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Desde que Edward Jenner encontrou uma forma de imunizar as pessoas da varíola em 1796 (1), enfermidade que matou cerca de 300 milhões de pessoas no século XX, os cientistas vêm pesquisando como fazer o mesmo com outras doenças. Sua descoberta foi denominada vacina e foi responsável pela erradicação da varíola em 1980 (2), sendo, atualmente, indispensável para garantir a saúde das pessoas.
Com isso, em face do surgimento de uma doença que tomou tamanhas proporções, chegando à situação crítica de elevar o cenário de transmissão a uma “pandemia”, o desenvolvimento de vacinas que possam evitar maior propagação e mortalidade entre a população mundial tornou-se uma prioridade entre todas as nações, visto que as formas de tratamento até então conhecidas, são demasiado limitadas.
No caso do Brasil, tem-se duas vacinas aprovadas pela ANVISA; a Coronavac, desenvolvida pela Sinovac em parceria com o Instituto Butantan, e a vacina de Oxford em parceria com a Serum Institute of India (3), sendo que ambas apresentam mecanismos distintos. A técnica da Coronavac consiste em, literalmente, matar o vírus em laboratório, de forma a impedir que cause doença. Em contrapartida, a vacina de Oxford é composta por um tipo de adenovírus – o grupo viral responsável por doenças respiratórias em geral – incapaz de causar danos ao corpo humano, utilizado como vetor para carregar um fragmento do material genético do coronavírus consigo. Em ambos os casos, após receber a dose, o organismo reconhece o coronavírus, ou seus fragmentos, como algo estranho e é capaz de produzir os componentes necessários para eliminar o vírus vivo, caso exista contágio (Figura 1).
Essas técnicas utilizadas já eram conhecidas e presentes em inúmeras vacinas, como no caso das referentes à hepatite A e à gripe, que também apresentam o vírus inativo, assim como na Coronavac. Ademais, a base de vetores virais da vacina de Oxford, é encontrada em uma das vacinas caninas contra raiva, além de estar presente na pesquisa para o desenvolvimento de uma forma eficiente contra HIV (1) e ser aplicada em terapias gênicas em seres humanos (4).
Figura 1 – Técnicas utilizadas para a produção da Coronavac e da vacina de Oxford. (a) Método do vírus inativado, em que o coronavírus é morto em laboratório e inserido na vacina. (b) Método do vetor viral, em que o adenovírus não patogênico contém um fragmento do coronavírus. Após aplicação, ambas resultaram na produção de anticorpos pelo corpo humano.
Nas fases de testagem, durante seu desenvolvimento, a Coronavac demonstrou 50% de eficácia geral contra o coronavírus, o que, de forma simplificada, indica que há uma redução de 50% na probabilidade de manifestação de sintomas na parcela vacinada, em relação ao grupo controle (não vacinados). Além disso, foi comprovada 78% de eficácia em casos leves e 100% de eficácia em casos graves (Figura 2), ou seja, no grupo vacinado há ausência da forma grave da doença, com presença apenas de sintomas leves (5).
Figura 2 – Diferenças entre os valores encontrados no grupo vacinado e no grupo não vacinado (placebo) no ensaio clínico da Coronavac e suas interpretações.
Já no caso da vacina de Oxford, em sua fase 3 do ensaio clínico – concernente à testagem para obtenção dos valores de eficácia geral (6) –, dois grupos receberam as duas aplicações da vacina, posto que ambos receberam a dose completa na segunda aplicação e, na primeira, um deles recebeu meia dose e o outro recebeu a dose completa. O grupo que recebeu as duas doses completas obteve 62% de eficácia, enquanto o que recebeu uma dose e meia chegou a 90%. Com a junção dos dois grupos, a média geral foi de 70% (Figura 3). Não houve casos graves entre os voluntários do estudo (7).
Figura 3 – Diferentes resultados adquiridos pelo ensaio clínico da vacina de Oxford.
Os resultados obtidos até então são indicativos de um cenário otimista, posteriormente. Pode-se citar, como comparativo, a vacina contra gripe, que tem entre 40 e 60% de eficácia atualmente (8), valores significativamente menores do que os obtidos nos estudos demonstrados.
É importante frisar que as vacinas, por enquanto, não são uma garantia para voltar à rotina existente antes da pandemia. O isolamento social, o uso de máscaras e a limpeza das mãos com álcool em gel e/ou água e detergente continuam necessários. Isso acontece porque, a primeiro momento, a vacinação tem como finalidade deixar leitos de UTI disponíveis para aqueles que precisam da internação por motivos que não sejam a contaminação por coronavírus.
A Prefeitura de Patos de Minas já disponibilizou em seu site, um cadastro, que funcionará como uma fila online, para a vacinação de profissionais da saúde e idosos acima de 75 anos, que pertencem ao grupo prioritário.
LINK PARA CADASTRO: http://patosdeminas.mg.gov.br/home/VACINACOVID/
(1) DE ARRUDA, L. B.; DA FONSECA, F. G. Resposta do Hospedeiro às Viroses. In: SANTOS, N. S. O.; ROMANOS, M. T. V.; WIGG, M. D. Virologia Humana. 3 ed. Rio de Janeiro: Editora Guanabara Kooga, 2015. cap 7. p. 182-232.
(4) OLIVEIRA, B. A. Vetores virais para uso em terapia gênica. Revista Pan-Amazônica de Saúde, v. 9, n. 2, p. 57-66, 2018. DOI: 10.5123/s2176-62232018000200008.
(7) VOYSEY, M. et al. Safety and efficacy of the ChAdOx1 nCoV-19 vaccine (AZD1222) against SARS-CoV-2: an interim analysis of four randomised controlled trials in Brazil, South Africa, and the UK. The Lancet Journal, v. 397, n. 10269, p. 99-111, 2021.
Tallita Stéfanne é biotecnologista formada pela UFU, apaixonada por ciência e divulgação científica.
1 Comentários
Texto muito informativo!!!! 👏👏👏👏
ResponderExcluirObrigado por comentar!