Perfil do Twitter expõe abusos sofridos por mulheres em Patos de Minas

Por Caio Machado

O perfil “Exposed Patos de Minas”, criado no último dia 2 de junho na rede social de microblog Twitter, expõe abusos e agressões sofridas por mulheres patenses. Com quase 1500 seguidores, a página publica relatos das próprias vítimas, enviados anonimamente para as administradoras por meio de mensagens privadas.

Nas inúmeras publicações do perfil, que não identificam os agressores, as vítimas, na maioria adolescentes menores de idade, desabafam sobre como sofreram e ainda sofrem agressões físicas e verbais, humilhações e difamações, assédios sexuais, e em casos extremos, mas não menos incomuns, estupros.


Em relatos diversos, menores de idade recebem convites gratuitos para festas open bar, em que os próprios organizadores, no intuito de obter vantagem sobre as garotas, as embebedam e posteriormente, tentam beijá-las à força, podendo em alguns casos, estuprá-las e até mesmo gravarem os atos para posteriormente, chantageá-las.

Outro tipo de abuso relatado com frequência pelas meninas são os relacionamentos abusivos, em que os parceiros basicamente controlam a vida das vítimas, privando-as de conversarem com outros homens, amigos e até mesmo familiares, escolhem as roupas que elas irão vestir e ameaçam se matar ou matá-las, caso queiram romper.

Assédios oriundos de familiares como padrastos, tios e primos também são citados com frequência. Num dos posts, uma das vítimas conta que foi assediada pelo próprio irmão, quando tinha apenas 11 anos de idade. Testemunhos como estes, são seguidos por falas como “nunca contei para ninguém”.


Os relatos são chocantes e marcantes, com erros de gramática visivelmente cometidos pelo desespero das vítimas em relembrarem das situações vividas. Os desabafos exibem a incapacidade das mulheres, que em diversos casos, são vítimas das agressões por anos a fio e não conseguem se desprender dos abusadores.

Um fato curioso é que mesmo que as publicações não identifiquem ninguém, devido ao modus operandi, diversas mulheres possivelmente teriam sido vítimas dos mesmos agressores. Pode ser coincidência, mas o fato é que os abusos contra as mulheres são tão corriqueiros, que os abusadores parecem serem os mesmos.


A página provoca a indignação de diversos homens, que enviam mensagens privadas alegando inocência das acusações, mesmo que nenhum deles tenham sido identificados. Um usuário do Instagram chegou a gravar uma série de stories dizendo ter sido confundido com um dos abusadores citados.

Na fala do rapaz, a publicação parecia ser sobre ele e diversas pessoas estariam o chamando de homofóbico e abusador. “Qualquer um pode ir lá e mandar qualquer coisa, sem nenhum tipo de prova que a página irá divulgar. Será que o perfil está realmente ajudando mulheres que precisam de amparo?”, questionou.

Ele afirma que a finalidade da página é boa, mas que as pessoas podem usar do sistema para manchar a imagem de alguém que elas não gostem. Em contrapartida, ele recebeu uma resposta no Twitter de que se ele e “inúmeras outras pessoas souberam associar a situação (...), coincidência não é”.

Exposed Patos de Minas
Este tipo de página tem se tornado comum nas redes sociais e no próprio perfil do @exposedpatos, postagens de outras perfis do mesmo gênero são retweetadas, com textos de apoio e informações diversas que podem acrescentar algo para as vítimas de abusos e agressões.

Segundos as administradoras da página, que por motivos óbvios preferem manter o anonimato, a conta foi criada para que as patenses saibam que não estão sozinhas. “Queremos que essas mulheres tenham voz, todas nós fomos silenciadas por tanto tempo que isso foi normalizado”.

“Ser mulher é uma constante luta contra heranças da supremacia patriarcal. Muitas vezes somos vistas como objetos de fetiche para homens, com isso eles desenvolvem o chamado sentimento de posse e viramos suas propriedades, na visão deles”, afirmaram por meio de mensagens privadas no Twitter.


Elas afirmam que durante a vida toda, todas as mulheres já sofreram algum tipo de abuso, mas não souberam reagir devido às falhas da sociedade. “O mundo inteiro vem passando por diversas provações e isso nos inspirou a criar uma plataforma de apoio para vítimas de assédios, sejam morais ou sexuais”.

“Queremos dar-lhes o apoio que não tivemos e oferecer uma base mais forte para futuras gerações de mulheres que virão. Nós não seremos mais silenciadas e não vamos continuar caladas diante dos assédios. Mulheres saibam que não estão sozinhas, denunciem e procurem ajuda porque juntas somos mais fortes!”, concluíram.

Responsabilidade jurídica e acompanhamento psicológico
Para a advogada e presidente do Conselho Municipal dos Direitos da Mulher Kátia Andrade, por mais que os agressores não sejam punidos devido ao anonimato das postagens, eles passarão a ficar pelo menos constrangidos ou receosos de agirem novamente.

Ela acha a iniciativa do perfil bastante válida, contanto que as denúncias sejam postadas com devida responsabilidade jurídica. “As publicações não podem identificar os agressores. Pois, caso haja representação sem provas, as vítimas podem ser processadas por dano moral e até denunciação caluniosa”.

Ela orienta que as vítimas que tiverem condições emocionais, procurem a Polícia Militar logo após sofrerem os abusos, e as mulheres que não conseguirem de imediato, devido ao trauma e constrangimento, representem contra os agressores na Delegacia de Crimes Contra a Mulher, quando estiverem preparadas.


“As vítimas podem receber acompanhamento psicológico gratuito no Centro de Referência da Mulher, mesmo que elas ainda não se sintam prontas para representar ou denunciar os agressores. É um trabalho de empoderamento feito para que as mulheres tomem as rédeas das próprias vidas”, detalhou Kátia.

O Centro de Referência da Mulher fica localizado na Rua Adrião Caixeta Ribeiro, nº 15, no Bairro Boa Vista, ao lado do Sesi, no antigo Posto de Saúde. O telefone para atendimento é (34) 3822-9827. Para acionar a Polícia Militar é só ligar para o 190, ou para o Disque Denúncia, pelo número 181.

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2 Comentários

  1. São atitudes como essas que me fazem acreditar em um mundo melhor!! MULHERES UNIDAS JAMAIS SERÃO VENCIDAS

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  2. tem um tal de hyuuga aqui de patos que tem historico viu abram os óleos

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