Você gosta de árvores?

Por Vitor Salomão

Plantio de árvores na Praça Salomão Alaor Franco

Há alguns anos tive a oportunidade de reformar a praça que leva o nome do meu avô. A praça fica em frente a uma creche municipal e costuma ser o local de brincadeira da criançada. Me lembro que havia uma grande lixeira no meio da praça que era utilizada por várias das casas do entorno para o despejo de seus lixos diários e posterior recolhimento pela Prefeitura. A molecada brincava, literalmente, no meio do papel higiênico. Conseguimos passar essa lixeira para a calçada do outro lado da praça, a prefeitura reinstalou a iluminação que já não existia, alguns dos bancos que estavam quebrados foram reparados e pintamos os pneus que ornavam os canteiros da praça. O mais surpreendente é que para muitos vizinhos, tudo isso pouco pareceu importar, o que mais chamou a atenção da vizinhança quando os consultei sobre a revitalização da pracinha foram as árvores. Isso mesmo, não havia nenhuma árvore na praça e o replantio que seria feito com a participação das crianças da creche gerou a indignação por parte de alguns vizinhos. Segundo eles, as árvores sujam o chão e atraem bandidos que as utilizam como esconderijos.

Nesses dias de calor extremo, atraso das chuvas e em época de queimadas e desmatamento recordes na Amazônia, no Pantanal e no cerrado, essa história me veio à memória. Se nós desprezamos o verde das nossas praças e calçadas e desconhecemos o quão importante as árvores são para o desenvolvimento das cidades, fico imaginando, qual a nossa conexão com o “mato” que está distante e como isso nos afeta?

Para além da omissão de nossos representantes eleitos quanto à importância da arborização urbana, parece que nós cidadãos chancelamos essa falta de zelo relegando esse tema para um segundo escalão de políticas públicas, ou seja, se não der para fazer, não tem problema. Acontece que nossas cidades precisam de políticas integradas, transversais, que dialoguem entre si. Num primeiro momento é natural pensar que há temas que são mais relevantes que outros, a saúde, a educação, por exemplo. Mas insisto em trazer aqui uma reflexão, talvez para tentar convencer os mais céticos, os que não gostam das árvores, de que vale a pena algumas folhas “sujando” o chão.

Por exemplo, nesse calorão que anda fazendo, quem conseguiria convencer um possuidor de um automóvel com ar-condicionado a realizar um trajeto a pé, por mais curto que seja, sendo que ele todo será feito a sol a pino, sem nenhuma sombra. E se o trajeto fosse todo sombreado? Talvez fosse mais fácil convencer. Olha no que isso pode implicar, menos automóveis nas ruas significa menos poluição, menos acidentes, trânsito fluido, logo, mais pessoas caminhando, maior convívio social, menor sedentarismo, maior movimento no comércio local e maior sensação de segurança. Tá vendo, a danada daquela árvore pode ter tudo a ver com o trânsito e com a saúde da cidade, afinal, pessoas que caminham costumam frequentar menos as filas dos hospitais. Para não parecer que eu tirei isso da minha cabeça, quem diz isso são os urbanistas, e quem demonstra isso são as boas experiências, ou seja, as cidades que buscam seu desenvolvimento urbano de forma integral (Copenhague, Medellín), abordando o progresso da cidade desde uma visão holística, na qual todos os âmbitos da urbe são importantes para a construção de uma cidade mais justa, igualitária, participativa e transparente.

Voltando à pergunta do início do texto, aproveito para fazer uma outra reflexão. Se passamos a compreender que as cidades possuem dinâmicas complexas e como simples árvores podem influenciar a qualidade de vida de seus habitantes, se levarmos essa análise para outro espectro, para outra escala, quando modificamos nossos biomas, desmatamos de forma desordenada, poluímos nossas águas, essas transformações do mundo natural tem o poder de causar desequilíbrios imensos. Seguindo a mesma lógica, sem florestas, temos mudança no ciclo das águas, interferência na agricultura, aumento do preços dos alimentos e por aí vai. Se não buscamos entender a importância do que nos está próximo, do que é local, como esperar uma atitude diferente diante daquilo que parece estar longe (mas não está)? Afinal, está tudo integrado.

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6 Comentários

  1. Afinal Vitor você conseguiu plantar as árvores?

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    1. Sim, plantamos umas 10 mudas na época. Da última vez que vi, 2 árvores vingaram e estão grandinhas.

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  2. Vitor como está hoje a praça que vc fez a primeira tentativa de mudança ? No olhar das crianças e vizinhanças????

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    1. Acho que está melhor do que estava, mas confesso que já tem um tempo que não dou uma conferida. Seria uma boa voltar a consultar a vizinhança.

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