Milímetros

Por Igo Maia


Nos detalhes envoltos do sutil
No que a brisa pode mover
Não no rico vocabulário sem hesitação
Mas no respiro de uma vírgula
No despencar de uma planta ao céu
E no arremesso do fruto ao chão
A beleza requer uma óptica calma
E a calma requer milímetros
Milímetros são elementais
Que com suas peripécias contam piadas sobre as peripécias de Deus
Milímetros são contadores de histórias
Os melhores “eu diria”
Pois desdenham o óbvio
E prezam por nutrir a imaginação com suculentas dúvidas
A quem diga que os milímetros são tímidos
Pois quase sempre são vistos perto do silêncio
Nítidos a quem os procura com sensibilidade
Invisíveis a quem opta pelo explícito
Outro dia vi um milímetro na sala
A criança segurava um feixe de luz do sol, que de atrevido entrou sem pedir licença pela fresta da janela e repousou em seu colo
Maravilhada com o que acabara de descobrir, a criança sorria com os olhos, tão reluzentes quanto o feixe de luz
- Olha tio, eu peguei um raio de sol pra você.


Natural de Vazante, Igo Maia residente em Patos de Minas desde 2019, é músico e compositor e trata a poesia como uma religião.

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