Liberdade

Texto e imagem por Renata Estevam de Brito

Esse é um tema que já foi estudado por inúmeros pensadores ao longo das eras. Há quem especule que a liberdade, de fato, não existe. E, na verdade, sentimos isso na pele todo santo dia. Nossas escolhas são moldadas pela sociedade que nos embalou. Nossos gostos e sonhos são forjados por tudo aquilo que, ao longo da vida, estimulou nosso “superestimado” cérebro.

Mas a realidade é que necessitamos tanto do sentimento de autenticidade quanto do de pertencimento. O que prova que, talvez, sejamos mais sentimento do que razão.

Em meio a essa busca por liberdade — entrelaçada com vínculos humanos e com a sensação de individualidade —, nos deparamos com associações de indivíduos, de todos os gêneros, que curtem andar de moto. As outrora chamadas motocas, hoje referidas simplesmente como motos — embora ainda haja quem as nomeie com nomes próprios, muitas vezes femininos —, tornaram-se símbolo da utópica e inebriante liberdade, fazendo com que pessoas que nunca se viram antes se unam em torno de um sonho.

Eu mesma estou “nesse barco”, tentando tapar o eterno buraco da alma. Por isso, há algum tempo, escrevi esse pequeno verso para minhas amigas motociclistas, as Foxes Ladies. Ou motoqueiras, para você que, como eu, não se apega aos tabus linguísticos da modernidade (ora, motoqueira tem um som que remete às nossas origens mineiras, com palavras criadas por meio de sufixos corriqueiros e simples).

Enfim, segue o texto:


Cada curva é um grito, cada RPM é um sonho.

Com o sol na pele, a moto é meu trono.

Com meus cabelos ao vento, o capacete é a coroa.

E eu só posso dizer: estou numa boa.

Minha vida é meu reino, nela mando sem receio.

Enquanto a brisa me sussurra os segredos da aventura,

meu coração pulsa o cheiro da ternura.

Liberdade em alta, segurança e postura:

minhas madeixas dançam como chamas que segredos murmuram.

É o som do motor ecoando em vigor.

E, assim, deixo para trás o medo e a dor.

Sinto, então, todo o peso do amor

por este mundo que é meu palco.

Sinto-me tão feliz, pois nele sou a atriz.

Faço, com minha moto, um espetáculo de sentimento e fulgor.

Você pode achar estranho, dizer que tudo isso é exagero.

Que eu devia resguardar meus anseios e ficar em casa,

pois deveria ter medo.

Mas o que não cabe é o seu preconceito,

sua antiquada moral — que é, na verdade, pré-conceito.

Na possibilidade e na estrada, eu me encontro.

Se a vida é eterna mudança,

então é com o vento que faço minha dança.

Cabelos ao vento, sem dor, sem prisão,

só a essência humana: liberdade e paixão.


Renata Estevam de Brito é professora, poetisa e ativista cultural em Patos de Minas. Integra o movimento Slam Phatos, o ponto de cultura Zagaia, o grupo de teatro Vitruviano e ajudou a organizar o livro Phatos Poéticos em 2024.

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