O misticismo animal e sagrado das ilustrações de Henrique Amorim

Por Caio Machado


Henrique Alves de Amorim é um artista visual de 22 anos que encontrou na arte um refúgio para a introspecção e isolamento que viveu durante a infância. Nascido em Belo Horizonte, mudou-se criança para Patos de Minas, onde residiu até os 18 anos.

Ele tinha 11 anos de idade no ano de 2008, quando veio com os pais para a capital do milho. Cresceu ouvindo músicas com fones de ouvido e por horas se refugiava na internet buscando um lugar de identificação. Ao fim da adolescência decidiu aventurar-se nas ilustrações.

Ao completar a maioridade, mudou-se para o Rio de Janeiro e começou o curso de Psicologia da UFRRJ, mas regressou para a capital mineira, transferindo a graduação para a PUC. Atualmente, ele divide o tempo dos estudos com os desenhos e pinturas.

Leia a seguir, a íntegra da entrevista concedida ao Jornal de Patos via WhatsApp:

Jornal de Patos: Seu interesse pela arte surgiu ainda na infância?
Henrique Amorim: Sim! O primeiro contato com a arte que me marcou muito foi quando eu era criança. Eu devia ter uns seis anos e foi por meio de algumas viagens pro interior de MG que fiz com meu pai visitando igrejas barrocas. Nessas viagens tive um contato com a obra de Aleijadinho e fiquei tão maravilhado com tudo que vi que durante um tempo queria muito ser padre! Não por vocação religiosa ou por interesse em praticar o catolicismo, mas sim por ficar tão deslumbrado com a arquitetura e esculturas barrocas que temos aqui em nosso estado, que me faziam querer me conectar com aquilo de alguma maneira.
Depois dessa experiência com igrejas barrocas, consigo lembrar que durante minha formação escolar eu era um aluno muito distraído e ficava perdido admirando as pinturas e desenhos que tinham nos livros didáticos. Após isso, comecei a me envolver com criação de arte quando saí do ensino médio. Não entendia nada sobre técnicas de desenho ou arte em geral, mas senti que precisava externalizar esses símbolos para lidar com muitas mudanças em minha vida e fui aprendendo tudo sozinho.


JP: Onde suas ilustrações já foram expostas?
HA: Aqui em Patos de Minas eu pude expor meus trabalhos no Pato Rock Festival em 2016. Foi uma experiência interessante e com muito aprendizado, em que imprimi trabalhos para expor e pude vê-los em diferentes tamanhos e materiais. Além do Pato Rock ilustrei a capa do single "Blue River" de minha amiga e cantora patense, Brenda Franco. Detestei o desenho que fiz pra ela de início, mas depois de alguns meses comecei a gostar muito do trabalho que fiz. Isso é mais evidência pessoal que o processo artístico não é nada linear. A sensação de ver um desenho que originalmente estava materializado de uma forma mudar em tamanho, mídia e contexto me faz compreender a potência de nossas criações artísticas.


JP: Fale um pouco das experiências vividas com a ilustração.
HA: Sou autodidata e muito do que construo e aprendo agora vem por estudos de rascunhos e desenhos de antigos mestres encontrados na História da Arte oriental e ocidental. Além do mundo antigo, aprendo muito com artistas (principalmente brasileiros) que colocam seus trabalhos em redes sociais, e a partir dali ocorrem muitas trocas. Os temas que mais trago nos meus desenhos e pinturas envolvem um simbolismo religioso/místico acompanhado de animais, pessoas e a natureza, e tento juntar esses elementos criando uma atmosfera sagrada. Ainda tenho um longo caminho pela frente no entendimento do meu processo e de arte em geral e venho percebendo muitas situações que me fazem despertar e caminhar para certas direções.
Um desses despertares foi uma visita à uma exposição de gravuras do Francisco de Goya (artista espanhol que viveu no século 17 e 18) quando morava no Rio de Janeiro em 2018. Ali senti minha técnica com nanquim acolhida nos traços e pude entender que poderia crescer muito estudando os mestres antigos. Essa compreensão foi como um renascer e encontrei direções a partir desse momento que comecei a me interessar por História da Arte. Comecei aos poucos trabalhando nesse novo entendimento desenhando vacas e outros animais num caderno de desenhos, que era um espaço livre para criação e experimentações.
Com o passar do tempo fui entendendo que o desenho é algo que pode ser estudado a partir de referências da natureza e da História e que os ditos ‘’mestres’’ copiaram e aprenderam com outros antecessores a eles. Percebo que com o desenvolvimento do meu traço e processo artístico eu consegui uma ferramenta para materializar ideias e assim posso ‘’parir’’ criaturas, paisagens, símbolos e até mundos, como tenho aprendido numa abordagem chamada ‘’Realismo Imaginativo’’ desenvolvida pelo artista James Gurney, ilustrador estadunidense. Com essas ferramentas eu pude desenvolver um olhar acolhedor e deslumbrado para diferentes tipos de artes e ultimamente tenho me interessado muito por cinema e artes plásticas contemporâneas.


JP: Quais são os artistas que influenciam sua obra?
HA: Muitos artistas me inspiram e me influenciam. Acaba que é difícil responder brevemente porque nossas necessidades e ferramentas vão mudando muito, assim como as influências. Muitos vão ter uma marca muito importante e posso dizer que na minha técnica de desenho fui muito influenciado pelas gravuras do Francisco de Goya, Albrecht Durer e os desenhos de John Singer Sargent, Alphonse Mucha, Karl Kopinsky e Van Gogh. Gosto muito dos trabalhos com linha e hachura deles e a forma como encontram soluções para representar animais e pessoas. Xilogravuras japonesas dos artistas Hiroshige e Hokusai me inspiram muito no uso de cor e na composição. Antigas ilustrações alquímicas e pinturas egípcias alimentam muito a simbologia do meu trabalho. James Gurney e seus livros sobre realismo imaginativo me mostraram muitos caminhos de estudo. Por fim, fora das artes plásticas, seguir biólogos em redes sociais e assistir documentários de vida animal do David Attenborough me fizeram desenvolver uma sensibilidade para enxergar beleza em muitas coisas da natureza. Ainda tenho muito a aprender com o mundo da arte e com os artistas que citei. Sinto que estou no começo de uma jornada muito longa.


JP: Como a pandemia do novo Coronavírus afetou seu processo criativo?
HA: Uma coisa muito importante que aconteceu na pandemia foi quando decidi retomar minhas postagens nas redes sociais que eu destinava pra minha arte. Pude conhecer muitos artistas independentes brasileiros e conhecer outros processos criativos e possibilidades de fazer arte, têm sido muito importante para mim. Além disso, pude experimentar muito com meus desenhos e fui aprendendo a respeitar melhor meu tempo e me cobrar menos.


Acompanhe o trabalho artístico de Henrique Alves de Amorim pelo perfil do Instagram https://www.instagram.com/hamorimes/.

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