Isto não é um poema

Colagem digital e poema por Igo Maia


Um poema não pode ser escrito!
Quem teria tamanha leveza no punho para serenar palavras de dores?
Quem teria a voracidade nos dedos para sangrar uma folha em amor?
Um poema não pode ser recitado!
Onde mora tais cordas percussivas, que no falar celebra o tempo e a glória do silencio de suas pausas?
Como um mortal guardaria tantas constelações no céu de sua boca?
Tão pouco cantado o poema pode ser.
Seria necessário um milhão de pássaros no coro e acordes palpáveis como a carne para que o tímpano paladar mastigasse a fartura de seus efeitos.
O poeta não sonha,
Ele é o próprio sonho de Deus
O poeta nada teme,
Quem poderia contra o fio de suas palavras?
O poeta não sabe a não ser de seus olhos,
Nada fala a não ser de sentidos.
O poeta acorda cedo, quebra o poema numa frigideira e deixa fritar,
Depois derrama o poema numa porcelana florida, a mais bonita que o armário guardar.
O poeta encara o poema no olho amarelo,
Então o põe quente na boca.
Poema gema!
Poeta geme,
Mas não engole.
Ele saboreia cada timbre e textura,
Absorve apenas a alma do poema,
O ideal do real.
E quando a pele ganha cor e os olhos ganham vida,
O poeta cospe seco no lixo um poema sobre o seu poetizar.
Em seguida o poeta se banha de poesia,
Depois veste poesia pra ir trabalhar.
No caminho o poeta cumprimenta poemas na rua.
Passa um carro na enxurrada e espirra muitos poemas na sua calça.
Logo a frente, um pequeno poema brinca com um balão que sua mãe poesia o deste por se comportar.
O poeta ri com os olhos.
Ou melhor, o poeta deixa escapar um poema ótico.
E os poemas invisíveis?
Ele os sente balançar seus cabelos,
Trilhasonorar seus caminhos.
O poema entra pelos poros, pelas ventas, pelos pelos.
Os olhos veem as cores e profundidades dos poemas,
Mas só a alma pode senti-los em essência.
O poeta não tem início,
O poema não tem fim...


Natural de Vazante, Igo Maia residente em Patos de Minas desde 2019, é músico e compositor e trata a poesia como uma religião.

🦆

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8 Comentários

  1. Parabéns,orgulho para nossa região.

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  2. Este comentário foi removido pelo autor.

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  3. Otimo,o jornalismo de Patos,não pode gicar estagnado,devepublicar as maravilhas dos artistas Patenses
    Concordo com tudo que foi dito.

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  4. ... quando menina, encarapitada num telhadinho onde uma trepadeira também escalara vi, maravilhada, uma flor desdobrar lentamente suas pétalas e se doar ao sol. Lembrei disso ao ler seu poema. Que calorzinho bom estou sentindo!

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