Mônica e Riuvânio, o casal patense que abriu uma Escola de Falcoaria em Monte Verde

Por Caio Machado


Quatro anos atrás o casal de professores patenses Mônica e Riuvânio deixavam a cidade para se mudar para o distrito de Monte Verde, localizado no sul de Minas Gerais, e dar início a uma atípica escola de falcoaria.

Localizada na Rodovia Agostinho Patrus, a quatro quilômetros de Monte Verde, a Escola de Falcoaria (ESCO°FALCO) instrui os visitantes sobre a arte milenar da falcoaria, por meio de interações animais assistidas e workshops lecionados pelo casal.

A história de Mônica e Riuvânio teve início na Escola Estadual Elza Carneiro Franco, o Polivalente, onde ela lecionava inglês e ele cursava o ensino médio. Depois de Riuvânio se formar, a amizade dos dois se transformou em namoro e em seguida, casamento.

Da união matrimonial, vieram os filhos Clara e Ivan, que receberam o especial sobrenome “Moriá”, uma junção das silabas iniciais do nome de Mônica e Riuvânio, somadas à primeira sílaba do substantivo amor.

Conhecido como Rui desde a adolescência, Riuvânio estudou biologia e logo já estava lecionando em Patos de Minas. Mônica recorda que desde que conheceu o marido, ele era apaixonado por aves de rapina.

“A maioria dos homens passa os fins de semana no bar ou jogando futebol. Ele ia treinar aves. Meus amigos e parentes até caçoavam de mim dizendo, ‘coitadinha da Mônica, casou-se com um rapaz que gosta de brincar com passarinho’ “, lembrou.

Além de possuir uma ave de rapina em casa, adquirida num criadouro comercial e devidamente registada, Riuvânio também cuidava de aves resgatas pela Polícia Militar e as recondicionava para serem devolvidas à natureza.

A família morava no Bairro Guanabara e se tornou natural o hábito de que Rui seguisse para o Copabana, bairro próximo, pouco habitado e com grandes espaços abertos, para cuidar e treinar as aves. Hábito que ele manteve por 25 anos.

O casal acompanhado de Ronivon Viana da Silva da ENFALCO

Em meados do ano 2000, ele se aprofundou mais e foi o primeiro aluno matriculado na ENFALCO (Escola Nacional de Falcoaria), em Uberlândia, onde foi tutorado por Ronivon Viana da Silva e obteve a formação de falcoeiro.

“Devo tudo que eu sei ao Ronivon, naquela época não existia internet e eu fui com a cara e a coragem. Quase todos os fins de semana, deixava a Mônica e as crianças em casa e ia pra Uberlândia para estudar”, contou Rui.

Os anos se passaram e os filhos do casal foram cursar universidade fora da cidade. Em 2014, por sugestão de uma colega de trabalho de Mônica, a família viajou a passeio para o distrito de Monte Verde, situado no município de Camanducaia.

No ano seguinte, o casal regressou sem os filhos e a paixão de Riuvânio pelo lugar aumentou. Dois meses depois ele sentiu que algo de especial poderia acontecer e voltou sozinho para aquele frio lugarejo turístico.

Ele ainda lecionava em Patos de Minas, mas decidiu apresentar um projeto para fazendeiros locais. Ao entrar na Fazenda Radical, mostrou a ideia para o alemão Robert Hamacher, proprietário do local, que ficou interessado.

O projeto envolvia aves de rapina e era uma mistura de atração turística associada ao aprendizado e ensinamento de uma escola. Hamacher não só comprou a ideia, como ofereceu um espaço para um projeto e um chalé para que Riuvânio pudesse morar.

“Lembro que Rui me ligou dizendo que iríamos nos mudar para Monte Verde e que havíamos até conseguido uma casa para morar. Achei que era brincadeira, pois é um lugar caro onde todos querem viver, mas de repente estávamos nos mudando”, disse Mônica.

Por sorte, ela estava prestes a se aposentar. Enquanto isso, Riuvânio permaneceu seis meses sozinho no local, treinando um gavião e uma coruja, e fazendo os preparativos estruturais do que viria a se tornar a escola de falcoaria.

Riuvânio foi muito bem acolhido na Fazenda Radical. Robert estava adoentado, e neste período, Rui o levava para o hospital e para consultas em São Paulo, pois a esposa dele, Eliana Colla Hamacher, não sabia dirigir.

Gaia, um gavião asa de telha

Em 2016, o casal se uniu em Monte Verde e começou a esboçar e compreender como funcionaria a ESCO°FALCO. Em pouco tempo, eles anunciaram a abertura das atividades e iniciaram o projeto.

Aos poucos, a Escola de Falcoaria foi crescendo, ganhando visibilidade na região e boas avaliações nas redes sociais. Após um tempo, Robert Hamacher faleceu e depois de três anos de estadia na fazenda, o casal arrendou um novo local e atual endereço.

“A missão de Robert foi nos colocar em um lugar onde pudéssemos trabalhar e talvez se ele não tivesse dado a oportunidade, nunca teríamos nos fixado aqui, pois não tínhamos nada além do sonho e a vontade de trabalhar”, contou Mônica.

No novo espaço, houve uma melhoria do trabalho, o aprimoramento da estrutura, a obtenção de novas aves e uma considerável profissionalização dos conteúdos ministrados e lecionados na Escola de Falcoaria.

A falcoaria é uma arte de mais de 6000 anos que consiste em utilizar aves de rapina como instrumento de caça. Pelo fato de a caça ser proibida no Brasil, a escola apenas fornece instruções de manejo, e não pratica a falcoaria propriamente dita.

Mônica e Riuvânio salientam que o principal objetivo da escola é a instrução. “Não permitimos que ninguém entre aqui sem sair instruído sobre a arte milenar da falcoaria, da biologia das aves e do cuidado com o meio ambiente”.

Ao contrário do que parece, a Escola de Falcoaria não funciona como um zoológico e sequer está aberta para a visitação de curiosos. Para praticarem as duas atividades oferecidas, os visitantes precisam agenda-las com antecedência.

A ESCO°FALCO oferece uma interação animal assistida em que Riuvânio orienta os visitantes sobre a parte teórica da falcoaria e na sequência, os guia por um passeio orientado, exemplificando o manejo e os voos das aves de rapina.

Os workshops informativos sobre as corujas são ministrados por Mônica, que leva os participantes ao redor das aves e sem que haja nenhum contato entre eles, esmiúça os hábitos e curiosidade das mesmas durante a aula.

Alguns visitantes se irritam quando descobrem que as aves não estão em exposição e outros pelo fato de não haver falcões no local. A falcoaria, não se limita apenas a falcões, mas inclui gaviões, águias e corujas.

Mônica explica que ganhar a confiança de uma ave é um processo bem demorado, que demanda de muita paciência e uma dedicação exclusiva. “Um gavião leva seis meses para socializar e a coruja, mais arisca e voraz, até um ano”, relatou.

As aulas também possuem um número máximo de participantes, limitando em apenas oito, os participantes das atividades envolvendo os gaviões, e apenas quatro para a interação com as corujas.

“As aves que compõem o plantel da escola não nascem na natureza, elas vão parar no local por meio de um intercâmbio comercial entre a escola e criadouros do Brasil”, disse Riuvânio, que obtém os animais no criadouro Fukui no Rio de Janeiro e a ENFALCO.

Riuvânio prestes a soltar um gavião resgatado pela PM

A ESCO°FALCO também realiza um trabalho voluntário em parceria com o Ministério Público da comarca de Camanducaia e com a Polícia Ambiental, reabilitando e devolvendo à natureza as aves resgatadas, apreendidas ou encontradas.

“Estamos realizados, porque encontramos um lugar muito bom para estar e o Riuvânio está muito reconhecido como o bom profissional, biólogo e falcoeiro que é”, disse Mônica orgulhosa.

É interessante ressaltar que o antigo apelido de Riuvânio ficou para trás. A nomenclatura surgiu quando professores acreditavam que o nome dele havia sido grafado incorretamente, chamando-o de Ruivânio, que logo se encurtou para “Rui”.

O próprio Riuvânio achava que a mãe o chamava pelo nome errado até consultar a certidão de nascimento. “Em Monte Verde ele renasceu como Riuvânio e eu confesso que levei um tempo para perder o costume de chama-lo de Rui”, comentou Mônica.

Interessados em conhecer a Escola de Falcoaria podem obter mais informações no endereço eletrônico https://escoladefalcoaria.com.br/ ou pelas redes sociais Facebook e Instagram.

 
Vídeo produzido à pedido do Colégio Marista de Uberlândia

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8 Comentários

  1. Admiro esse casal demais! Riuvanio foi meu aluno na Biologia. Muito amada tambem. Sucessos pra essa casal incrível

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  2. A Escola é uma lição de vida pra muito alem da Falcoaria! É um trabalho que convida a todos a contemplar a natureza, olhar pra si com olhos mais aguçados, mas especialmente ver nesse casal a força do companheirismo e da perseverança!

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  3. Parabéns professor Rui sempre admirável.

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  4. Parabéns ao casal pela lição de vida em tds os sentidos. Deus abençoe os projetos de vcs.

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  5. Parabéns aos dois,que Deus os abençoe em cada projeto!bjus Mônica,sempre sabiá!❤️🌹🙏

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  6. A minha admiração por esse casal aumenta cada dia. Que travalho maravilhoso e abençoado estão fazendo. São instrumentos nas Mãos do Senhor, para nos ensinar um pouco mais da natureza....que orgulho de te-los como amigos!!!!

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