Revolution Sport’s Wear: a primeira loja de skate e moda surfe de Patos de Minas

Por Caio Machado

Carlos Giovanni e Paulo Sergio durante a inauguração da loja em 1988

A primeira loja de skate e moda surfe de Patos de Minas foi fundada por dois paulistas no fim da década de 80. Idealizada por Carlos Giovanni de Souza e Paulo Sergio Borachi, a “Revolution Sport’s Wear” teve início no ano de 1988 e ficava localizada em uma loja na galeria da Rua Padre Caldeira, em frente à antiga rodoviária.

Carlos Giovanni reside em Patos de Minas desde a ocasião da inauguração da loja. Ele tinha 22 anos e trabalhava com Paulo no Itaú Seguros de São Paulo, quando decidiram abrir o próprio negócio. Apaixonado por skate, deixou o trabalho e junto do futuro sócio, saíram procurando cidades do interior para se fixarem.

“Ao contrário de meu pai, que saiu do interior do Ceará com destino à capital paulista, decidi sair de SP para tentar a sorte com o meu negócio em alguma cidade do interior”, contou Carlos Giovanni. Inicialmente a dupla cogitou o município de Rio Claro e outras cidades na divisa entre São Paulo e Minas Gerais.

Borachi namorava uma patense que atuava como lojista em SP, e foi ela quem sugeriu que eles se mudassem para Patos de Minas. Após visitarem a cidade, os dois amigos gostaram do que viram e tentaram a sorte. “Viemos com a ideia, o sonho e a coragem de montar o negócio”, disse Giovanni.

Os sócios alugaram a loja no entorno da Praça Desembargador Frederico e com muita ousadia abriram a primeira loja em solo patense dedicada ao universo do skateboarding, esporte até então desconhecido, e a moda surfe, algo inimaginável em um estado brasileiro que sequer possui praias.

Borachi, Teresinha e o colaborador
José Carlos na loja do Solar Shopping

As mercadorias vendidas pela Revolution Sport’s Wear englobavam desde peças de skates, patins e patinetes à roupas voltadas aos skatistas e surfistas de marcas jamais vistas na cidade, como Town & Country, Hang Loose e Cobra D’água, buttons, anéis e brincos com temáticas rock e as famigeradas tatuagens temporárias adesivas.

Um tipo de produto que passou a ser encomendado por diversos patenses, foram as pranchas de surfe. Questionado sobre o que os moradores de Patos de Minas fariam com estes objetos utilizados em ondas do mar, Giovanni relata que algumas foram vendidas apenas para decoração, mas que alguns clientes viajavam para surfar.

“Por incrível que pareça, vendemos centenas de pranchas. O pessoal fazia excursão para a praia de Guarapari no Espírito Santo, e até chamavam lá de Guarapatos. Eu os ensinava a passar a resina e amarrá-las nas pernas, para que eles não ficassem com as pranchas brilhando quando tirassem fotos e não saíssem como pregos”, contou.

Entretanto, o carro chefe da loja era o skate. Mil unidades foram vendidas pela dupla e Giovanni relata que além de colocarem anúncios nas rádios e na TV, a principal divulgação da Revolution Sport’s Wear era ele mesmo que fazia, descendo a Rua Major Gote inteira em cima do skate.

Aquela imagem atípica instigava a curiosidade dos patenses, que logo estariam comprando os próprios skates na loja de Carlos e Paulo. “Passei aperto algumas vezes, pois na época era proibido andar de carrinho de rolimã pelas ruas e com frequência eu era parado por policiais e precisava explicar que aquilo era um skate”, disse Giovanni.

A febre com o skateboarding foi tanta que no ano de 1989, a loja organizou o primeiro campeonato de skate da cidade na Praça Dom Eduardo. Segmentado por idade, a competição foi um sucesso e contou com a participação de skatistas patenses e de cidades da região como Carmo do Paranaíba, Patrocínio e até mesmo de Uberlândia.

Imagens do primeiro campeonato de skate na Praça Dom Eduardo

Além do campeonato, a Revolution Sport’s Wear trazia skatistas de renome para visitar a cidade e se exibirem na Praça Desembargador Frederico e os lojistas chegaram a realizar um show musical com o paulista Mi Jackson, que na época se apresentava como cover do cantor Michael Jackson.

Foi por meio da loja que Carlos Giovanni conheceu a futura esposa e mãe dos filhos Max e Vitor, Teresinha da Consolação (in memoriam). Ela trabalhava com o advogado que cuidada das contas da Revolution e não demorou que eles se apaixonassem e ela deixasse o emprego para atuar com o parceiro na loja.

Com o sucesso do empreendimento, a loja expandiu e foi para o Solar Shopping localizado na Rua General Osório e uma filial foi aberta em Carmo do Paranaíba. Além disso, Teresinha e a funcionária Eliane começaram a vender produtos em cidades da região como Vazante, Presidente Olegário, Lagamar, etc.

O local se tornou um point de skatistas e naturalmente os pais de crianças e adolescentes da cidade incentivavam os próprios filhos a praticarem o esporte e a frequentarem a loja, pois além de exercitarem o corpo e a mente, estariam em um ambiente seguro e livre de drogas.

O hábito de descer a Rua Major Gote de skate se tornou praticamente obrigatoriedade para os skatistas patenses. Outro local que virou uma referência para os jovens skatistas era o antigo bar Avohai, situado ao lado do Hospital São Lucas, também na Major Gote, praticamente um ponto de encontro e parada.

Teresinha exibindo um painel de broches e bottons

Carlos Giovanni recorda que a prefeitura municipal, na ocasião, via com bons olhos e estimulava bastante a prática do skateboarding em Patos de Minas. No começo da década de 90, teve início então, a elaboração do projeto e à construção da pista de skate localizada no Projeto Saci.

Infelizmente, mesmo com o sucesso da Revolution Sport’s Wear, a loja encerrou as atividades no ano de 1992. O congelamento dos saques de poupanças e contas bancárias anunciados pelo então presidente Fernando Collor, desequilibrou financeiramente os sócios, que se viram forçados à fechar as portas.

Paulo voltou para a capital paulista e Giovanni permaneceu em Patos de Minas com a esposa Teresinha e o filho recém-nascido, Max Brian de Souza. Ele passou por maus bocados no começo, vendendo livros e bíblias, fazendo adesivos artesanais e bicos diversos.

Nos anos seguintes, ele atuou como gerente de lojas de eletrodomésticos, dentre elas, a extinta Arapuã, ironicamente localizada em frente à Revolution Sport’s Wear da Rua General Osório. Anos depois ele mudou com a família para Coromandel, Araguari e Ourinhos/SP, mas retornou para Patos no meio dos anos 2000.

Carlos Giovanni já cogitou reabrir a loja com o primogênito Max Brian, que por influência dele, também se tornou skatista. Mas nunca tirou a ideia do papel. De todo modo, a Revolution literalmente revolucionou a cidade e abriu o caminho para as lojas de skate que surgiriam anos depois, como Epidemia, Sombra, Local, Flip, etc.

Os sócios na filial da Revolution em Carmo do Paranaíba

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2 Comentários

  1. Obrigado Jornal de Patos por mais uma vez dar vida às memórias de nossa cidade.

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  2. Eu lembro da loja cheguei a compra algumas coisas lá muito boa reportagem

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