Para minha mãe, que tem 92 anos e muito mais honra, humor e esperanças que todos os filhos das putas que recebem os votos que compraram e de alguns que ainda votam e acreditam neles.
Já não eram boas as relações familiares desde:
Até que a morte os ignore.
Mas vieram os filhos...
A perpetuação da espécie
Quase como um diagnóstico.
Junto com o sangue
Veio o atavismo
Mas...
Adoro-os, mas, eles são covardes
Mas, olha só, de novo, não infectam ninguém,
Não enquanto estão olhando.
Mas começo a perder o sentido do sentido
Ou dos sentidos.
A primeira sensação é que entre
Os avisos de não-velórios
As certezas que nunca mais
Olharemos aqueles olhos
E nem sentiremos o calor
Daquelas mãos
Daquelas mãos
- mãos que falavam...
Mãos memórias.
Hoje mãos medo, não toque as mãos, nem das mães...
Mas vidas não existem mais
E Castro Alves, clamou:
Onde estás que não respondes?
[jamais responderá]
E lá fora
Um animal que se acha macho alfa
Devora não só seus filhotes
E a matilha toda
[mas defeca antes em tudo]
Mas só descobrirá que está em decomposição
Quando um dos lobos de sua alcateia faminta
Vomitar seus ossos
Podres...
Diagnóstico:
O vírus afeta a memória e o amor.
Antes da receita inútil, uma pergunta:
Tem remédio para essas duas coisas?
A memória e o amor? [o ódio já existia, não é sequela e nem efeito colateral é ancestral]
:
Cloroquina...voto impresso... viagra... treizoitão... bíblias virgens...óbolos eleitorais..., na verdade, nem o voto...
A primeira, a memória, realmente foi afetada
Antes da pandemia.
Mas agora, não febril, mas insano, que é
Uma espécie de febre mais grave
Percebi que perdia a memória:
Alguns sobreviventes diante de mim
Simulam que são meus filhos, minha neta e
Minha mulher.
[os amigos não contam, exceto se for num bar, e de máscaras e chapado]
Não me lembro deles.
Eles se lembram de mim
Como eu era?
Também a fala, a audição, na verdade, a comunicação
Foi comprometida, como um pulmão 99%
Não, entendo o que falam e eles não me
Entendem...
Mas os seres humanos como as baratas
Estão sobrevivendo, piores do que eram,
Por suposto.
[como os políticos e que são os mesmos antes da pandemia, só que mais cruéis e podres, e usam deuses como se fossem papéis higiênicos usados mais de uma vez ou então absorventes baratos...]
Amém
Aos outros e outras resta:
Revertere ad locum tuum
[retorna ao teu lugar -no cemitério]
Mas o único diagnóstico que já vem com receita é
:
O último que sair, acenda a luz, que ainda há tempo...
3 Comentários
Sensacional
ResponderExcluirLamparinas ao sair. Prá ondular sombras e silhuetas figuras estranhas no imaginário das trevas.
ResponderExcluirJosé Eduardo
ResponderExcluirGosto de seu jeito ímpar e meio caótico de abordar coisas sérias com irreverência. Às vezes leio diversas vezes o mesmo parágrafo tentando entender o sentido, mas nem tudo precisa ser entendido, não é verdade?
Sua mãe, a quem dedicou o texto “Diagnóstico da sequela”’, era amiga e vizinha de minha irmã mais velha, levada pelas garras da covid.
Grande abraço
Jô Drumond
Obrigado por comentar!