O Poeta Encantado

Texto e imagem por José Humberto Fagundes


E lá se vai o Wandão.
Em sua melhor formação nuvem.
Porque hoje não é sábado de Vinícius.
Antes, aqui soam dialetos africanos
como feitiço indecifrável
de mais um dia qualquer.

E lá se vai o Wandão.
Porque hoje não é sábado de Vinícius.
Antes, são versos decifráveis no etéreo,
na linguagem dos poetas.
Como se o caminho
volta tivesse,
nesta trajetória de ida,
mão única rumo ao universo.

E lá se vai o Wandão.
Porque hoje não é sábado de Vinícius.
O ranger de portas não importa.
Ao vento se abrem, se fecham.
E lá vai ele, uivando versos
em sua formação nuvem de gala.
Festa inesperada o espera.
Convidado à revelia
à espera de nós.

Porque hoje não é sábado de Vinícius.

Antes, será mais um dia qualquer
a verter lágrimas de alegria,
fundidas em tristeza,
na disritmia do poeta,
em dialetos quaisquer.

E lá do nada
vem o som difuso do refúgio italiano,
bar anfitrião Sinatra entoando “Girl from Ipanema”,
como se de repente saudasseVinícius
porque hoje não é sábado.

E lá se vai o Wandão.
Esvaindo pelos dedos
em seu traje nuvem de gala.
Porque hoje não é sábado.
Antes, um dia qualquer.

Um bom dia
para brincar no firmamento.
Um dia excepcional Vinícius,
porque hoje não é sábado,
para ser Wandão na vida!

27 de março de 2021

José Humberto Fagundes é um poeta e jornalista patense que reside na cidade de Pretória, na África do Sul

🦆

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3 Comentários

  1. Agradeço ao editor e colegas jornalistas do Jornal de Patos a publicação do texto "O poeta encantado". Meu amigo de adolescência, e lá se vão uns bons 50 anos, Wander Porto, o Wandão do coração, pode ser expresso em dos versos de Vinícius de Moraes: "Que morram todos os meus amores, mas enlouquecerei se morrerem os meus amigos, pois não há nada mais precioso do que uma amizade verdadeira".

    Vinicius de Moraes

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  2. Parabéns, José Humberto Fagundes, pela poética homenagem póstuma ao nosso contemporâneo de adolescência, Wander Porto, intitulada “O poeta encantado”. “E lá se vai o Wandão [...] em sua formação nuvem de gala[...] convidado à revelia” a uma viagem involuntária, sem volta, sem tempo de dizer adeus. Como dizia Guimarães Rosa, “as pessoas não morrem; ficam encantadas”. O poeta encantou-se. As “lágrimas” de março fechando o verão retratam a tristeza em cada coração.

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