Salve-se quem puder

Por Mércia Marques

Imagem: Rafaela Biazi

Onde está o povo heróico

de braços fortes

de sonhos intensos

para salvar do fogo, o verde louro vernante?

A água está evaporando por entre

as labaredas sedentas

O céu já não tem o azul de antes

O ar está tomado de fuligem

A temperatura está causticante.

A pátria não está sendo amada

estão subtraindo as florestas

incinerando o cerrado

estão devorando a fauna

cuspindo no próprio prato.

Os lindos campos estão cobertos de cinzas

Já nem falam da caatinga, menos ainda das flores

A honra está sendo vendida,

a nossa vida cada dia a mais, menos amores.

Estamos caminhando pro abismo

A semente perece no covacho

A tecnologia não pode trazer de volta as espécies extintas

O futuro perde pro passado de cara limpa!

São promessas não cumpridas

vista grossa ao que convém

é corrupção por todos os lados

discursos ensaiados

e ninguém confia em ninguém.

O berço esplêndido está virando fumaça

O solo está flamispirante

A mãe terra está ferida

O filho está fugindo à luta

Não será tranquilo o despertar do gigante.

A avareza é mesmo colossal

Salve, salve quem puder.

É o juízo final.

Acredita em outra se também lhe convier.

Mércia Marques é um escritora nascida em março de 1970. Natural de Patos de Minas, viveu toda sua infância na fazenda, de onde tira - até hoje - inspiração para suas criações. Publicou seu primeiro livro intitulado “Rimando com a emoção” em 2009. Depois da estreia, decidiu respirar novos ares e mudou-se para a Bélgica, onde viveu durante alguns anos. A experiência acabou sendo um divisor de águas em sua vida. Ao retornar para o Brasil experimentou um breve hiato e então voltou a dedicar-se novamente à escrita, dividindo sua atenção artística entre poesias e romances.

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