As mudanças musicais de Raphael Piëit

Por Caio Machado

Foto: Junior Silva

O músico Piëit é um artista patense multifacetado que consolidou uma carreira no indie rock para subitamente abstrair-se de tal sonoridade e migrar para a pop music. A guinada rendeu mais visibilidade nos serviços de streaming e fez com que o artista passasse a levantar a bandeira do movimento LGBT em Patos de Minas.

Mesmo que Raphael Faria não guarde com clareza lembranças da infância, ele afirma que desde pequeno gostava de cantar e dançar nas festas familiares. A memória firme de que ele não abre mão é de que foi criado por Ana Faria Cristina, a mãe guerreira, que sozinha cuidou dele e dos outros dois irmãos.

Na adolescência, Raphael começou a cantar na igreja, onde conheceu o guitarrista Felipe Roque, que se tornaria no futuro, parceiro de longa data na carreira autoral. Ele conta que foi nessa ocasião que desenvolveu o estilo e técnicas de canto durante as vivencias musicais religiosas.

Ele passou no vestibular de Publicidade e Propaganda no Centro Universitário de Patos de Minas, mas logo transferiu o curso para Palmas no Tocantins. Foi lá que ele iniciou a carreira na música autoral, quando mostrou as duas composições que possuía a um produtor, que se interessou e o convidou para formar a banda Jackdown.

Com o grupo de indie rock formado com os músicos Diogo Soza (guitarra), Tadeu Guimarães (bateria) e Klaus Krishna (baixo), ele pode se apresentar nos principais palcos e festivais da cidade e registrar um EP com as duas canções “Help” e “Let Me Play My Guitar”.


A fase indie rock
Ao voltar para Patos de Minas, Raphael sentiu que não deveria parar e quis se descobrir como compositor. A primeira coisa que fez foi procurar Felipe Roque para iniciar às seis canções que fariam parte do EP “Demasiado”, do projeto que daria vida ao álter ego Piëit.

“De imediato o Felipe abraçou o projeto pois se identificou com o sentimentalismo e a crise existencial de minhas letras. Sou agradecido por ele ter feito parte do projeto, pois ele consegue colocar a alma em tudo que faz e tem um timbre de guitarra sem igual”, disse Raphael.

O trabalho foi produzido por Alan Girardeli do Estúdio DaumREC no ano de 2014. Com o compacto, o público patense foi apresentado ao artista, que logo estaria nos palcos de eventos culturais como a Fenapraça, Balaio de Arte e Cultura e Festival Marreco de Cultura Independente.

Aos poucos o público foi crescendo e as portas se abriram para Piëit em Patos de Minas e Uberlândia. Nesse meio tempo, ele chegou a firmar uma parceria com a cantora Lizandra, com quem dividiu os palcos e lançaram juntos o single “Tudo que já foi e não é” também produzido no Estúdio DaumREC.


Em 2016, ele iniciou as gravações do segundo EP “Azul”, que foi co-produzido por Alan Girardeli e Phil Brant, do Estúdio Avante 72. “Deixei o monocromático do Demasiado de lado e pintei com tons seremos e mesmo tristes, de azul, o novo material, que considero mais maduro que o anterior”, detalhou.

Uma história marcante para Piëit aconteceu no dia de lançamento do EP no Teatro Municipal Leão de Formosa, quando três horas antes do show, foi encaminhado de SAMU à UPA com uma forte dor no estômago. Ele chegou a ser medicado com morfina para aguentar a dor e fazer a apresentação musical.

“Lembro que dez minutos antes do show, a dor voltou. Eu saí para fora do teatro, estava chovendo, e eu não tinha certeza se iria conseguir cantar. Fiz o show inteiro sentindo dor, mas foi muito intenso. Eu jamais vou me esquecer, por aquele momento emocionou muitas pessoas”, contou.

Nessa época o público cantava as letras inteiras de Piëit durante os shows e o grupo logo começou a se apresentar em várias cidades de Minas Gerais e até em outros estados. Infelizmente, o guitarrista Felipe Roque adoeceu e teve que deixar o projeto, o que fez com que Raphael repensasse a carreira.

Eles encerraram o projeto indie rock e criaram a banda “Oceano Sou”, mais voltada para as composições e arranjos de Felipe e vastamente influenciado por bandas oitentistas e noventistas como Joy Division e Radiohead, com um pé no new wave e rock alternativo.


Migrando para a pop music
A guinada musical veio em 2017, com a decisão de cantar pop. Piëit sempre gostou do gênero e acreditou que com o crescimento da própria imagem que havia ganhado com a banda, deveria se posicionar no meio LGBT. “Minha mãe também pediu para que eu fizesse músicas agitadas e dançantes e isto pesou na escolha”, afirmou o músico.

A primeira canção “Karma” foi feita em parceria de Emil Shayeb, produtor musical de Bauru/SP e o videoclipe foi gravado com a participação de atores e dançarinos patenses pelo cineasta Sandrow Almeidan, da produtora Âncora Filmes, que já havia trabalhado como nomes como Pabllo Vittar e Francisco, El Hombre.

Mesmo com a incerteza da aceitação por estar mudando de estilo musical, a música tomou proporções gigantescas, rendendo 84 mil visualizações no Facebook, 56 mil no Youtube e 23 mil no Spotify. Um número incrivelmente maior do que ele havia obtido nas canções do antigo projeto de indie rock.

Nos lançamentos a seguir, Piëit foi ganhando destaque e chegou a ser visto por um empresário do cantor sertanejo Lucas Lucco e até mesmo pelo produtor Kondzilla. Alguns dos trabalhos dele foram lançados pela MM Music, empresa que já havia trabalho artistas do sertanejo como Thiago Brava e Nayara Azevedo.

Com o pop, o artista gravou músicas com a participação das cantoras Andressa Munizo, Flaviany Matos, Luciana Pires, dentre outras. As canções “Quicando” e “Pista” chegaram a figurar na playlist nacional “Lacradorxs” do Spotiy, com mais de 177 mil seguidores.

A nova fase de Piëit fez com o artista passasse a gerenciar festas voltadas ao público LGBT no extinto Sweet Home Rock Bar, que com a mudança do público, deixou de ser um bar rock e tornou-se um pub LGBT. Com o encerramento do bar, Piëit passou a organizar festas independentes pela Frida Produções.

No ano de 2019, a Queen Lounge foi inaugurada pelo casal Iuri Nunes e Eduardo Almeiba e Raphael Piëit foi convidado a se tornar DJ residente da casa noturna voltada ao público LGBT de Patos de Minas, onde trabalhou com produção artística até o começo de 2020.


Novas mudanças e o futuro da carreira
A transição musical de Piëit sofreu novas mudanças após o EP de quatro músicas “Purpurina”. A faixa título causou polêmica, pois o artista conta que tentou se matar quando frequentava a igreja por não ter sido apoiado durante a adolescência quando se descobria homossexual.

A sonoridade das canções de “Purpurina” é menos vibrante do que as primeiras faixas da fase pop do artista, porém são mais sofisticadas e trazem mensagens positivas, como se ele estivesse mesclando tudo que aprendeu no indie rock com o que estava vivenciando na pop music.

Piëit se prepara para novamente mudar de sonoridade e partir para o soft rock e MPB. Ele iniciou a nova fase com o vídeo de "Paredes" feito pelo projeto WhoSession. Assim que a pandemia passar, o cantor também pretende reativar o projeto “Oceano Sou”, que já dispõe de várias canções inéditas que serão gravadas pelo produtor musical Phil Brant.

“Sinto que preciso passar por dores e desafios para descobrir coisas novas e passa-las pra frente por meio da música. É como se eu tivesse uma missão. Sempre dizem que eu devo sair da cidade pra crescer musicalmente, mas sinto que tenho que conquistar as coisas daqui. Sou apenas um patense sonhador que ama cantar”, concluiu.

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