Texto e imagem por Elza Maia
Por que é tido como normal? Talvez eu esteja paranoica. Talvez seja o excesso de solidão. Talvez me falte o líquido da fantasia, que deixa em transe a multidão. Mas me vem essa inquietação, que me assusta e me lembra que não é normal.
Tantas obras, tantas artes que se dispuseram a elencar esse assunto controverso. Mas, estranhamente, agora (talvez porque eu não tenha existido em outros tempos), me parece que levamos a outro nível a capacidade de alienação. Talvez mais forte e poderosa por se apresentar de uma maneira mais sutil, um temeroso sussurro que levemente se adentra em um espaço vazio na falsa premissa de que o preencheria. Um conforto venenoso que se faz presente aos poucos. E por que isso é normal?
Não deixo de me questionar.
Os sintomas são tão nítidos como uma mancha de óleo sobre água. O adoecimento psíquico grita tão alto, mas no vácuo, onde é inaudível. O excesso de diagnósticos, medicações prescritas sem sequer serem ouvidas as vozes de cada alma...
Rápido, vamos, mais rápido!
Não consigo suportar o peso da minha respiração. Não consigo aceitar as consequências da minha ação, que parece ter sido feita sob livre deliberação, mas, mais do que nunca antes visto, talvez isso seja só uma ilusão algorítmica. De fato, algo primário pode ser, sim, de sua única e inteira responsabilidade. Exige um gesto revolucionário, de se apoderar de seus próprios sentidos. De suportar o insuportável, que é olhar para si e sentir o gosto amargo da autodecepção. Ou autopercepção. Mas não há tempo para isso, e a alienação se torna um instinto de autopreservação. E tal sentença não é passível de um julgamento. Afinal, que culpa há em se deixar levar pela correnteza?
Mas há algo diferente em normalizar tempos estranhos. Em se tornar cúmplice da própria derrocada. Como se houvesse uma melodia tácita que ecoa ao fundo, que é audível, mas não nomeada. Seguimos andando como se fosse normal encontrar uma infinidade de pessoas medicadas com psicofármacos. Como se fosse normal e generalizado que o adoecimento mental é o esperado. Um destino certo. Como se fosse normal perder horas em telas, absortos, absorvendo dopamina instantânea e produzindo cortisol livremente, relatando, em decorrência disto, uma impaciência visceral, uma diminuição nas capacidades cognitivas (especialmente a de pensar), uma perda de vocabulário e, consequentemente, uma dificuldade em se comunicar (ou até mesmo se relacionar). Como se fosse normal andar olhando para baixo ou depositando componentes essenciais à vida e ao bem-estar em um aparelho celular.
Nesses tempos estranhos, a alma grita.
Mas seu som ecoa no vácuo, mudo e inexistente.
E tais palavras não são meras novidades. A história se repete.
E essa poderia ser uma despedida.
Se é que existe esperança.
Mas... espere!
Nessa batalha perdida, há uma salvação. Talvez, no individual, seja possível cultivar uma preciosa recordação de que manhãs de sol no inverno existem, de que volta e meia se sente uma brisa refrescante, de que existe, por breves momentos, uma calma reconfortante em pequenos prazeres.
E por isso, talvez, valha a pena continuar andando em tempos estranhos.
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