O legado cultural de Fábio Amaro

Por Caio Machado


Após oito anos a frente da Secretaria de Cultura, Turismo, Esporte e Lazer, Fábio Amaro Rodrigues deixa a pasta para que o músico e professor Ivan Rosa dê continuidade aos trabalhos, na gestão do recém-eleito prefeito de Patos de Minas Luís Eduardo Falcão (PODEMOS).

Aos 42 anos, Amaro deixará um legado cultural com diversas realizações significativas para a capital do milho. De fácil trato e diálogo, o ex-secretário sempre foi uma figura acessível para a classe artística patense e comparecia em praticamente todos os eventos culturais e esportivos que ocorriam na cidade.

Popular entre os artistas e esportistas, não é de conhecimento para muitos dos patenses que antes de exercer o cargo público, Fábio Amaro tenha atuado como jornalista correspondente nos Estados Unidos e realizado a cobertura de um dos maiores atentados terroristas da história da humanidade.

Outra faceta desconhecida por muitos é a de que ele tenha publicado sete livros, sendo dois destes lançados nos países europeus Itália e Espanha. Filho de Donaldo Amaro e Gessymar Rodrigues, Fábio é irmão de Ricardo e Inayara Amaro Kjaer, que atualmente reside no exterior.

Em entrevista concedida ao Jornal de Patos via WhatsApp, o jornalista patense e ex-secretário de cultura relata alguns acontecimentos marcantes da própria trajetória e carreira profissional. Leia a seguir na íntegra, a entrevista realizada à Fábio Amaro:

Jornal de Patos: Comece contando um pouco sobre a sua origem, onde nasceu, cresceu e estudou.
Fábio Amaro: Nasci em Patos e vivi na cidade até os meus 17 anos de idade. Fui estudante nas escolas Nossa Senhora das Graças, Marcolino de Barros, Zama Maciel e Da Vinci. Em seguida, fui para a Austrália fazer intercâmbio cultural por um ano, e lá aprendi inglês e concluí o ensino médio. De volta ao Brasil, fui residir em Belo Horizonte, onde me formei em Comunicação Social, pela Uni-BH.

JP: Você se lembra de algum acontecimento marcante durante sua infância ou adolescência em Patos de Minas?
FA: O lançamento do meu primeiro livro, ‘Uma História de Arrepiar’, marcou a minha adolescência. Eu tinha 14 anos de idade e havia sido premiado em um concurso de redação em Patos de Minas, com o tema ‘natureza’. As redações que ficaram entre as primeiras colocações foram encaminhadas para editoras de livro, em Belo Horizonte. Certo dia, fui informado do interesse da publicação do meu texto em livro infanto-juvenil pela editora RHJ. Talvez, aquele momento tenha sido o despertar para a minha decisão futura, de estudar jornalismo.

JP: Falando sobre seu interesse pelo jornalismo, como foi a sua graduação?
FA: Escrever sempre foi algo prazeroso pra mim. Por essa razão, o jornalismo foi a opção que escolhi, quando fui prestar vestibular. Tive o privilégio e sorte de, enquanto estudava na universidade, realizava estágio no jornal Hoje em Dia, em Belo Horizonte, no setor de arquivos. Foi um estágio de quase quatro anos de duração, ou seja, um período de grande valia. Lá, tive grandes chefes e convivi com profissionais muito capacitados. E essa união da teoria que a Universidade nos passa, com a prática vivida no jornal Hoje em Dia, me deu confiança e segurança. Eu sentia, na época, que estava no caminho certo da profissão. E com alguns livros já lançados, adotei a escrita como sendo uma trilha para os dias e para o futuro.

JP: Soube que você residiu em Nova Iorque, pode contar sobre a experiência?
FA: Ir para Nova York foi o pulo do gato em minha vida. Eu era jovem, 23 anos, tinha acabado de me formar, havia concluído o estágio no jornal e fui, a princípio, passar férias nos Estados Unidos. O plano inicial era ficar lá por dois meses. Eu tinha um amigo que residia na ilha de Manhattan, e lá me hospedei para conhecer aquela metrópole fascinante. Cheguei na cidade em 27 de julho de 2001. Praticamente um mês e meio depois, eu ainda lá, aviões invadem o céu e acontece a tragédia terrorista contra as torres do World Trade Center. Eu estava hospedado no meio da ilha de Manhattan, exatamente na rua 51 com a Broadway. As torres ficavam no sul da ilha. Quando soubemos do ocorrido e saímos pra rua pra assistir a cena, a fumaça já cobria o céu e a cidade literalmente parou. Foi um dia inesquecível, recheado de cenas marcantes e um tanto inexplicáveis.

JP: Aquele momento fez mudar algo em sua vida?
FA: Praticamente tudo mudou. Da tragédia, nasceu a oportunidade que me fez ficar naquele país e naquela cidade por 11 anos. Recebi, naquele mesmo 11 de setembro, mensagens eletrônicas de preocupação da minha família, familiares, amigos e, entre essas, havia uma do diretor do jornal Hoje em Dia, primeiro para saber notícias minhas, se eu realmente estava lá e se estava bem. Em seguida, me propôs que iniciasse uma série de reportagens sobre o 11 de setembro e suas consequências, para serem publicadas no jornal, em Minas. Ali começava a minha nova vida. O meu visto de turista (documento que permite a entrada no país) foi trocado por um de jornalista. Obtive, na sequência, uma carteira de jornalista/correspondente para trabalhar em Nova York. As portas, então, foram se abrindo. Pessoalmente, a tragédia do 11 de setembro foi, até hoje, o grande momento de impulso profissional da minha vida.

A primeira reportagem sobre o atentado escrita por Amaro

JP: Você ficou lá todos esses anos trabalhando somente com jornalismo?
FA: Não. O jornalismo me acompanhou por oito anos lá, mas não de forma integral, apesar de eu escrever quase que diariamente. Trabalhava também em um escritório de advocacia, onde atuava como intérprete e tradutor. Ao longo da vivência nos Estados Unidos, também fui professor de português particular, dava aula para americanos, e ainda fiz alguns bicos em boates, auxiliando bartenders no trabalho noturno. Nos meus últimos anos vivendo em Nova York, abri um jornal, no formato tablóide, chamado Green Card News. Lancei livros enquanto morava no exterior também. Em maio de 2012, retornei ao Brasil.

JP: Ao retornar ao Brasil, você entrou para a vida pública. Como foi assumir o cargo de secretário de cultura, turismo, esporte a lazer?
FA: Ao chegar no Brasil, vim para Patos de Minas ficar com meus pais. Iniciava-se, naquela época, a movimentação política em torno da escolha de candidatos a Prefeito. Meu pai, Donaldo Amaro, se envolveu com a campanha do então candidato Pedro Lucas, e eu o acompanhava nos trabalhos diários. Eu fazia pesquisas e enquetes, bairro por bairro, praticamente diariamente, conversando com as pessoas. E assim ia “conhecendo” Patos de Minas novamente. O Pedro Lucas saiu vitorioso nas urnas, e alguns dias depois, num diálogo entre ele, meu pai e eu, nasceu o convite para eu assumir a pasta. Entre retornar para os Estados Unidos ou ficar em Patos, decidi seguir o meu coração. Cheguei a arrumar a mala para retornar a Nova York logo após as eleições municipais, mas, quando me aproximava da porta de casa para sair, coloquei a mala no chão, olhei para os meus pais e disse “Eu não vou. O meu lugar é aqui.”

JP: O que você presenciou culturalmente em NY que marcou sua vida e influenciou sua gestão como secretário de cultura?
FA: Os eventos que aconteciam pela metrópole. Nova York respira cultura, turismo e negócios, diariamente. De repente, andando pelas ruas da cidade, invadindo bairros, a gente se deparava com diversos eventos inusitados, acontecendo em lugares inesperados, e isso prendia a minha atenção. Em Manhattan e em Brooklyn, por exemplo, a realização de eventos ao ar livre era frequente: apresentações musicais, exposições de artes plásticas, feiras de artesanato, desfiles de moda, entre outros. Até nas estações de metrôs os eventos aconteciam. Certamente, toda essa vivência contribuiu para o processo de criação e realização de novos eventos em Patos de Minas, ocupando o cargo de Secretário.

JP: Como foi a experiência no governo do Pedro Lucas? E quais foram os principais projetos que colocou em prática?
FA: Tudo era novidade. Eu sentia amor pela cidade, mas as coisas eram diferentes. A cidade havia expandido, as pessoas com quem eu convivia na adolescência haviam tomado rumos diferentes na vida. Eu estava vivendo um recomeço. Mas, estando onde se ama e ao lado de quem se ama, tudo fica mais fácil e melhor. O fato de ter retornado para o Brasil e para Patos já era o suficiente para me deixar extremamente feliz e realizado. Trabalhar no governo municipal foi desafiador, é um mundo que só quem vive ele na pele, entende as suas dificuldades e também as armadilhas. Trabalhei com uma equipe de diretores competentes e empenhados na construção de coisas novas. Daí, nasceram a Taça Zona Rural, o Carnaval de Outrora, a Fenapraça, as Olimpíadas da Melhor Idade, a Corrida do Pipoquinha, a Corrida do Campo, o Festival Só no Tira-Gosto. São projetos que perduraram e que já estão em edições avançadas, hoje contando com a participação intensa da população.

JP: E como foi trabalhar com o ex-prefeito José Eustáquio?
FA: José Eustáquio, a meu ver, foi um Prefeito incrível. É um cara sensato, ultra capacitado e experiente. Tanto, que ele terminou o mandato com as devidas honras, aprovação popular elevada, as contas da Prefeitura em dia, diversas ruas asfaltadas, obras concluídas. Foi um Prefeito que deixará saudades. Antes de tomarmos posse, ele sentou comigo e passou uma lista de ações e sugestões, mostrando pontos onde eu precisava melhorar. Segui à risca tudo o que ele havia pontuado. Fizemos, ao longo dessa gestão, em especial na Secretaria de Cultura, um mandato coletivo, com o olhar e o ouvido voltados para a sociedade civil. A criação e a manutenção de Conselhos Municipais ligados a pasta, como no caso do Conselho de Políticas Culturais, foi fundamental. Com o Conselho, fomos longe. A exemplo, conseguimos, neste ano de 2020, distribuir quase um milhão de reais para os agentes culturais e prestadores de serviço, via Lei Aldir Blanc. Quando muitos pensavam que a cultura estava morta, em razão da pandemia, do isolamento social e em decorrência da suspensão de eventos, foi quando realmente unimos forças e crescemos juntos. Notei, nessa vivência, que a crise é uma boa hora para construir cultura. E aprendi que, na vida pública, coletividade é tudo.

JP: Quais os planos para o futuro?
FA: Tenho trabalhado com algumas ideias. Aos poucos, vou construindo um novo caminho profissional. Planejo continuar em Patos, por agora. O meu amor pela cidade é real. Nesses anos vivendo aqui, fiz muitos novos amigos, conheci um mundo cultural, esportivo e gastronômico maravilhoso e, mais que isso, meus pais e irmão moram aqui. Em outras palavras, a vida em Patos ainda me inspira amor. Não é a toa que foi eleita a melhor cidade para se viver em Minas.

Lista de livros publicados por Fábio Amaro

Uma História de Arrepiar
Ano de publicação: 1992
Editora: RHJ (Belo Horizonte)

Austrália, uma história para contar (emoções de um intercâmbio cultural)
Ano de publicação: 2000
Editora: RHJ (Belo Horizonte)

O Mundo Hoje
Ano de publicação: 2002
Editora: RHJ (Belo Horizonte)
Autores: Fábio Amaro, Flávio Beruti e Lafayette Tourinho

Capas da Copa
Ano de publicação: 2004
Editora: Cosac Naify (São Paulo)
Autores: Fábio Amaro e Orlando Duarte

Cielo Azzurro Sopra Berlino
Ano de publicação: 2007
Editora: Edizioni della Meridiana (Itália)
Autores: Fábio Amaro e Massimo Lopes Pegna

Olhares Plurais sobre o Meio Ambiente: uma visão interdisciplinar
Ano de publicação: 2010
Editora: Ícone (São Paulo)
Autores: Fábio Amaro, Flávio Berutti, Catarina Ferreira, Mairy Barbosa, Nali Rosa, Renato Araújo, Marianela Costa e Sebastião Venâncio

Y el mundo hablo de la roja
Ano de publicação: 2010
Editora: Quarentena Ediciones (Espanha)
Autores: Fábio Amaro e Juan Pablo Orduñez

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3 Comentários

  1. Muito boa a entrevista com Fábio Amaro.Parabéns ao entrevistado e entrevistador.

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  2. Que interessante e rica história de vida!!!!

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  3. Parabéns Fábio Amaro. Bela entrevista.Linda história de vida. Tão jovem e já rico em experiências... Seja feliz...

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