COVIL-20 ou o alfarrábio das perguntas

Por José Eduardo de Oliveira


Para J.A.N.I.S. e vocês raça humana, antes e depois
da pandemia...mesmo pensando que serão diferentes.
[só se for pra pior!]

é muita cobrança para um alvo de vírus:
pediram para eu escrever uma coisa e mandar
para vinte seres humanos sem questionamentos de
gênero, raça, espécie, política, pedigree e pureza
(um detalhe e nem de aroma ou viscosidade)
coisas otimistas...tem condições?

na verdade em 1964 eu tinha 10 anos
e hoje quando o ministro pede conta
e o que deveria pedir conta não pede
e presidente faz de conta que é probo
(ou proboscídeo)
e foi traído e esqueceu a idade do 04.
eu acho que tenho 10 amigos [pedir 20 é phoda]
(agora parece que são apenas 9, pedi para uma amiga ir se fuder)
mas mandar 20 e-mails de sentimentos fakes
é romper com o iluminismo e retornar à escolástica.

fica difícil a questão política
não é a mesma de 74
(quando se perdia nas ruas de bh pensando que lá
era villa rica sem solidão, e não tinha eleição – só para rimar)
fica difícil em plena virose global
eu falar que sou obrigado a
beber sozinho e ter ressaca sozinho
masturbar sozinho [tem outro jeito original?].
caralho é pandemia ou egodemia?

antes do fim:
meu reino por um capitão! [tradução livre de: “My kingdom for a horse!”]
meu reino por uma propina!
meu reino por uma vacina!
meu reino por um auxílio emergencial!

o que mata menos?
o racismo?
a pandemia?
a sua indisfarçável voz em falsete?
o distanciamento social?
a mentira?
o preço do arroz?
o fechamento dos bares e prostíbulos?
o voto em prefeito e vereadores?
a sombra do fascismo?

três coisas eu aprendi no século XXI
duas eu esqueci e a terceira é a mesma
do século passado: uma merda piorada.
mas mesmo assim
eu ainda acho, ou tenho
quase certeza absoluta:
precisamos reagir
precisamos nos unir
pelo menos para
fazer uma vaquinha
para comprar uma bomba
de flit
para se não matar, pelo menos espantar
a nossa hipocrisia da aparência
a nossa arrogância
o nosso medo
o nosso ódio
a nossa falta de coragem de olhar a realidade
a nossa solidão
e
et por cause
a nossa xenofobia de
amar
e
para ver se aceitamos
a nossa condição
animal que usa smartphone
só que como uma katana.

se não podemos
mudar de canal
podemos
pelos menos
desligar o celular,
não! não e não!
parar de reenviar
o que nem deveria
ter sido
enviado e
ninguém tem obrigação
de ver.

pega na minha mão e diga
quem eu sou?
parente?
amante?
amigo?
inimigo? (não precisa se identificar)
e o enigma:
qual vírus é melhor?
o vírus de bruços ou de barriga ou ventral?
ou
o vírus decúbito dorsal ou de costas?

como disse o velho Maiakovski:
"melhor morrer de vodca que de tédio!"
ou foi
de álcool em gel?

* Reciclado em novembro XXI, e mandado para aqueles [as] 10 ou nove amigas [os]

[ps. estou sóbrio e hoje é quarta...e vou parando aqui, estão batendo na porta, não é a morte, ela não bate para entrar, há milhões de anos ela mora conosco e tem uma vantagem, não tem celular, não reclama e nem soltam as tiras...]

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3 Comentários

  1. Excelente, como sempre!!Meu querido amigo Professor Eduardo...Suas crônicas geniais mais nos leem que são lidas....
    Bora sair um dia desses com àlcool (em todos os "estados") para sorrir e falar de nossa existência ínfima? Abraços

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