Sanei meu peito,
Cauterizei minha ferida,
Mas a bala ainda está imersa em mim.
Toda fibra de minha carne quer empurra-la pra dentro.
E o pior, é que a bala quer entrar!
Não existe força em mim que me queira bem.
Hoje é um daqueles dias de inverno, em que os pés preferem o chão frio e a alma prefere se esfriar na esquiva de um abraço.
Hoje é um dia de retalho!
Costuro-me pedaço a pedaço, tentando encaixar formas incompatíveis.
Hoje, e apenas hoje, a felicidade me despe os ossos,
Minhas articulações estão secas a contrastar com meus olhos,
Olhos fundos, pra que vejam se na fresta da pálpebra existe algo real interno.
Me engano dizendo “vai passar!” Como todas as estações.
Mas o outono não passa, ele sempre estará no mesmo lugar,
É o tempo que passa por ele.
O tempo definha.
Principalmente quando se tem tempo pra pensar.
Queria ser um aquário,
Ser qualquer coisa viva me soa efêmero demais,
Sendo aquário poderia contemplar a beleza da vida,
Protege-la em meus retilíneos braços.
E quando estiver vazio, receberia a visita do vento
Pois só os ventos sabem ser livres,
Nunca vi um vento morto,
Eles choram,
Cantam,
E quando bem querem destroem cidades.
Talvez eu só esteja cansado,
Cansado de tanta melancolia trasvestida de filosofia,
De tanto niilismo banhado em estoicismo,
Eu bebo um copo de água, e logo quero atribuir o símbolo pro copo, pra água e pra boca,
Mas nem o copo, nem a água e nem a boca, estão dispostos a aceitar meus atributos,
Querem ser o que são.
Eu adoraria saber o que eu sou.
E essa tosca sanidade filosófica que tem o intuito de decifrar a melhor forma de caminhar e quais sapatos calçar, só deixa mais perene a dúvida.
Hoje eu seria capaz de correr tanto de mim, que sem dúvidas encontraria minha real imagem.
Hoje a última porta devora minha sombra.
Hoje o ultimo som me cela os ouvidos.
Natural de Vazante, Igo Maia residente em Patos de Minas desde 2019, é músico e compositor e trata a poesia como uma religião.
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