Os versos do jovem Teófilo Arvelos

Por Caio Machado

Foto: Lívio Soares de Medeiros

Foi na zona rural do município que o jovem Teófilo Teles Pereira de Arvelos leu os primeiros livros e esboçou os versos que futuramente se tornariam livros. Nascido em Patos de Minas, o poeta de 17 anos publicou duas obras em 2019 pela editora portuguesa Chiado Books.

Segundo o próprio autor, o primeiro livro intitulado “Parnaso”, lançada no mês de fevereiro de 2019, é um apanhado de poemas com temas diversos. O título faz menção a um monte grego que consagra o deus Apolo e às musas, referindo-se a arte poética no sentido figurado.

Já a segunda publicação do escritor, “Lágrima”, foi lançada em novembro do ano passado e como deixa a entender pelo título, é um compilado de poesias melancólicas e românticas, explorando a razão das pessoas a chorarem ao se sentirem felizes, esperançosas ou mesmo desoladas.

Teófilo Arvelos atualmente reside em Patos de Minas e cursa o ensino médio no Instituto Federal do Triângulo Mineiro (IFTM), onde faz o curso técnico de eletrotécnica. Além da escrita, ele também toca violino, instrumento que começou a estudar na Filarmonie Escola de Arte, com o professor Alex Melo.

Na entrevista a seguir, concedida ao Jornal de Patos, o rapaz esmiúça um pouco da própria trajetória pródiga na literatura e explica de onde vem a inspiração para escrever, que o permeia desde que ele tinha nove, dez anos de idade.

Jornal de Patos: Você é natural de Patos de Minas, mas viveu boa parte da vida em uma comunidade rural. Onde cresceu e quando e quando se mudou para a cidade?
Teófilo Arvelos: Nasci em Patos de Minas em 2003, e vivi até meus quatorze anos e meio na área rural do município, na comunidade de Boa Vista. Até completar o Ensino Fundamental II, estudei no distrito de Alagoas, que fica a uns quinze quilômetros da casa de meus pais. Depois disso, mudei-me para a área urbana do município e passei a viver com minha avó paterna. Atualmente, curso o terceiro ano do ensino médio no campus de Patos de Minas do IFTM.

JP: De onde veio o interesse pela literatura e quando você começou a escrever?
TA: Desde pequeno, sempre gostei muito de ler. Aos cinco anos, quando entrei na escola pela primeira vez, eu já lia e escrevia muitas palavras. À medida que fui crescendo, conheci a “Série Vaga-Lume”. Foi com ela que apaixonei-me, de fato, pelos livros. As professoras de português que tive no ensino fundamental fizeram um bom trabalho ao levar os alunos à biblioteca, e ao passar fichas literárias sobre os livros que líamos.
Perpétua, a supervisora de minha escola em Alagoas, sempre me convidava para apresentar um jogral, declamar um poema ou até mesmo cantar um “desafio” em uma comemoração. Por meio dessas apresentações, fui aprendendo a identificar a beleza das rimas e das métricas — e a ausência delas, que também é bela. Minhas professoras de português, além de incentivarem os alunos a ler, os estimulavam a escrever, o que foi ótimo. Com elas, aprendi diversos gêneros textuais: carta, poema, crônica, conto. Creio que nasceram aí meus primeiros textos, que alguns tenho guardado até hoje.
Já no ensino médio, aperfeiçoei, com a ajuda de meus professores, minha escrita crítica, argumentativa. O IFTM forma cidadãos críticos, no bom e necessário sentido do termo. Assim, aprendi como defender e contestar um ponto de vista, e como expressar respeitosamente minha opinião.

JP: Além dos professores, seus pais também te incentivaram com a literatura?
TA: Sim, meus pais sempre me incentivaram a ler e a escrever, e sou muito grato a eles por isso. Minha avó paterna, com quem moro, é minha maior inspiração familiar para a leitura. Na verdade, ela lê muito mais do que eu. Vovó Maria é uma das maiores leitoras que conheço. Agradeço muito a Deus por eu ter tão belos exemplos na família.

JP: Quem são suas principais influências literárias?
TA: É difícil, para mim, identificar minhas influências literárias principais. Algumas pessoas já me disseram que minha escrita parece com a de determinado autor, ou com a de outro. Já ocorreu de dizerem que minha escrita se parece com alguém cujo trabalho nunca li na vida. Na verdade, creio firmemente que ainda não defini meu estilo de escrita. Vivo experimentando. Gosto de experimentar. Não sei se poderei, um dia, definir com precisão o que escrevo.
Ainda assim, posso citar alguns autores que me “formaram” na leitura: Lygia Bojunga, Cecília Meireles, Fernando Pessoa, Maria José Dupré, Míriam Leitão, Fernando Gabeira, Lívio Soares de Medeiros, dentre outros.

JP: Você citou o escritor patense Lívio Soares como uma de suas referências. Como teve acesso à obra dele?
TA: Muito simples: ele é meu professor no IFTM. Meu pai já era amigo dele, foram colegas de rádio, só que há muito tempo não se viam. Eu não o conhecia, mas assim que entrei no ensino médio, o procurei para falar de “Parnaso”, meu primeiro livro, que já estava quase todo escrito. Lívio ajudou-me muito a publicar meus livros de poesia. Foi meu professor de literatura e de português instrumental, e atualmente é meu professor de inglês — além de amigo.


JP: Em 2019 você publicou dois livros de poesia. Quando lançará um próximo livro?
TA: Lancei os livros de poesia “Parnaso” e “Lágrima”, ambos em 2019, pela Chiado Books. Por meio dessa mesma editora, também foram publicados poemas de minha autoria em diferentes edições da antologia de poesia brasileira contemporânea “Além da terra, além do céu”. Em breve, estarei presente com mais um poema em uma nova antologia, que está sendo organizada pela Chiado, de título “Quarentena — memórias de um país confinado”.
Apesar de minha escrita literária publicada em prosa se limitar a apenas uma crônica que se encontra em edição da revista “Letras Raras”, da Universidade Federal de Campina Grande, e a um pequeno relato no livro comemorativo “Diário de Memórias”, do IFTM, dedico-me, atualmente, mais à escrita prosaica que à poética. Assim, creio que meu terceiro livro será em prosa; provavelmente, um romance.

JP: Recentemente você obteve a terceira colocação da categoria Poesia do concurso cultural da Prefeitura Municipal “Patos coração e chão”. De quais outros concursos literários você já participou?
TA: Alegrei-me muito com o resultado do concurso da Prefeitura de Patos de Minas; os demais poemas inscritos são de imensa qualidade literária. Acerca dos concursos literários de que já participei, não me lembro de todos. De vez em quando, envio algum texto para concursos das mais distintas regiões do Brasil. É bom participar de concursos. Alguns têm temática livre: com essa possibilidade, posso expressar com mais liberdade meu lado criativo; outros têm tema previamente determinado: nesse caso, sou desafiado um pouco mais.
Em nível local, concorri ano passado ao prêmio literário Juca da Angélica, organizado pelo Balaio de Arte e Cultura. Não ganhei, mas fui homenageado na entrega do prêmio, juntamente com os escritores Lúcia Corrêa e Wander Porto.

JP: Como a pandemia do novo coronavírus modificou sua vida? Isso afetou seu processo criativo?
TA: Sigo tendo aulas pelo IFTM, remotamente. O instituto não está parado, então não tenho muito tempo livre. Além das aulas normais, tenho um projeto de pesquisa pela instituição, e faço um curso de introdução à astrofísica pelo programa Mentores, da OBMEP — ambos ocorrendo à distância. Portanto, no sentido de estudos, a pandemia não me afetou tão negativamente, como tem afetado a maioria dos outros estudantes de escola pública.
Nas outras esferas da vida, contudo, não há muita escapatória. Sigo as regras de isolamento, o que me impede de realizar muitas coisas de que eu gostaria. Mas, como hoje se está dizendo, o isolamento é físico, e não social. Ou seja, podemos continuar comunicando uns com os outros por meio das novas tecnologias, o que é ótimo. Apesar de que um abraço amigo é algo insubstituível, uma conversa ou uma partida de um jogo on-line amenizam um pouco a saudade. Assim, consigo levar a situação atual com mais leveza.
Respondendo à outra questão, para quem lê o que escrevo, meu processo criativo foi afetado negativamente pela pandemia, pois estou escrevendo bem menos neste período. Em quesito de volume de textos, isso é verdade. Entretanto, a situação atual está me possibilitando a interiorização e o silêncio necessários para conceber muitas ideias, para refletir algumas questões importantes e para me conhecer melhor — o que, certamente, contribuirá de forma grandiosa para meus escritos futuros. Isso me consola.

JP: Pretende seguir carreira como escritor?
TA: O sucesso de um escritor não depende exclusivamente dele. E, no Brasil, viver exclusivamente da literatura é quase impossível. Pode-se contar em poucos dedos o número de autores brasileiros que conseguem viver exclusivamente da literatura. Mas, isso não me impede de sonhar em ser um bom escritor. Para isso, sigo lendo e escrevendo: esse é o caminho.

JP: Já decidiu o que irá cursar no ensino superior?
Acerca do curso superior que pretendo fazer, atualmente penso em Geografia. Já me imaginei em muitos outros cursos, como Jornalismo, Letras e Ciências Sociais. Escolher o que estudar na universidade não é algo fácil, pelo menos para mim. Não obstante, se eu tivesse que eleger hoje o que e onde cursar, seria bacharelado em Geografia na Unicamp (Universidade Estadual de Campinas). Contudo, quando esta entrevista for publicada, talvez eu já tenha mudado de ideia umas cinco vezes.

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Os dois livros de Teófilo Arvelos estão disponíveis para compra na forma física e digital no site da editora Chiado Books. Para adquiri-los, é necessário selecionar o pagamento em reais no topo da página, pois o portal é europeu e configurado previamente com valores em euro. Saiba mais visitando o link https://www.chiadobooks.com/.

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4 Comentários

  1. Parabéns ao jovem escritor!!! Sucesso!!!




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  2. Escritor prodigioso e um belo amigo, além de ser muito bonito

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  3. O talento do meu sobrinho parece que já nasceu com ele, mas o importante foi o aprimorar diário que o faz brilhante!

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  4. Parabéns Teófilo, sucesso ,muito orgulho de vc. Um grande abraço!

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