descoberta da internet: conhecendo novas bandas ouvindo LP’s e fitas cassetes ou por meio de revistas e gravações de programas da MTV e shows. “Era tudo que tínhamos acesso, mas era muito divertido”.

Aos 15 anos, juntou-se aos colegas do Colégio Marista Frank Watanabe e André Varella no intuito de formarem uma banda de rock. Como ninguém sabia tocar nada, cada um deu um jeito de se instruir e Eduardo foi estudar música na Escola Nova Ação, onde permaneceu por seis meses e estudou violão.

Com muito esforço e insistência, Eduardo Moe conseguiu ganhar a primeira guitarra elétrica do pai. Mas ele ainda não tinha o amplificador necessário para plugar o instrumento e conta que ele só foi obtido meses depois do presente, com ainda mais perseverança do que antes.

Nessa época, Eduardo e os amigos descobriam bandas como Green Day e Iron Maiden e os gêneros pós-grunge e hardcore estavam no auge. Ele relembra que chegou a discutir com um dos amigos por ser o único da turma que gostava do rock clássico da banda australiana AC/DC.

Moe também começou a frequentar os shows da cena independente de Patos de Minas. “Bandas como Leprechaum e Erva Doce faziam a cabeça da molecada. Lembro-me que a primeira banda do Ciro Nunes, Sub Neurônio, havia lançado um EP na época, e isso me marcou bastante”, disse se referindo a “Marcas da Involução”, de 1998.

Em 2003, ele foi aprovado no curso de Ciências Sociais da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES) e se mudou para Vitória. Mesmo que ele tenha levado a guitarra, ele passou os três primeiros anos do curso, focado em estudar e apenas praticava e compunha de maneira despretensiosa, nas horas vagas.

Três anos depois, enquanto caminhava pelo campus da UFES, se deparou com um cartaz em que universitários procuravam por um guitarrista para formar um cover da banda AC/DC. “Eu amava aquela banda e não conseguia acreditar que havia mais pessoas que também gostavam dela por ali”.

Ele se juntou ao projeto, que mesmo não vingando, cativou grandes amizades para Moe, pois compartilhavam do mesmo gosto musical. A vontade de registrar algo só crescia e com as moedas que sobrava do dinheiro das despesas universitárias, Eduardo economizou o bastante para gravar a primeiro demo.

O surgimento da banda Erbert Richard
O dinheiro que Eduardo economizou foi suficiente para registrar três músicas ao vivo no Estúdio Gruta, localizado no Parque Municipal Gruta da Onça em Vitória. Com apoio dos amigos do AC/DC cover, ele gravou o material que daria início ao projeto intitulado Erbert Richard.

O nome faz alusão ao consagrado estúdio de dublagem do finado empresário Herbert Richers. Um marco para a geração que cresceu assistindo televisão nos anos 90, que Moe define como uma “antropofagia cultural”, uma necessidade de consumir todo tipo possível de conteúdo e que carregava uma grande identidade.

A formação clássica da Erbert Richard:
Moe, Timonha, Aldo, Alan e Adriano

Ele tinha planos de seguir carreira acadêmica, mas ao voltar para Patos de Minas, após se formar, se viu forçado a lecionar devido a dificuldades financeiras que a família enfrentava na ocasião. Por sorte, Sociologia havia acabado de se tornar disciplina obrigatória e ele começou a dar aulas na Escola Estadual Marcolino de Barros.

Em 2008, Moe presenciou a primeira edição do Festival Marreco de Cultura Independente, realizado pelo Coletivo Peleja. “A vontade de subir aos palcos se intensificou ao ver a cena musical profissionalizada e tão organizada e forte”, relatou Eduardo, que reativou as atividades da banda Erbert Richard.



Com o salário de professor da rede pública, Eduardo juntou uma grana e foi até o Estúdio DaumRec, na época gerenciado por Ciro Nunes e Alysson Luoli, apenas com a guitarra na mão, para mostrar as composições e começar a trabalhar no primeiro álbum da banda.

Neste dia, ele conheceu os músicos Timonha Júnior e Alan Girardeli, que faziam parte das bandas Barabizunga e Vandaluz, respectivamente, mas passariam futuramente a integrar o projeto Erbert Richard. Além de integrar a banda, Alan também produziu o disco “The Lucid Amp”, que foi lançado em 2009.

O álbum é considerado por Eduardo o trabalho mais bem-sucedido de sua carreira. “Por meio de nossa página do MySpace, recebemos feedback de pessoas do país inteiro, Estados Unidos, Itália, do leste europeu. É incrível traduzir um sentimento por meio de composições e poder compartilha-lo com as pessoas”.

No mesmo ano, a banda tocou na segunda edição do Festival Marreco e participou do Festival Jambolada em Uberlândia, onde tiveram a oportunidade de abrir para os gigantes do metal Sepultura. “Oito anos atrás eu estava com uma revista Rock Brigade debaixo do braço falando da banda e de repente eu estava ali, foi surreal”, recordou.




O grupo ainda foi selecionado para o extinto festival Triangulo Music e no total, se apresentou dez vezes em Patos de Minas. Em meados de 2012, a banda lançou o EP “With Hapiness”, com cinco canções inéditas e com a pegada musical indie rock ainda mais aprimorada.

Devido a um desgaste natural, o grupo se dissolveu. As dificuldades de arcar com os custos da banda e o fato dos músicos, incluindo Eduardo, possuírem carreiras paralelas, fez com que o sonho de prosseguir com a Erberb Richard se dissipasse naquela ocasião.

Composições e colaborações
O trabalho musical de Eduardo não parou por ali. Em 2014, a banda O Berço, que conseguiu certa repercussão no cenário independente nacional, gravou duas canções do artista que foram parar no álbum “Alto do Vale”, que circulou diversos festivais de música pelo Brasil a fora.

“Tive a felicidade de assistir shows d’o Berço em que o público cantava as letras de minhas músicas do começo ao fim, foram momentos mágicos. Sem contar que a canção “Insisto”, chegou a circular bastante pelas rádios”, afirmou Eduardo, que também assinou a autoria da faixa “Alice”.


Outras composições de Moe também foram utilizadas pela banda Luna e recentemente, o músico patense Pedro Pecato gravou a canção “Pra Todo Fim”, fruto de uma parceria com Eduardo. “Ver estas canções sendo tocadas, me permitiram continuar vivo musicalmente”. Mesmo com o término da Erbert Richard, Eduardo continua compondo e praticando guitarra.

Em 2017, ele deu início a um projeto que se tornaria o terceiro álbum da banda, porém decidiu começar do zero e passar a escrever letras em português, pois de certa foram, as composições em inglês do grupo, limitavam o alcance das mesmas.

Ele trabalha na pré-produção de um novo álbum, solo e desvinculado do Erbert Richard, cujas gravações terão início nos próximos três meses. “Ainda estou cogitando os artistas que irão participar das gravações. O disco traduzirá a nova visão e perspectiva do que estou vivendo”, finalizou.

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3 Comentários

  1. Moe é um artista foda! Há mts anos compondo com singularidade e paixão. Admiro muito!
    Não entendi o pq de O Berço estar citado como banda e Erbert Richard como "projeto". Sendo q ambas são representantes e importantes na cena local.

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  2. Com certeza Moe é um dos grandes artistas e compositores da cidade!

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  3. Ouvi as 2 músicas expostas nessa resenha e realmente achei sensacional o turbilhão de emoções q as mesmas despertam. Conheço o Eduardo a pouco tempo e nunca imaginei que o mesmo fosse portador de uma trajetória tão legal e intensa. Parabéns pelo empenho jovem !

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