A melodia do silêncio

Por Isadora Tavares

Imagem: Andraz Lazic / Unsplash

O silêncio é uma dualidade. Eu, que escuto tudo, o considero uma dádiva.

Fim de uma sexta-feira de trabalho. Tomei um banho e fui até a janela. Ao olhar para o céu, vi nuvens espaçadas como bolotas de algodão. Um tom de azul firme era destacado entre aqueles espacinhos, iluminados pelo primeiro dia de lua crescente, que deu as caras perto das dezenove horas.

Busquei o ar e deixei entrar o aroma, ainda do pós-chuva, típico de verão. Apurei os ouvidos e pensei: Ah, o silêncio é maravilhoso! Alguns grilinhos concordaram comigo. O som destes pequenos quando integrados à natureza é silêncio. O barulho da chuva quando toca as folhas, também, juntamente com o vento manso do fim de tarde, que compõem a melodia do silêncio.

O caos é o seu completo oposto, engana-se quem pensa que seja o barulho. Já teve a experiência de ouvir a estridulação de um grilo dentro de sua casa à noite? É terrível! Porque é um caos. Um animal fora do seu habitat natural, desarmonizando com o silêncio.

E o que dizer de uma situação complicadíssima, que, por vezes se dá por um televisor transmitindo algo e em outros momentos por uma música incessantemente alta, vinda dos vizinhos? Talvez estejamos ainda em 1984, e o grande irmão siga invicto nas teletelas.

Ah, mas ter o prazer de ouvir música também é uma dádiva. Sim! Por isso o dualismo do silêncio. Em que há momentos onde ele se torna refúgio, noutros tortura. Beethoven que o diga, ou não. Imaginar a vida sem sons, para mim, é impensável, pois repito, escuto tudo. Por isso, caberia aqui a experiência de uma pessoa surda ou com deficiência auditiva. O que não é o caso neste momento.

Mas o fato é que, dada a situação, refleti: para ouvir o silêncio, é preciso escutar. Porque em certo momento o caos de dissipa e há paz de novo. E se por acaso não houver, que saibamos levar a vida com paciência. Não que as circunstâncias mereçam, mas porque você precisa escutar o que é mais importante: você, seus pensamentos, motivos e sentimentos. O caos do outro diz muito sobre o nosso silêncio.

Porém, se no final só lhe restar a espera, visto a impossibilidade de reversão, incentivo para que olhe ao céu de sua janela e respire. Vai passar! Por mais que você não mereça uma vida que somente passe, lembre-se que, não fosse pelo caos, eu mesma não teria escrito isso aqui, no silêncio. Afinal, o quanto do seu interior te grita e implora para que você silencie o mundo?


Isadora Tavares é redatora, jornalista e poeta nas horas vagas. Também é aluna do Curso Livre de Formação de Escritores pela Editora Metamorfose.

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