Anjo

 Texto e imagem por Renata Estevam de Brito*

Anjo que me fascina,

visita-me à noite.

Em sonho, de mim se aproxima,

tirando o meu imenso enfado.

Anseio, anseio e anseio de novo,

e lamento por este desejo.

Vislumbro uma vida que não é material,

sem dor, sem medo, sem lamento.

Anjo da morte,

por que necessita de tamanha ordem

para me levar a esse momento?

Não pode me conduzir

e me mostrar o norte?

Já que na matéria me confundo e ao enfado sucumbo.

Nesta vida,

não me vejo com sorte;

ser apenas mental seria ideal.

Mas a vida insiste em seguir seu curso,

dia a dia, espremendo-se em tanto desgosto.

Anjo da morte,

por ti chamo

e me dobro ao teu tempo.

Enquanto ele não chega,

espero.

Que nesta vida surjam bons ventos.


* A melancolia não é um refúgio, mas uma parte da condição humana. É uma sombra que, por vezes, acompanha a luz. Contudo, apressar o encontro com a morte, buscando na escuridão um fim para a dor, é uma decisão sem retorno. O tempo, por mais que pareça lento, segue seu curso natural, e a vida, por mais que pareça difícil, insiste em nos dar novas oportunidades de encontrar a paz. A tristeza passará; a morte não.

Se precisar, busque ajuda pelo telefone 188 e fale com o Centro de Valorização da Vida (CVV).

#setembroamarelo


Renata Estevam de Brito é professora, poetisa e ativista cultural em Patos de Minas. Integra o movimento Slam Phatos, o ponto de cultura Zagaia, o grupo de teatro Vitruviano e ajudou a organizar o livro Phatos Poéticos em 2024.

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4 Comentários

  1. É lindo como o anjo da morte, muitas vezes temido, agora é representado como esperança pra um alivio e sentido como a direção para uma verdadeira paz.

    Simplesmente magnífico

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  2. Perfeito, esse poema descreve o que muitos vivem e sofrem trancados em seu próprio silêncio, parabéns Renata.

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