Por Júlia Duarte Megale
No contexto de permanecer enclausurado naquele ambiente em razão da quarentena (ainda)
necessária, meu pequeno universo de três cômodos não poderia ser menos que meu paraíso
pessoal. Mesmo com os barulhos externos de reuniões sociais de vizinhos, que mostrava a
displicência alheia com a segurança de milhares de seres humanos que, assim como eles,
respiram, riem, choram, ganham promoções no trabalho, brincam com seus filhos, escovam os
dentes pela manhã, indagam sobre seu propósito no mundo, sonham, amam e são amados com
tanta intensidade... Perdão, estou divagando. Pensar sobre a vida é muito belo quando não se
considera a possibilidade de perdê-la. Enfim, segue sendo meu paraíso mesmo com as
enfadonhas tarefas domésticas para mantê-lo habitável; mesmo com a falta de luz solar; mesmo
que não tenha cortinas no quarto; mesmo que os gatos assassinem brutalmente todas as
plantas; mesmo que a cama fique rangendo a cada movimento e mesmo que sair dela pela
manhã esteja se tornando um desafio cada vez maior.
Ainda com tudo isso, parece melhor do que terminar de abrir a porta pois, depois de tantos dias
já impossíveis de se contar, o opressor ambiente exterior ainda é uma ameaça latente. Ainda
morre-se depois da esquina. Ou pior, ainda mata-se. Mais brutalmente do que os gatos jamais
poderiam. E, além de tudo isso, há o céu. Depois da porta daria para vê-lo. E é tão majestoso,
tão pesado, tão incognoscível, tão infinito...
Talvez fechar a porta seja mais seguro, por ora.
Júlia Duarte Megale tem 20 anos, adora escrever, é fã de Virginia Woolf e estuda Biotecnologia na UFU
🦆
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4 Comentários
Poema lindo!!!! 👏👏👏👏
ResponderExcluir<3
ResponderExcluirAdorei. Parabéns pelo trabalho, Júlia!
ResponderExcluirtudo pra mim!
ResponderExcluirObrigado por comentar!