Dia do Orgulho Lésbico: 19 de agosto

Por José Eduardo de Oliveira

Símbolo do orgulho lésbico - Fonte: portugalLGBT

“Não posso simplesmente ser uma pessoa negra e não ser também mulher, assim como não posso ser mulher sem ser lésbica.” Audre Lorde, Sou sua irmã.

“...essa minha natureza esquisita...” αα

Desde 2003, o Dia Nacional do Orgulho Lésbico, é comemorado no dia 19 de agosto em homenagem a Rosely Roth [1959-1990].

Neste dia no Ferro's Bar, que era localizado na Rua Martinho Prado, 119, no Bairro Bela Vista em São Paulo, antigo “Bixiga”, aconteceu uma histórica manifestação, ou melhor, um ato político, organizado pelo GALF [Grupo de Ação Lésbica Feminista] e coordenado por Rosely Roth.

Apesar de ficar conhecido como o “pequeno Stonewall brasileiro”, alusão àquela rebelião que aconteceu no bar Stonewall, em Nova Iorque no dia 28 de junho de 1969 e que se tornou uma revolução nas questões LGBT´s americanas e mundiais, inclusive no Brasil, o que aconteceu no Ferro's não nasceu de forma espontânea como em Stonewall. [ver Stonewall: https://www.jornaldepatos.com.br/2020/06/stonewall-28-de-junho-de-1969-o-orgulho.html]

Claro, que após Stonewall, o movimento LGBT mundial nunca mais foi o mesmo e no Brasil os grupos começaram também se organizar, mesmo que num ritmo mais lento e cauteloso, não podemos nos esquecer de que estávamos em plena Ditadura Militar [1964-1985].

Assim, gays e lésbicas principalmente, passaram promover Congressos e criaram também uma imprensa específica. Os gays, em fins dos anos 70 criaram o jornal o Lampião da Esquina, e as lésbicas integrantes do GALF que surgiu em 1979, o CHANACOMCHANA editado desde 1981, que em uma de suas chamadas proclamou; “Nosso principal objetivo, com o CHANACOMCHANA, é quebrar o muro de preconceitos que envolve e isola as mulheres lésbicas, criando uma rede de contatos, informações e apoio tanto no Brasil quanto no exterior”.

CHANACOMCHANA, Edição 1985
Reprodução

Entretanto, como aconteceu às vésperas do evento do Bar Stonewall, a repressão, os maus tratos, prisões e todo tipo de abuso dos policiais contra os LGBT´s, principalmente contra as lésbicas não tinha limites. Era a “operação-sapatão”.

E para ficar especificamente com a questão das lésbicas e os antecedentes do dia 19 de agosto no Ferro's Bar, um dos mais conhecidos bares da noite paulistana onde as lésbicas frequentavam e o estabelecimento tinha se tornado uma referencia para o seus encontros e namoros, inclusive ponto de confraternização e debates, sobretudo em torno do jornal CHANACOMCHANA. No entanto talvez forçado pela onda repressiva daquele momento, no dia 23 de julho o dono do bar, proibiu a venda do jornal. O que foi considerado uma provocação já que praticamente quem “bancava” o bar eram as lésbicas que varavam as madrugadas ali.

Então no dia 19 de agosto de 1983, Rosely Roth, o GALF, as lésbicas, gays, políticos, a grande imprensa e representantes dos direitos humanos invadiram o estabelecimento e promoveram discursos, palavras de ordem causando um enorme tumulto tendo inclusive sendo solicitada a presença da polícia.

Diante dos fatos, o dono do estabelecimento voltou atrás em sua decisão, que, aliás, repercutiu em todo o País e ficou doravante como um ponto de referência vitorioso para as lutas e reivindicações do movimento lésbico que estava neste momento começando uma nova etapa que com estes eventos se fortaleceram e seguiram em frente com dignidade e visibilidade.

O segurança tenta barrar a entrada das lésbicas e Rosely Roth discursa 

Rosely continua discursando e vendendo o CHANACOMCHANA – 19.08 – Foto Ovídio Vieira - https://www.youtube.com/watch?v=D3kkBUEuJv0&t=24s

Ferro's Bar 1983 e hoje

Depois desse marco, vários jornais foram fundados, além de inúmeros Grupos de discussão de trabalhos e congressos, além disso, foram publicados inúmeros livros. E um dos mais importantes desdobramentos foi a criação do SENALE – Seminário Nacional de Lésbicas, inclusive com a união das lutas não só das lésbicas, mas também das bissexuais. E em agosto de 1996, foi realizado no Rio de Janeiro, o I SENALE, onde ficou deliberado pelo coletivo que o dia 29 de agosto, quando deram inícios aos trabalhos, doravante seria o Dia Nacional da Visibilidade Lésbica.

E hoje, 51 anos depois de Stonewall e 37 anos depois de Ferro's Bar?

As lésbicas, bissexuais mais céticas, pessimistas e lutando para que tudo se resolva rapidamente, acham que poucas coisas mudaram e tudo que enxergam é o patriarcalismo cada vez mais chauvinista, a polícia e os políticos, sobretudo o governo atual cada vez mais truculento, e denunciando o crescimento avassalador da lesbofobia, homofobia, transfobia, misoginia e do racismo. Pode ser que em muitos aspectos, sim.

Mas houve avanços, mas lamentavelmente apenas nas questões legais. Pois as mudanças nas mentalidades, nos costumes, sobretudo as que ameaçam as velhas sociedades heteronormativas e binárias, demoram. E como demoram.

O que foi mudado, ou melhor, conquistado inclusive com sangue e muitas vidas saudáveis, não é pouca coisa.

Por exemplo, aqui no Brasil, Conselho Federal de Medicina retira a homossexualidade de sua lista de doenças (1985); A OMS (Organização Mundial da Saúde) retira a homossexualidade de sua lista de transtornos mentais (1990); No Piauí, Kátia Tapeti é eleita a primeira vereadora trans na história da política brasileira (1990); As primeiras Paradas do Orgulho LGBT são realizadas em Curitiba e no Rio (1995); A cidade de São Paulo sedia sua primeira Parada LGBT. Em 2006, a passeata paulistana entra para o Guinness Book como o maior evento do gênero (1997); O governo de São Paulo promulga a Lei 10.948 que penaliza práticas discriminatórias em razão da orientação sexual e identidade de gênero (2001); O processo de redesignação sexual, a chamada cirurgia de “mudança de sexo” do fenótipo masculino para o feminino é autorizada pelo Conselho Federal de Medicina. Em 2008, passa a ser oferecida pelo SUS (Sistema Único de Saúde) (2002); STF (Supremo Tribunal Federal) reconhece a união homoafetiva, um marco na luta pelos direitos LGBT, e várias uniões já foram realizadas (2011), e me lembrei de uma - se não foi a primeira foi talvez a mais célebre -, o casamento da cantora Daniela Mercury com a jornalista Malu Verçosa em dezembro de 2013; STF decide que transexuais e transgêneros podem mudar seus nomes de registro civil sem necessidade de cirurgia (2018); STF enquadra a homofobia e a transfobia na lei de crimes de racismo até que o Congresso crie legislação própria sobre o tema (2019); STF declara inconstitucionais as normas que proíbem gays de doar sangue (2020). (Dhiego Maia - Folha de S. Paulo, 16.05.2020 - https://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2020/05/ha-30-anos-oms-tirou-homossexualidade-de-catalogo-de-disturbios.shtml).

Existem também as questões das lutas, urgentes, constantes, mas também difíceis que é também a da diversidade das lésbicas e/ou feministas. As feministas héteros não entram em acordo com as feministas lésbicas ambas brancas; que por sua vez se digladiam com as feministas e lésbicas negras; sem contar os conflitos entres as lésbicas e as bissexuais. E as antigas questões de classes, as ricas contra as pobres. E outros mais complicados, todas elas contra os gays, trans, travestis e infelizmente um etc...

E Yuval Noah Harari, alerta, para alguns fatos não de pouca importância sobre o patriarcalismo e da dominação e opressão masculina e que devem ser levados a sério quando pensar em mudanças e que algumas feministas e lésbicas querem combater: “Pelo menos desde a Revolução Agrícola, a maior das sociedades humanas têm sido sociedades patriarcais que valorizam mais os homens do que as mulheres do que as mulheres. Independentemente de como a sociedade definia ´homem´ e ´mulher´, ser homem sempre foi melhor, sociedades patriarcais educam os homens para pensar e agir de modo masculino e as mulheres para pensar e agir de modo feminino, punindo qualquer um que ouse cruzar essas fronteiras. Apesar disso, não recompensam da mesma forma aqueles que se adaptam. Qualidades consideradas masculinas são mais valorizadas do que aquelas que são consideradas qualidades femininas, e membros de uma sociedade que personificam o ideal feminino recebem menos do que aqueles que exemplificam o ideal masculino. Menos recursos são investidos na saúde e na educação das mulheres; elas têm menos oportunidades econômicas, menos poder político e menos liberdade de movimento. O gênero é uma corrida em que os corredores competem apenas pela medalha de bronze. [...] O patriarcado tem sido a norma em quase todas as sociedades agrícolas e industriais. Resistiu teimosamente a levantes políticos, revoluções sociais e transformações econômicas. [...] Como o patriarcado é tão universal, não pode ser produto de algum círculo vicioso que teve início por um acontecimento ao acaso. É particularmente digno de nota que, mesmo antes de 1492, a maior parte das sociedades tanto das Américas quanto da África e da Ásia eram patriarcais, embora não tenham tido contato durante milhares de anos. [...] Não sabemos qual é essa razão. Há muitas teorias e nenhuma delas convincente. [Sapiens - uma breve história da humanidade.] E quanto ao matriarcado que deve ter existido em algum lugar e em algum passado – infelizmente pouco ou quase nada foi estudado -, para Friedrich Engels (1820-1895), a monogamia, nasceu com o seu fim. Para Kate Millett (1934-2017) uma das poucas feministas a tocar no assunto patriarcalismo/matriarcalismo nos diz que:

“Engels, comunista, estava por temperamento pouco inclinado a aceitar o optimismo desta concepção de uma história em contínuo progresso; via numa instituição como a escravatura, por exemplo, um retrocesso em relação a uma vida comunitária primitiva mais agradável. Como revolucionário, opunha-se necessariamente às versões fatalistas e ´biológicas´ das origens das instituições humanas (como as da escola patriarcal) e preferia pensar que essas instituições eram uma criação do homem, isto é, susceptíveis de serem transformadas de modo radical, súbito e mesmo violento, na medida em que uma humanidade revolucionária e consciente o desejasse. Tendo-se apercebido da ligação entre a família patriarcal e a propriedade, Engels pensou ter encontrado as origens desta última na opressão e dependência das mulheres, que estavam na base do patriarcado. Engels foi evidentemente influenciado por Bachofen, que na sua obra Das Mutterrecht apresenta pela primeira vez a teoria matriarcal das origens. Efetivamente, o matriarcado surgiu a Engels como o primeiro comunismo, sem propriedade das pessoas e sem os problemas de propriedade de família, com essa mesma simplicidade que o socialismo procura no passado, em parte para encontrar um mundo sem a complexa e injusta política baseada na riqueza e em parte por uma nostalgia da idade do ouro.” [Política Sexual – 1969]

E acredito que o que se contraporá ao patriarcalismo, já que para algumas lésbicas ele está com os dias contados, será alguma coisa nova, diferente. Uma lesbocracia? Uma LGBTcracia?

Todos sabem que historicamente, o ser humano binário sempre existiu, mas não só ele. Não se trata aqui de dizer que os heterossexuais são normais e os homossexuais são aberrações. A questão é como isso é determinado. Ninguém conseguiu explicar ainda. As explicações são culturais e eivadas de preconceitos. Ou não? E para citar alguns exemplos, que isso aqui é apenas um artigo para um Jornal eletrônico. E vou omitir o homossexualismo masculino, ou deixar para outra hora.

Por exemplo, quando se fala em “lésbica”, e alguém quer saber a origem do termo, esse substantivo, adjetivado dezenas de vezes, imediatamente nos remetemos à poetisa, musicista e tecelã, Safo de Lesbos, cuja vida é tão cheia de mistérios quanto sua morte. Teria nascido no século VII ou VI a.C.? Sabemos apenas que sobraram fragmentos de seus escritos e vários testemunhos antigos de sua existência e desde os mais remotos escritos ela foi citada por inúmeros homens de letras do passado, só para citar alguns, Heródoto, Estrabão, Aristóteles, Platão, Pausânias, Ovídio e Horácio. Foi casada? Teve filhos? Talvez nada disso interessa neste texto, pois ela foi, é e sempre será lembrada como a ardente poeta que amava mulheres. A filha da Ilha de Lesbos, a lésbica. Então toda mulher que ama mulher é lésbica. E ninguém se acostuma com essa verdade.

Representações de Safo em várias épocas
https://miro.medium.com/max/700/1*AmqAamwJ6twuQsrDOIpzWA.png

Rafael Sanzio - Stanza della Segnatura – Parnaso (1509-10)
A sua representação de Safo – detalhe.

Nesse contexto e aproveitando um artigo anterior, para quase encerrar. Ou plagiando e maquiando eu mesmo...

Assim as pessoas lésbicas, quando descobrem que são, então têm que viver sem a aceitação das instituições, do seu trabalho, dos pais, da escola, dos parentes, vizinhos, amigos, em suma do Mundo todo. E o pior é quando não se aceitam a si mesmas mesmo diante do próprio autoconhecimento e traumáticas experiências. E por que não aceitar o que se é? É simples, as pessoas que você ama e que te amam, não te aceitam, então como te aceitar? Como se alguns seres humanos não fossem criaturas de Deus ou resultado de uma evolução biológica, mas apenas detestáveis e sujos adjetivos: sodomita, lésbica, aberração, sapatão, sapatona, sapas, fanchona, invertida, virago, paraíba, bitrem, e que além de serem consideradas como, pecadoras, anômalas e degeneradas a sua homossexualidade seria, além disso, como um distúrbio mental. As lésbicas ainda seriam estigmatizadas duplamente, pela lesbofobia e o machismo. E as mulheres negras, triplamente, pela lesbofobia, machismo e racismo. Sem contar, uma misoginia atávica patriarcal que as espreitam como um pesadelo constante, ou o que chamam terrivelmente de “estupro corretivo”. E assim as lésbicas ou bissexuais sempre foram condenadas a uma vida dupla e sem visibilidade ou então a uma existência underground em seus próprios cotidianos...as consequências disso, além do sofrimento, um profundo sofrimento, que prefiro nem descrever. Entretanto como disse uma amiga bissexual: “Que seria de nós, mulheres, sem nós mesmas.”

Uma questão simples, mas talvez a mais complicada de todas: alguma mulher pode escolher ou anular um desejo que sente por outra mulher?

Simone de Beauvoir (1908-1986), que no seu livro, O segundo sexo (1949), logo no início do segundo volume: “Ninguém nasce mulher: torna-se mulher.” Ninguém nasce lésbica, torna-se lésbica?

Neste livro, que já foi mais lido, suponho, tem um capítulo o 4 do volume 2, que não é o maior deles, intitulado, “A lésbica”, mas é seguramente o mais interessante desse interessante e importante livro de quase novecentas páginas. Começa assim:

“De bom grado imaginamos a lésbica com um chapéu de feltro, de cabelos curtos e gravata; sua virilidade seria uma anomalia traduzindo um desequilíbrio hormonal. Nada mais errôneo do que essa confusão entre a invertida e a virago. Há muitas homossexuais entre as odaliscas, as cortesãs, entre as mulheres mais deliberadamente ´femininas`; inversamente, numerosas mulheres ´masculinas´ são heterossexuais. Sexólogos e psiquiatras confirmam o que sugere a observação corrente: em sua imensa maioria, as mulheres ´malditas´ são constituídas exatamente como as outras mulheres. Nenhum ´destino anatômico´ determina sua sexualidade.” Disso ela entendia, mulher de mil amantes de ambos os sexos. Inclusive aqui no Brasil. Mas essa é outra história.

Queria apenas citar, mais alguns trechos desse capítulo, “Em verdade, a lésbica não é nem uma mulher `falhada´ nem uma mulher ´superior`.” “O que é preciso explicar na invertida não é, portanto, o aspecto positivo de sua escolha, é sua face negativa: ela não se caracteriza por seu gosto pelas mulheres e sim pela exclusividade desse gosto.” “A associação de duas mulheres, como a de um homem com uma mulher, apresenta numerosos aspectos diferentes; assenta no sentimento, no interesse ou no hábito; é conjugal ou romanesca; dá ensejo ao sadismo, ao masoquismo, à generosidade, à fidelidade, à devoção, ao capricho, ao egoísmo, à traição; há, entre as lésbicas, prostitutas, como também grandes amorosas.”

Enfim, “E se se invoca a natureza pode-se dizer que toda mulher é homossexual. A lésbica caracteriza-se, com efeito, pela recusa do macho e seu gosto pela carne feminina; mas toda adolescente receia a penetração, o domínio masculino, experimenta em relação ao homem certa repulsa; em compensação, o corpo feminino é para ela, como para o homem, um objeto de desejo.”

O Segundo Sexo, um livro inquietante
Foto: José Eduardo de Oliveira

Entretanto, outros fantasmas ainda rondam todas estas questões, talvez mais profundas, digamos assim. O ser e o estar lésbico neste mundo tão hostil com quem não se encaixa no modelo ocidental de ser humano perfeito e o seu correspondente feminino: homem, heterossexual, branco, burguês, católico, pater famílias...

Uma situação real:

Há algum tempo estava em um bar - sempre um bar? -, com uns amigos e umas amigas, uma diversidade, tinha lésbica, bissexual e héteros. De repente, dentre tantos assuntos todos descontraídos e etílicos surgiu um assunto sério. Como esses que descontraidamente tenho escrito.

- A situação dos homossexuais melhorou?

- Nunca! Ainda mais com as perspectivas desse novo presidente ou da possibilidade dele ser eleito. [Não me recordo]

- Mas as conquistas estão aí, tanto para os negros como para os LGBT's.

- Será?

Ai, uma lésbica, branca, jovem, saudável e linda, com formação em curso superior, musicista profissional, que havia pronunciado o nunca. Melancolicamente e profundamente exclamou:

- Eu não tenho coragem de sair pelas ruas de Patos de Minas de mãos dadas com outra mulher. Eu tenho medo. Então o que mudou?

Acho que foi isso que ela disse. Todos fizeram um silêncio. Que não sei quanto tempo durou. E pensei várias vezes sobre isso. Como pode alguém decidir o que o outro quer viver? E precisa viver. É vital viver. Não sei.

Gostaria de concluir com uma vigorosa escrita de uma lésbica, poeta, ensaísta e professora estadunidense, com um fragmento de um texto escrito em 1980: “A existência lésbica inclui tanto a ruptura de um tabu quanto a rejeição de um modo compulsório de vida. É também um ataque direto e indireto ao direito masculino de ter acesso às mulheres. Mas é muito mais do que isso, de fato, embora possamos começar a percebê-la como uma forma de exprimir uma recusa ao patriarcado, um ato de resistência. Ela inclui, certamente, isolamento, ódio pessoal, colapso, alcoolismo, suicídio e violência entre mulheres. Ao nosso próprio risco, romantizamos o que significa amar e agir contra a corrente sob a ameaça de pesadas penalidades. E a existência lésbica tem sido vivida (diferentemente, digamos, da existência judaica e católica) sem acesso a qualquer conhecimento de tradição, continuidade e esteio social. A destruição de registros, memória e cartas documentando as realidades da existência lésbica deve ser tomada seriamente como um meio de manter a heterossexualidade compulsória para as mulheres, afinal o que tem sido colocado à parte de nosso conhecimento é a alegria, a sensualidade, a coragem e a comunidade, bem como a culpa, a autonegação e a dor.” Adrienne Rich [1929-2012], In: Heterossexualidade compulsória e existência lésbica.

PARA SABER UM POUCO MAIS LIVROS:

ARC, Stéphanie. As lésbicas, mitos e verdades; BEAUVOIR, Simone de. A lésbica. In: O segundo sexo. 3.ed. Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira, 2016. 2 v.; ENGELS, Friedrich. A origem da família, da propriedade privada e do estado. BIMBI; Bruno. O fim do armário; lésbicas, gays, bissexuais e trans no século XXI; FALQUET, Jules-France. Lesbianismo. HIRATA, Helena et alii. Dicionário crítico do feminismo; FERNANDES, Marisa. Ações Lésbicas. In: GREEN, James N. et. al. História do movimento LGBT no Brasil; In: GREEN, James N., Além do carnaval; a homossexualidade masculina no Brasil do século XX; HARARI, Yuval Noah. Homo Deus; uma breve história de humanidade; HARARI, Yuval Noah. Sapiens; uma breve história do amanhã; LORDE, Audre. Sou sua irmã; MILLET, Kate. Política sexual; NAVARRO-SWAIN, Tania. O que é lesbianismo; OS 40 ANOS DO MOVIMENTO LGBT no Brasil; o desejo de transformação e uma revolução política por fazer. In: REVISTA CULT 235; RICH, Adrienne. Heterossexualidade compulsória e existência lésbica. In: Bagoas; estudos gays, gênero e sexualidades; SAFO de Lesbos. Hino a Afrodite e outros poemas; SANTOS, Ana Cristina Conceição. Lésbica negras [re] existindo no movimento LGBT. In: GREEN, James N. et. al. História do movimento LGBT no Brasil; SHUMAMAHER, Shuma; BRAZIL, Érico Vital (Orgs.). Dicionário mulheres do Brasil; de 1500 até a atualidade; SPENCER, Colins. Homossexualidade: uma história; TREVISAN, José Silvério. Devassos no Paraíso; a homossexualidade no Brasil, da colônia à atualidade.

NO YOUTUBE SOBRE FERRO'S BAR 

Dia do Orgulho Lésbico lembra luta por reconhecimento de direitos: https://www.youtube.com/watch?v=APECjjeMi40

19 de Agosto Dia do Orgulho das Lésbicas no Brasil:
https://www.youtube.com/watch?v=D3kkBUEuJv0&t

APENAS ALGUNS FILMES, CUJA LISTA É IMENSA

A jovem Rainha [The Girl King], Direção Mika Kaurismäki, 2015
As Revoltas de Stonewall, de Kate Davis (2010) - Youtube
Colette [Colette], Direção Wash Westmoreland, 2018
Desobediência [Disobedience], Direção Sebastian Lelio, 2017 [HBO]
Duas Rainhas [Mary Queen of Scots] Direção Josie Rourke, 2018 [digital]
Duck Butter, Direção Miguel Arteta, 2018- NETFLIX
Feministas: o que elas estavam pensando? [Feminists: What Were They Thinking?], Direção Mary Dore, 2018 [NETFLIX]
Flores raras, Direção Bruno Barreto, 2013
Marielle – o documentário
O Mau Exemplo de Cameron Post. Direção Desiree Akhavan, 2019.
Orlando, Direção Sally Potter, 1992
Procura-se Amy [Chasing Amy], Direção Kevin Smith, 1997.
Retrato de uma jovem em chamas [Portrait de la Jeune Fille en Feu], Direção Céline Sciamma, 2019
Um belo verão. Direção Catherine Corsini, 2015
Violette [Violette.], Direção Martin Provost, 2013.

José Eduardo de Oliveira é licenciado em História pela Universidade Federal de Ouro Preto. É autor de três livros, sendo o último "Bento Rodrigues: Trajetória e Tragédia de Um Distrito do Ouro", lançado em 2018.

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